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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.59 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2007

     

     

     

    COMPORTAMENTO

    Infância próxima à natureza estimula preocupação ambiental na vida adulta

     

    O contato direto com a natureza na infância tende a surtir efeitos positivos e duradouros, que se refletem nas atitudes ou no comportamento dos adultos que as crianças vão se tornar. Foi o que descobriram duas pesquisadoras da Universidade de Cornell: Nancy Wells, do Departamento de Design e Análise Ambiental, e Kristi S. Lekies, do Departamento de Desenvolvimento Humano. O trabalho foi publicado na revista Children, Youth and Environments, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.

    Por meio de entrevistas com 2 mil pessoas com idades variando dos 18 aos 90 anos, as pesquisadoras testaram a possível relação entre o grau de envolvimento infantil com a natureza e as atitudes e os comportamentos em questões ambientais na idade adulta. Duas grandes questões nortearam a pesquisa: "Como pode a interação na infância com o ambiente natural começar a moldar uma trajetória de vida que inclua respeito às preocupações ambientais e ações ecológicas? Que atividades ou eventos específicos na juventude podem iniciar uma pessoa numa trajetória de vida rumo a um comprometimento com comportamentos e atitudes ambientalmente conscientes?".

     

     

    Nancy e Kristi obtiveram como resposta que acampamentos, brincadeiras no mato, caça e pesca figuram entre as principais atividades a fundar os alicerces de um futuro ambientalista. Mas também serve colher flores, plantar árvores ou sementes e cuidar de plantas em casa, ou seja, manter contato com a "natureza domesticada". Nancy adverte, porém, que não basta expor as crianças à interação com a natureza. "Penso que a exposição ao ambiente natural é necessária ao longo de toda a vida. Ainda que as experiências da infância com a natureza selvagem pareçam particularmente potentes no desenvolvimento do ambientalismo, qualquer contato com a natureza é importante – até a que se encontra no próprio quintal ou em revistas, programas de televisão e pôsteres", diz.

    No entanto, a pesquisadora destaca que não se deve confundir ambientalismo com biofilia, uma tendência que, segundo alguns cientistas, os seres humanos carregam consigo inevitavelmente: a de gostar de bichos e plantas. Seus estudos se inserem numa linha de pesquisa que visa a compreensão da forma como as trajetórias de vida das pessoas se constroem — que eventos, atividades e experiências contribuem para as atitudes que tomam em relação à saúde, à pobreza, à carreira, ao ambiente? Não buscam, portanto, o "inato", se ele existe, e sim o que há de "aprendido" na relação do homem com a natureza: uma sensibilidade e um compromisso que se semeiam e desenvolvem em função de experiências adquiridas.

    BRINCADEIRAS AO AR LIVRE Em estudos anteriores, Nancy Wells já havia examinado outras dimensões da influência da natureza sobre crianças. Por exemplo, a relação da proximidade com o "verde" com o desenvolvimento cognitivo e a capacidade de crianças lidarem com o estresse e as adversidades. Estudos da mesma linha, realizados a partir da década de 1980 por pesquisadores de diversas áreas, têm posto em evidência a importância de brincar fora de casa, participar de programas de educação ambiental e ter contato direto com a natureza para o estabelecimento de bons hábitos de saúde e sociabilidade, além da consciência ambiental.

     

    Flávia Natércia