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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.59 no.3 São Paulo July/Sept. 2007

     

     

     

     

    MAL DE PARKINSON

    Teste do olfato auxilia no diagnóstico precoce da síndrome

     

    Muito além de sentir perfumes e odores, o olfato pode ajudar, também, no diagnóstico precoce de algumas doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson. É o que afirma o primeiro artigo conclusivo sobre o assunto no país, que será publicado em setembro na revista Arquivos de Neuro-psiquiatria, da Academia Brasileira de Neurologia, assinado pelos pesquisadores Maura Aparecida Viana e Elizabeth Maria Barasnevicius Quagliato, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), da Unicamp, Samuel Simis, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), e Lucas Barasnevicius Quagliato, da PUC — campus Sorocaba.

    Aplicando um teste específico — e bastante simples — para a identificação de cheiros, os pesquisadores, que tiveram apoio do CNPq, constataram que 80% dos pacientes, com o mal de Parkinson e participantes do experimento, apresentaram dificuldades em reconhecer odores, ou mesmo anulação dessa capacidade. O resultado indica que o comprometimento do olfato, e, conseqüentemente, do paladar, é um indicativo importante para o diagnóstico precoce da doença, numa fase em que os sintomas motores típicos (como tremores, rigidez e lentidão na execução dos movimentos) ainda não se manifestaram.

    TESTE Desenvolvido pela Universidade da Pensilvânia e conhecido pela sigla TICUP, o teste consiste em uma série de 12 odores diferentes (canela, aguarrás, limão, fumaça, chocolate, rosa, solvente de tinta, banana, abacaxi, gasolina, sabonete, cebola) apresentados sob a forma de pequenas tiras (que abrigam agrupamentos de microcápsulas de uréia-formaldeído com 10 a 50 micrômetros). Distribuídas ao pé de 12 páginas, que se constituem como um pequeno livro, elas devem ser raspadas e cheiradas pelo paciente que, dentre 4 opções, assinala aquela que corresponde ao cheiro que sentiu.

    ADAPTAÇÃO AO BRASIL No experimento brasileiro, os pacientes foram orientados para que, mesmo que não sentissem qualquer cheiro, assinalassem alguma resposta. Um dos cheiros, o aguarrás, solvente muito usado na limpeza das casas nos Estados Unidos, não é familiar aos brasileiros e deverá ser substituído em estudos posteriores.

    Para a realização dos testes, foram escolhidos 50 pacientes com Parkinson, com idades entre 40 e 80 anos, e 76 pessoas sadias (que configuram o grupo de controle para a fixação de parâmetros normais), de 40 a 79 anos. A média de acertos das respostas no grupo de controle foi 9, em cada 12 cheiros. Já a média de acertos dos parkinsonianos ficou em 5,7, com uma pontuação ainda menor entre as pessoas mais idosas.

    "A perda do olfato é, em certa medida, uma das conseqüências esperadas do envelhecimento. Porém, nos portadores da doença de Parkinson, ela é mais acentuada e ocorre, em média, 7 anos antes do início dos sintomas motores", explica uma das autoras do artigo, a médica Elizabeth Quagliato. "Na doença de Parkinson, há o comprometimento do bulbo olfatório, que ocorre antes mesmo da perda neuronal da substância negra (composta de neurônios com dopamina), afetando o olfato e, secundariamente, o paladar da pessoa que, até então, não apresenta nenhum outro sintoma motor", completa. Embora o teste tenha demonstrado alta prevalência de distúrbios olfativos entre os pacientes parkinsonianos, apenas 28% dos pacientes pesquisados relataram queixas nesse sentido. Como os exames clínicos raramente avaliam tais aspectos, os pesquisadores salientam riscos que os pacientes correm, por ingerirem alimentos exageradamente salgados ou doces, deteriorados, e à inalação de substâncias tóxicas sem a devida percepção.

    No artigo, os pesquisadores apontam o teste do olfato como uma possível estratégia — simples e de baixo custo — para o diagnóstico precoce da doença de Parkinson, embora ainda não existam meios para se retardar ou impedir a progressão da doença. O olfato perdido não se recompõe com a medicação.

    O MAL DE PARKINSON A progressão da doença de Parkinson foi descrita, pela primeira vez, pelo médico alemão Heiko Braak. Após afetar o bulbo olfatório e o nervo vago, o processo degenerativo acomete a substância negra, onde 60 a 70% dos neurônios têm de estar mortos para que os sintomas motores se manifestem. A identificação precoce do mal, através do teste do olfato, associado à avaliação de outros sinais sutis, como alterações da escrita, fala, depressão, redução do balanço dos braços durante a marcha, é crucial para, futuramente, instaurar uma terapia protetora precoce, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias, enquanto a busca pela cura definitiva continua.

     

    Carolina Toneloto