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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.60 n.3 São Paulo sep. 2008

     

     

    ORIGEM DAS ESPÉCIES

    PESQUISADORES RECUPERAM PASSAGEM DE CHARLES DARWIN PELO BRASIL

     

    A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia deste ano, organizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que acontece entre 20 a 26 de outubro, escolheu como tema "Evolução e Diversidade", tendo como pano de fundo a comemoração dos 150 anos da teoria da evolução por meio da seleção natural de autoria do naturalista inglês Charles Darwin. Animados por esse contexto, um grupo de pesquisadores está refazendo o caminho que Darwin percorreu em solo brasileiro, especialmente no Rio de Janeiro, onde o cientista permaneceu mais tempo, ao todo 93 dias, em 1832. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fiocruz, Jardim Botânico, Museu Nacional e Universidade Federal Fluminense (UFF), são algumas das instituições envolvidas no projeto que deve resultar na publicação de um livro com trechos de diários, artigos e cartas de Darwin que fazem referência ao Brasil.

     

     

    Outra idéia é colocar marcos, como placas e painéis, nos pontos mais importantes do trajeto da excursão e em alguns locais importantes nos quais ele esteve no Rio e em Salvador. "Queremos fazer folders sobre o trajeto inteiro. Possivelmente serão produzidos também documentários para a TV. A idéia é produzir um roteiro científico-turístico", disse Ildeu de Castro Moreira, diretor do Departamento de Popularização da Ciência e Tecnologia do MCT. A equipe usa como referência os relatos de Darwin feitos em seus cadernos de anotação, no seu livro sobre a viagem no H.M.S. Beagle, navio da missão exploratória inglesa, em cartas e mapas da época. Segundo Moreira, já foram identificados vários locais e fazendas pelos quais o naturalista passou na excursão até Macaé. "Duas das fazendas estão de pé e são muito bonitas: a de Itaocaia, entre Niterói e Marica, e a de Campos Novos, em Cabo Frio. Estamos também mapeando as excursões, passeios e visitas feitas por Darwin na cidade do Rio de Janeiro: Centro, Botafogo, Flamengo, Praia Vermelha, Santa Teresa, Corcovado, Igreja da Penha, Palácio de São Cristóvão, Lagoa, Ipanema, Leblon, Jardim Botânico, Horto", conta.

     

     

    DESAFIOS Darwin não é muito explícito ao se referir ao nome de muitos lugares, em especial dos locais nos quais se hospedou. Essa é a principal dificuldade na análise desse material. A grafia dos nomes está também freqüentemente incorreta já que ele não sabia português. Por outro lado, é freqüente a mudança no nome dos lugares, daí a necessidade de utilizar os mapas da época. Já os nomes das pessoas que interagiram com ele eram, geralmente, grafados de forma reduzida e erradamente.

    Durante sua permanência no país reuniu grande número de insetos, cuja variedade e análises sobre estratégias de ataque lhe chamaram a atenção para a disputa pelo ambiente e para a lei do mais forte. "Não resta dúvida que a extraordinária biodiversidade de nossa natureza tropical, o exame de fósseis pré-históricos na Argentina, o estudo da geologia da América do Sul e a análise de animais em ilhas isoladas, como em Galápagos [Equador], foram fatores decisivos que levaram Darwin a se questionar sobre a origem das espécies e a buscar uma hipótese que a explicasse", ressalta Moreira. Na introdução da Origem das espécies Darwin escreveu: "Quando eu estava a bordo do H.M.S. Beagle, como naturalista, fiquei muito impressionado com certos fatos na distribuição dos habitantes da América do Sul e com as relações geológicas dos habitantes presentes com os do passado, naquele continente. Esses fatos, me parecia, poderiam lançar alguma luz sobre a origem das espécies – aquele mistério dos mistérios, como foi chamado por um de nossos maiores filósofos".

    O projeto prevê ainda a mobilização de cientistas e historiadores para debaterem sobre os aspectos geológicos, biológicos e sociais observados por Charles Darwin no Brasil. Chama atenção em seus diários as referências que faz aos brasileiros: desprezíveis e miseráveis – e o horror em relação às condições a que eram submetidos os escravos. "Dou graças a Deus e espero nunca mais visitar um país de escravos", disse ele.

     

    Patrícia Mariuzzo