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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.59 n.2 São Paulo abr./jun. 2007

     

     

     

    NORTE/NORDESTE

    Novos pólos de pesquisa buscam descentralizar a produção científica

     

    O projeto é tão ambicioso quanto o talento de seus idealizadores Miguel Nicolelis, Sidarta Ribeiro e Claudio Mello: construir doze centros de pesquisa de ponta no Norte e Nordeste do Brasil. Numa parceria de cientista com doadores privados, o primeiro, já funciona na capital do Rio Grande do Norte. Trata-se do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) que, em breve, será transferido para sede própria que está sendo construída na cidade de Macaíba, com 60 mil habitantes, 20 quilômetros distante da capital.

    A maior parte dos recursos para construção do Instituto veio da iniciativa privada — o nome do centro de pesquisas homenageia seu patrono e principal apoiador — mas houve também investimento da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e dos ministérios da Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia. Os valores já ultrapassam os US$ 25 milhões. Miguel Nicolelis, neurobiólogo formado na USP, que foi apontado como um dos 20 pesquisadores mais importantes em atividade pela revista Scientific American, explica que 80% dos recursos vieram do governo norte-americano, representado por diferentes instituições.

     

     

    O IINN-ELS, que emprega atualmente 12 cientistas, integra uma rede mundial de estudos sobre o cérebro. Para o atual diretor do Centro de Pesquisas de Natal, o neurobiólogo Sidarta Ribeiro, é de total importância ter um centro internacional de pesquisas fora do eixo Sul-Sudeste. "Nos Estados Unidos ou na Europa você encontra bons centros de pesquisa em qualquer lugar. É um sistema distribuído. Além disso os pesquisadores têm muita mobilidade e intercâmbio, o que gera riqueza cultural e científica. No Brasil a desigualdade social se reflete em um desenvolvimento científico desigual, o que causa concentração de pesquisas e de investimentos. A conseqüência é o que eu chamo de provincianismo científico", diz ele. A articulação social é outro ponto que chama a atenção no projeto do Instituto.

    PATROCÍNIOS Além do centro de pesquisas propriamente dito, no canteiro de obras que já movimenta a pequena Macaíba, estão sendo erguidos também um centro de saúde materno-infantil e o centro de educação comunitária.

    O Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, será responsável pelo patrocínio e gestão do um centro de saúde que abrigará um serviço de gravidez de alto risco, um programa de prevenção de câncer de mama, inédito na região, e um centro de neuropediatria. O projeto de educação científica deve beneficiar 150 crianças da rede pública. "Eles serão cientistas com o que tiveram à mão. Aprenderão biologia a partir da análise do solo do bairro onde moram para que percebam quanta vida existe em um pedaço de terra", diz Nicolelis. Para ele, o que falta é mostrar que a ciência é fruto da combinação de talento, paixão, perseverança e, sobretudo, interesse.

     

     

    EXPERIMENTOS EM ANIMAIS Em suas pesquisas, Nicolelis utiliza a atividade elétrica do cérebro que, por meio de implantes neurais, pode movimentar próteses robóticas. Os resultados positivos obtidos em macacos foram muito comemorados na comunidade científica por abrirem boas perspectivas para portadores de deficiência física. Uma das linhas de pesquisa no instituto de Natal é a biocompatibilização de eletrodos. O objetivo é evitar a inflamação na área do cérebro que fica em contato com os filamentos dos eletrodos responsáveis por mapear a atividade elétrica das células. Segundo Sidarta, experimentos em animais devem possibilitar solucionar esse problema e assim atingir condições ótimas de cirurgia para colocar implantes em seres humanos. "No modelo tradicional de pesquisa, primeiro a pessoa se torna um especialista em técnica. Acredito que seja mais importante definir uma pergunta e, a partir daí, achar uma ou mais técnicas apropriadas para solucionar o problema", acredita ele. Sono, sonhos e memória, mecanismos neurais da comunicação vocal em sagüis e doença de Parkinson são as demais áreas definidas como foco da atividade científica no Instituto.

     

    Patrícia Mariuzzo