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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.59 n.3 São Paulo jul./sep. 2007

     

     

    DAVID OSCAR VAZ

     

     

    CHUVA OBLÍQUA

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    Irene veio, Cássia. Por me amar e por eu ter-lhe negado o meu amor, Cássia, talvez você seja a única pessoa que possa compreender profundamente o que sinto. Talvez esta história tão banal, sem grandes intrigas como a que me propôs Ângelo, sem reviravoltas no desfecho, sem mortes nem detetives, tenha você, Cássia, como a única leitora possível. No final da festa, quando você já havia partido, Irene veio e trouxe o seu namorado Jorge, que ficou felizmente à sombra. Ela veio, deu-me o livro e pediu uma dedicatória – pelo que vivemos, está bem – Irene disse. Ela veio ao lançamento do meu livro, Cássia; e eu escrevi apenas como dedicatória: "por tudo que não vivemos, que é muito maior". Ela me abraçou, me beijou e, outra vez, partiu. Ficou no meu corpo não sei que quinta-essência de Irene. Reparei melhor, ficaram as duas xícaras de café sobre a toalha branca como o retrato da solidão. Irene havia partido com Jorge; paguei a conta e saí novamente para a Paulista. Outra vez te revejo, e os sentimentos já são tão diversos dos que trazia há pouco. Às minhas costas ficou o Paraíso, e sigo caminho para não sei onde. A Paulista já não me é a mesma, me foi levada àquela noite pela água que escorre para as bocas de lobo. Caminho por uma avenida quase já desprovida de gente, caminho por uma avenida para sempre desencantada de Irene.

     

     

    David Oscar Vaz, escritor e professor universitário de literatura brasileira e literatura portuguesa, publicou Resíduos (Ed.Ateliê) em 1997. Com ele recebeu o Prêmio da APCA na categoria "escritor revelação". Em 2000 publicou A urna também pela Ed. Ateliê.