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Ciência e Cultura
versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660
Cienc. Cult. v.59 n.4 São Paulo 2007
ROSANA PICCOLO
CABELEIREIROS DE A A Z
No colo da rua, contei um milhão de cabeleireiros. Onde a novidade química desafia o espelho. E a novela das oito afia a navalha, define franjas rivais.
Contei pomares no colo da rua grito carnívoro da ruividão. Mulher-outono, mulher-fogo: há tons de açaí, rubor de morangas nesses pincéis do poente. Mulher-pássaro: secadores assanham tuas asas em blonder.
No colo de outra rua, outro milhão de cabeleireiros. E outras caixas de alumínio com escovas e tesouras pingos do mesmo poente. Pisei mais um quilômetro de grampos fazendo frases, fazendo festa, ferimento, fazendo toda a tua vida.
SOB OS OLHOS
A noite é a nossa sereia. Tem no vestido de lata a ferida de mais de um milhão de rubis. Sobre o mundo, derrama o cabelo com fios dardejantes. Usa piercing, a noite, irreconhecível ao suicida a amada é um anjo gótico resvalando em poças de luz. Tem cílios de faíscas e borrões de sombra dela agora foge o fantasma do assassino, abrindo brechas negras pela rua iluminada. Tem a mente povoada de seqüestros, guaritas pulverizando vielas e um latido a menos a capa do vampiro se faz nuvem de mosquitos. Tem computadores analisando a urdidura das estrelas, torneiras de clarão desatadas ensopando o chão de meias brancas. Tem nas camas plenas de silêncio breus macios amontoados. E esses poemas que escrevemos, do começo ao fim, e de que jamais esqueceremos até chegar o dia e nos afogar.
Rosana Piccolo é paulistana, formada em filosofia pela USP e em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero. Trabalhos publicados: Ruelas profanas (Nankin, 1999) e Meio-fio (Iluminuras,2003).