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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.59 n.2 São Paulo abr./jun. 2007

     

     

     

    EDUCAÇÃO

    Racismo influencia desempenho escolar

     

    As escolas brasileiras não estão atentas para as práticas sutis de racismo existentes entre alunos e professores, prejudicando, assim, a mobilidade educacional e social de crianças e jovens negros. Esse é o principal argumento da pesquisa "Relações raciais na escola: reprodução de desigualdades em nome da igualdade", resultado de um convênio entre o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação, e a Unesco. Coordenado pelas sociólogas Mary Garcia Castro e Miriam Abramovay, a pesquisa combina técnicas qualitativas – como entrevistas, grupos focais e observações em sala de aula – com análises quantitativas tais como os dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Realizado nas cidades de Belém, Salvador, São Paulo, Porto Alegre e no Distrito Federal, o estudo é abrangente e focaliza crianças, alunos das últimas séries do ensino fundamental e do ensino médio, assim como pais, professores, diretores e funcionários de 25 escolas particulares e públicas.

    Existe um desempenho escolar desigual entre alunos brancos e negros, que é maior entre ricos do que entre pobres, aponta a pesquisa. Sendo assim, mais do que às diferenças socioeconômicas, o baixo desempenho dos alunos negros se deve às práticas discriminatórias na escola, muitas vezes veladas. Essas conclusões foram obtidas a partir da análise das provas do Saeb de 2003 aplicadas, pelo Ministério da Educação, junto aos alunos da 4ª e 8ª série do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio.

    FATOR SOCIAL Nos estratos sociais mais altos, os índices de desempenho dos alunos são menos críticos, o que reforçaria a tese de que aqueles que possuem um desempenho escolar mais baixo são os alunos mais pobres. Mas quando se cruzam os dados socioeconômicos com a variável raça/cor dos alunos, a conclusão é que "a pobreza iguala por baixo", ou seja, brancos e negros possuem as notas mais baixas, estando mais próximos. Já os alunos brancos e negros de estrato socioeconômico superior, ainda que apresentem as notas mais altas, se distanciam mais entre si: os alunos negros apresentam notas bem mais baixas do que os alunos brancos da mesma classe social.

    Os dados do Saeb foram comparados com as percepções de pais, professores, diretores e alunos. Segundo as pesquisadoras, adveio daí uma surpresa: a maioria dos entrevistados tende a negar que há diferenças no desempenho escolar entre alunos brancos e negros. Para as pesquisadoras, essa negação está relacionada a uma "ideologia da igualdade na escola" que a exime de responsabilidade sobre as diferenças de desempenho escolar, atribuindo-as ao empenho pessoal dos próprios alunos, ou às suas famílias.

    Nesse sentido, professores, pais e alunos tendem a negar que existam práticas racistas nas escolas. Xingamentos e apelidos de cunho racista são justificados como "brincadeiras". Professores silenciam e se omitem, preferindo não tratar do assunto em sala de aula para "não levantar o problema" ou mesmo deixando de intervir nos casos de discriminação racial. "Todos tendem a se declarar contra racismo, o que de alguma forma colabora para que não se discutam formas de identificar sutis discriminações, ou a reconhecer que os apelidos de teor racista, mesmo que aceitos pelos vitimizados, doem e causam sequelas identitárias", diz a pesquisa.

    A questão racial tende, assim, a ser tratada pelas escolas de modo circunstancial – como o Dia da Consciência Negra. Para as autoras, é fundamental instituir-se novas práticas pedagógicas, que contemplem as relações entre todos os alunos, brancos e negros, no ambiente escolar.

     

    Carolina Cantarino