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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.59 n.2 São Paulo abr./jun. 2007

     

     

    PAULO JOSÉ MIRANDA

     

    Ter pernas é muito bom
    pode-se ir até aos campos
    e trazer as costas carregadas de
    batatas e cebolas dos outros.
    Ter pernas é muito bom
    e ir ao lado da namorada
    para um saco de pipocas,
    escuro no cinema e depois casar
    para fazer mais pernas.
    Ter pernas é muito bom
    e correr sem precisar de falar.
    Ter pernas é muito bom
    ainda que só as uses para escrever
    e nem sequer saibas.
    Ter pernas é muito bom
    para pôr uma boca entre elas.
    Ter pernas é muito bom
    sair para ir às compras
    e trazer comida às forças para andar.
    Ter pernas é tão bom
    que a inveja inventou a guerra
    só para as cortar.
    Ter pernas é muito bom.

     

    Deitava-me cansado sobre a cama
    e o descanso vinha.
    Sentava-me com fome à mesa
    e a comida vinha.
    Esperava junto aos limoeiros
    e a rapariga vinha.
    Era o antigo império da adolescência
    e a vida vinha.

     

     

    Paulo José Miranda é poeta, escritor e dramaturgo. Licenciou-se em filosofia pela Universidade de Lisboa. É membro do Pen Club desde 1998. Publicou três livros de poesia, quatro novelas e uma peça de teatro. O seu primeiro livro de poesia venceu o Prêmio Teixeira de Pascoaes em 1997 e a sua segunda novela venceu o primeiro Prêmio José Saramago em 1999. Recebeu uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura para escrever a sua terceira novela e uma outra da Fundação do Oriente para viver três meses em Macau e escrever a sua quarta novela. Este ano irá publicar a primeira parte de um extenso estudo acerca de Fernando Pessoa, e um romance. Os poemas que aqui se publicam são inéditos, do seu próximo livro de poemas, ainda sem data de publicação.