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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.59 no.4 São Paulo  2007

     

     

     

     

    MUSEU

    Construtor de identidade urbana e espaço para recriação da história e interação com o público

     

    Não por acaso o Museu Hermitage, de São Petesburgo, foi o espaço escolhido como cenário para o filme A arca russa do cineasta Alexander Sokurov. O filme ficou famoso por ter sido o primeiro ser realizado num único plano seqüência: um inacreditável steadicam de 90 minutos. A pergunta sobre o porquê de ser filmado em um museu poderia facilmente ser respondida por conta das mais de três milhões de peças de arte de distintos lugares do mundo, uma vez que tal riqueza já justificaria a escolha. Porém, no documental sobre o filme, Sokurov dá a sua justificativa, que vai além das suas inúmeras coleções: "o Hermitage é a base e ponto focal de São Petesburgo, o lugar mais importante da cidade. É o lugar-fenômeno que justifica a existência da cidade. É toda a história vivente da cultura russa, européia."

    Essa viagem no tempo, com a duração de uma visita, somente um museu pode oferecer. A cultura de um país sendo construída em cada passo, em cada olhar. Do lado de cá do hemisfério, os museus ainda estão esquecidos como espaços que permitem construir a nossa cultura com o nosso olhar.

    MUSEUS ARGENTINOS Na Argentina, por exemplo, um primeiro passo na valorização dessas instituições pode ser identificado no diretório de museus que a Fundação YPF começou a construir em 1998, reunindo 662 museus do país (www.museosargentinos.org.ar/museos/). Tal banco de dados é dinâmico e permite àqueles que nunca registraram a sua instituição num site, que o façam.

    Com o olhar ainda voltado para a experiência argentina, vejamos dois casos: um museu de ciências e outro de arte. Dois museus construídos na virada dos séculos: um país prometedor em fins do século XIX; um país em ruínas no início do século XXI. Dois museus que repetem a prática que deu origem a muitos dos museus modernos: a passagem de coleções privadas ao domínio público.

    O primeiro, um museu de ciências naturais, antigo e, basicamente, dependente do Estado: o Museu de La Plata, na capital da Província de Buenos Aires. Criado como um templo para as riquezas naturais de uma nação em formação com salas lotadas de testemunhas de culturas passadas e de formas de vida fósseis e atuais. Na época, um espaço de vanguarda museográfica e teórica. Seu fundador, o perito Francisco P. Moreno o pensou como espaço de educação e pesquisa. Hoje é uma valiosa amostra da diversidade cultural, biológica e, também, um mosaico das tendências museográficas de um século.

    Um outro, moderno e sustentado pela sua própria Fundação: o Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba). Um fantástico espaço para a arte, criado em meio à última grande crise econômica do país, no fatídico 2001.O seu fundador, Emilio Constantini, o imaginou como um espaço público onde pudesse socializar a sua coleção privada, como uma ponte entre o público e o mundo da arte.

    No meio tempo, a história do desenvolvimento de uma nação que vai construindo a sua própria cultura. E os museus, como parte dessa história: o Malba, símbolo da Buenos Aires moderna; Museo de La Plata, orgulho da sua comunidade.

     

    Sandra E. Murriello
    é bióloga formada na Universidad
    Nacional de La Plata na Argentina,
    e trabalhou no Museu de La Plata.