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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.60 n.2 São Paulo  2008

     

     

    BOTÂNICA

    DESCOBRINDO OS SIGNIFICADOS DE ESTRUTURAS VEGETAIS

     

    A biologia representa, muitas vezes, uma enorme dificuldade para os que tentam entender e estudar as inúmeras e variadas estruturas e funções que formam os seres vivos. Quantos nomes de estruturas conseguimos nos lembrar ao descrever uma simples flor? Antera, estame, sépala, estilete, estigma, pétala? Qual é o significado de sapopema, rupícola, cauliflor, giba?

    Embora esse desafio de memorização seja colocado, principalmente, para estudantes, qualquer amante da botânica ou interessados no assunto poderá usufruir do livro Morfologia vegetal: organografia e dicionário ilustrado de morfologia das plantas vasculares de diferentes maneiras e olhares: buscando a origem dos termos usados para descrever as diferentes partes das plantas, o significado desses termos, ou simplesmente admirando e procurando detalhes curiosos da morfologia vegetal – área das ciências biológicas que lida com a forma e a estrutura das plantas. Publicado em 2007, o dicionário tem autoria de Eduardo G. Gonçalves, da Universidade Católica de Brasília, e de Harri Lorenzi, do Instituto Plantarum de Estudos da Flora, em Nova Odessa, São Paulo.

    Trata-se de uma obra com dois módulos. O primeiro é uma visão geral da evolução das plantas terrestres e de como se deu o desenvolvimento de raízes, caules, folhas, flores, entre outros. "Ainda nesse módulo, todos os órgãos vegetais são divididos organograficamente em sistemas: axial [caule], absortivo-fixador [raízes], fotossintético [folhas] e reprodutivo, todos ilustrados e dissecados quanto à estrutura básica e diversidade adaptativa", destaca Gonçalves.

    Já o segundo módulo, parte mais laboriosa do processo de produção do livro, é um dicionário ilustrado com mil verbetes em morfologia vegetal, cada um apresentado quanto à sua etimologia e definição. Além disso, cada um dos mil verbetes foi ilustrado com três fotos coloridas, preferencialmente de espécies diferentes, e também com um desenho a nanquim, todos feitos pelo próprio Gonçalves. A idéia de associar os desenhos com fotografias de plantas reais foi para melhor ilustrar o verbete e também mostrar eventuais variações que o termo possa apresentar entre diferentes espécies. Os autores destacam, na apresentação do livro, que o princípio adotado foi "apresentar a terminologia botânica fortemente associada a recursos visuais apropriados e decomposta em unidades básicas".

    GÊNESE Gonçalves e Lorenzi trabalharam juntos pela primeira vez no momento em que Lorenzi escrevia o livro Plantas tropicais de Burle Marx (2001). O paisagista, dono de uma enorme coleção de plantas ornamentais coletadas em diferentes partes do mundo, dizia que "não existe jardim sem Araceae", família de plantas como os antúrios e copos-de-leite. Gonçalves, especialista na classificação de Araceae, ajudou Lorenzi a identificar os representantes dessa família na coleção do sítio Burle Marx, no Rio de Janeiro. Em uma das viagens que fizeram juntos, no final de 2005, surgiu a idéia de escrever um dicionário com tais características.

    Gonçalves destaca que existem excelentes livros de morfologia vegetal. Dentre os brasileiros, ele aponta Botânica – organografia (Vidal e Vidal, 1984) e Glossário ilustrado de botânica (Ferri et al., 1992) como importantes por conta do pioneirismo e abrangência. A inovação de Gonçalves e Lorenzi se deveu à união entre fotografia, desenho, etimologia e descrição do termo. Vale destacar que a ênfase do dicionário foi na morfologia de plantas vasculares (angiospermas, principalmente; gimnospermas e pteridófitas), plantas com tecidos especializados que conduzem água e nutrientes ao longo de toda a sua extensão, em contraposição às plantas avasculares, como por exemplo, os musgos, que não apresentam esses tecidos condutores especializados.

    Escolher os termos a serem definidos no dicionário não foi tarefa fácil. Eduardo Gonçalves conta que montou uma longa planilha, consultando teses, artigos taxonômicos, revisões recentes, além dos termos botânicos que constam no Dicionário Aurélio, sua própria experiência em taxonomia e longas conversas com especialistas de diferentes áreas. Os autores optaram por colocar termos específicos e também gerais, e decidiram por excluir termos em desuso. Após a escolha dos mil verbetes, a maior dificuldade foi fotografar três espécies diferentes de plantas para representar cada um desses termos.

    E por que é importante dar nomes a tantas estruturas diferentes? Ecólogos que estudam interação entre plantas e animais precisam dizer, por exemplo, de qual estrutura da planta um animal se alimenta. Os fisiologistas também utilizam denominações das estruturas para explicar os processos que estudam. Além disso, a morfologia vegetal cruza agora a fronteira da biologia evolutiva do desenvolvimento, explicam os autores. Mas ainda é preciso entender quais genes determinam se as folhas terão margens denteadas ou crespas ou se terão forma ovalada ou deltóide, por exemplo.

     

     

     

     

     

     

    Mas talvez a aplicação mais evidente da morfologia ainda seja mesmo na taxonomia, ciência que lida com a descrição, identificação e classificação dos organismos. E por que classificar? O biólogo Stephen Jay Gould, que era professor de geologia e de zoologia na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, resume: "taxonomias são reflexos do pensamento humano; elas expressam nossos mais fundamentais conceitos sobre os objetos do nosso universo". Classificação não é apenas uma mera coleção, mas uma maneira de estudar a história natural da vida na Terra. "É o caráter atemporal da morfologia", resume Gonçalves.

     

    Cristina Caldas