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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.59 n.3 São Paulo jul./set. 2007

     

     

     

    MÍDIA

    Pesquisa ibero-americana mede a percepção pública de C&T

     

    Dois mitos sobre a ciência e tecnologia (C&T) na América Latina predominam no imaginário coletivo. Um diz que há baixa divulgação científica na região; e outro que inexiste o interesse do público em assuntos ligados à ciência. "Mitos"- considera o sociólogo da ciência Yurij Castelfranchi, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo Científico (Labjor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi ele quem mediou a sessão sobre percepção pública da ciência nos países da América Latina, Espanha e Portugal, durante o VII Congresso Ibero-americano de Indicadores de Ciência e Tecnologia, em maio, na capital paulista. No congresso estiveram pesquisadores da Rede Ibero-americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia (Ricyt, na sigla em espanhol) que visa promover a cooperação científica entre os países.

    As medições no Brasil mostram que cerca de 5-7% do espaço diário dos grandes jornais é ocupado por temas científicos. "Se considerar que os países desenvolvidos gastam 2 a 3% do PIB em C&T, os 5% dos jornais é um valor significativo", compara. Há notícias sobre ciência e tecnologia todos os dias e elas não se restringem às editorias de ciência, mas permeiam nos demais cadernos dos jornais diários.

    Na Argentina, a ciência também está presente nos grandes jornais diários. De acordo com Carmelo Polino, da Ricyt na Argentina, mais de 60% das notícias de divulgação científica dos jornais de seu país se referem a pesquisas nacionais. "Embora haja diferença entre Clarín e La Nacion, a média tende a privilegiar os trabalhos feitos na própria Argentina", diz Polino.

    PESQUISA DO MCT Os debates sobre o tema ganham espaços não somente na mídia, como em outras arenas como a legislativa, na discussão de projetos na Câmara dos Deputados. Como conseqüência desse movimento, os resultados das pesquisas de percepção pública sobre os avanços da ciência já começam a animar. Uma enquete do Ministério da Ciência e Tecnologia, cujos resultados foram apresentados um mês antes dessa reunião, sobre o que o brasileiro pensa de C&T, foi coordenada por Ildeu de Castro Moreira, do MCT, e Luísa Massarani, do Museu da Vida, da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). Um conjunto de pesquisadores de vários países ajudaram na formulação do questionário. Nos quesitos sobre otimismo e interesse, o brasileiro se destaca. É um dos povos que mais se declara consciente do papel da ciência no desenvolvimento do país e se interessa pelo tema. Se 47% têm interesse por esportes, 41% querem saber mais sobre C&T. Castelfranchi acrescenta que, apesar de interessada, a maioria da população ainda é pouco informada sobre assuntos científicos, não conhece instituições de pesquisa do país e, especialmente nas classes mais populares, quase não tem chance de acesso à informação científica. Porém, nota-se que "independentemente das perguntas, não há grande hostilidade pela ciência, como querem nos fazer acreditar os mitos", reforça o pesquisador.

    Durante o encontro dos especialistas do Ricyt, além do Brasil, Espanha, Argentina e Venezuela apresentaram os resultados de suas pesquisas. A intenção é confrontar os diferentes modelos praticados e buscar uma metodologia comum, com pelo menos 20 perguntas que constariam no questionário de todos os países iberoamericanos. Em setembro, o grupo se reúne em Buenos Aires e, em fevereiro de 2008, em Madri, quando se deverá propor a criação de um manual para fazer esse levantamento.

    O PAPEL DA IMPRENSA Para Castelfranchi, a cultura de cada país determina o grau de confiança na divulgação científica feita pela imprensa. No caso do Brasil, os jornalistas encabeçam a lista de fontes mais confiáveis sobre os grandes temas. Já na Europa, os consumidores de informação são mais céticos em relação ao papel da imprensa na divulgação científica. "Os europeus culpam os jornalistas pela pouca e má informação sobre ciência e tecnologia", diz.

    Segundo o levantamento da Fundação Espanhola para a Ciência e a Tecnologia, apresentado por Gonzalo Remiro Rodenas, os espanhóis têm um baixo grau de confiança nos jornalistas (3,1 numa escala de 1 a 5), abaixo dos 4,3 dos médicos e 4,1 dos cientistas. Para eles também são insuficientes as informações sobre ciência e tecnologia em todos os meios de comunicação. Os entrevistados apontam especialmente os periódicos gratuitos, sendo a televisão a menos citada, "talvez pelo fato das pessoas não esperarem informações científicas nesse veículo". Na Venezuela, a televisão tem o melhor desempenho na divulgação de C&T. A maioria dos pessoas (63%) adquire informação pelo meio eletrônico, a maior parte por canal a cabo.

    SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS De modo geral o trabalho dos cientistas é visto com bons olhos pelos entrevistados nos países ibero-americanos. Na Europa, as pesquisas científicas recebem ressalva, mas quase a metade dos espanhóis acredita que os benefícios da C&T são maiores que os malefícios (apenas 7% pensam o contrário). A relação entre prestígio da profissão e a remuneração, no entanto, reduz o interesse em trabalhar na área: nos resultados contabilizados em pesquisa de 2006, 49% dos entrevistados acreditam que a profissão de cientista é atrativa para os jovens; na medição anterior, de 2003, esse valor era 59%.

    Na Argentina ocorre praticamente a mesma situação. Uma maioria vê a produção de conhecimento científico como um trabalho gratificante, porém mal remunerado. Por isso, apenas 36,4% considera muito atrativo para os jovens. "Neste caso acaba pesando mais a remuneração da profissão", salienta Polino. No Brasil, a visão otimista da população destoa dos outros povos: 74% acreditam nos resultados positivos da C&T..

     

    Murilo Alves Pereira