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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.59 no.3 São Paulo July/Sept. 2007

     

     

     

    SEM PRECONCEITO

    Escolas inglesas mostram modelos familiares alternativos

     

    Esqueça o conto de fadas tradicional. A rainha desse reino distante que busca uma esposa para seu filho, o príncipe, não o satisfaz com suas escolhas. Quem conquista seu coração é outro jovem príncipe, com quem se casa e vive feliz para sempre. Desde setembro de 2006, são estórias como essas que crianças de 14 escolas inglesas têm lido. O projeto No outsiders foi criado por pesquisadores das universidades de Sunderland, Exeter e o Instituto de Educação da Universidade de Londres com o objetivo de ensinar diversidade sexual e estruturas familiares alternativas na escola. Se tiver sucesso, se estenderá a todas as escolas do país.

    Nesse projeto o governo britânico investiu cerca de R$ 2,4 milhões. Trata-se da primeira tentativa de introduzir livros com a temática da diversidade sexual no currículo escolar, em larga escala. Em outra publicação da lista recomendada para as escolas do projeto, intitulado Spacegirl pukes, uma garota prestes a viajar numa viagem espacial fica doente. Quem cuida dela são duas mães. No And Tango makes three, dois pinguins machos vivem no zoológico de Nova York; ao perceber que eles estão apaixonados, o cuidador dos animais dá um ovo. Assim nasce o primeiro pinguim do zoológico com dois pais. A mensagem é sutil, mas clara: dois homens juntos podem ser pais.

     

     

    "O mais importante nesses livros é refletir a realidade das crianças", explica a especialista em literatura infantil e diretora do No outsiders, Elisabeth Atkinson, em entrevista para o jornal inglês The Observer. Segundo ela, estórias infantis são uma arma poderosa para formular valores sociais e promover o desenvolvimento emocional das crianças. "O que os livros não dizem também é relevante. Ao deixar de falar de relacionamentos homossexuais nos livros infantis, estamos silenciando uma mensagem social. Mais tarde jovens gays ou percebidos como homossexuais poderão ser vítima de provocação na escola, situação conhecida como bullying", acredita.

    DOIS PRÍNCIPES. POR QUE NÃO? Membros do grupo Christian Voice, em contrapartida, acreditam que esse tipo de literatura é perigosa para as crianças. Para eles o projeto promove a homossexualidade. Alguns pais questionam também se seus filhos tem maturidade para lidar com essas estórias. O projeto atinge crianças com idade entre 4 e 11 anos. "Não me incomodo com o que os adultos fazem em consenso mútuo, mas não tenho certeza que isso deva ser imposto às crianças", disse Andy Hebberd, fundador do grupo Organização de Pais, para a revista alemã Der Spiegel. Mark Jennett, responsável pelo treinamento dos professores, explica que tanto a estória dos dois príncipes como a da Cinderela não tratam de sexo, mas são estórias de amor. "A dificuldade em lidar com estes temas não está nos alunos, mas nos pais", diz.

    Segundo os pesquisadores do projeto, os livros têm sido bem recebidos pelos professores participantes. Em seus depoimentos no site http://www.nooutsiders. sunderland.ac.uk/ consideram positivo retratar diferentes tipos de família. Crianças nessa faixa etária são menos preconceituosas, aceitam melhor a diferença, o que torna este o momento ideal para mostrar diferentes estilos de vida, visões e atitudes. Para Jennett, o projeto quer formar professores aptos a lidar com crianças que usem a palavra gay num sentido negativo. O projeto deve terminar em 2008, e os resultados publicados em livro e documentário.

     

    Patrícia Mariuzzo