SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.61 número1 índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

    Links relacionados

    • Em processo de indexaçãoCitado por Google
    • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

    Compartilhar


    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.61 n.1 São Paulo  2009

     

     

     

    USP

    Os 75 anos de uma grande universidade com sementes seculares

     

    A Universidade de São Paulo (USP) comemora seu 75º aniversário com uma coleção de marcos e índices que a posiciona entre as instituições de excelência em educação superior. Tem 76.560 alunos e 5.222 professores de 587 cursos espalhados por 37 unidades de ensino e pesquisa em seis cidades do interior e na capital paulista, que abrigam juntas um acervo de aproximadamente sete milhões de livros em suas bibliotecas. É reconhecida como uma das principais do país não apenas por sua magnitude, mas pela relevância de suas pesquisas no cenário nacional e internacional. Sua produção científica envolve mais de cinco mil trabalhos publicados e indexados no Institute of Scientific Information (ISI) e 128 prêmios e distinções internacionais recebidos por seus pesquisadores.

    Em sua trajetória estão a formação de cientistas de renome em diversas áreas, pensadores destacados da história do Brasil e mundial, além de políticos e empresários influentes que saíram de suas fileiras. Mas a história da USP começa antes mesmo de 1934, quando foi institucionalizada como universidade estadual. A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, uma de suas futuras unidades, foi criada em 1827. De seus bancos saíram políticos como Prudente de Morais, o primeiro presidente civil brasileiro (1894), assim como pensadores proeminentes, entre os quais se destaca o jurista Miguel Reale, duas vezes reitor da USP e secretário estadual de Justiça, entre as décadas de 1940 e 1960, e doutor honoris causa de 15 universidades no Brasil e no exterior, onde recebeu diversos prêmios e condecorações. Em 1893, a Escola Politécnica (Poli), outra futura unidade da USP, também iniciava suas atividades. Ali se graduaram personalidades como o atual presidente do Banco Central, Henrique Meireles, os ex-governadores de São Paulo Mário Covas e Paulo Maluf e o banqueiro e ex-prefeito da capital paulista Olavo Setúbal, entre tantos outros engenheiros que ganharam fama e notoriedade em atividades públicas.

    AMBIENTE PARA A PESQUISA "Em relação às contribuições da Poli, vale salientar que nela era cultivada a importância de se realizar experimentações, investigações e pesquisas enquanto elementos fundamentais para o avanço dos conhecimentos. Isso se deve à atuação do seu fundador, professor e primeiro diretor, Antonio Francisco de Paula Souza", avalia Marilda Nagamini, co-autora do livro Escola Politécnica: 110 anos construindo o futuro, escrito junto com o historiador Shozo Motoyama e lançado há cinco anos. Segundo ela, Paula Souza organizou em 1899 o Gabinete de Resistência de Materiais – que se transformaria, na década de 1930, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas –, para apoiar a parte prática e de experimentação dos materiais em uma disciplina ministrada por ele. "Os estudos e as investigações promovidas no Gabinete apoiaram a construção dos primeiros edifícios em concreto armado na cidade de São Paulo e serviram para orientar a produção e o controle da qualidade dos materiais aqui fabricados, como o cimento, por exemplo, na fase inicial da industrialização do Brasil", conta Marilda.

     

     

    No início do século XX, outras duas grandes instituições foram criadas e se tornariam unidades de destaque da futura universidade: a Escola Agrícola Prática de Piracicaba – atual Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) – criada em 1901, e a Faculdade de Medicina, implantada em 1912. A tradição de ambas na formação de pesquisadores têm forte relação com o período em que se juntaram a outras unidades, na ação política de um ex-aluno da Poli, o então governador paulista Armando de Salles Oliveira, concretizada em janeiro de 1934. "Era importante criar uma nova mentalidade em nosso meio: a valorização da pesquisa. Ao que parece, essa mesma mentalidade orientou a ação do governador, ao apoiar a fundação da USP em janeiro de 1934", acredita Marilda. "Ele estudou na Poli e, mesmo sem ter concluído o curso de engenharia, isso não o impediu de apoiar a iniciativa de criar uma instituição como a USP, voltada para o desenvolvimento do ensino e da pesquisa científica em amplas áreas do conhecimento", completa.

    MISSÃO FRANCESA Essa forte relação entre ensino e pesquisa, segundo Maria Arminda do Nascimento Arruda, coordenadora da exposição itinerante "Fundadores da USP", é fruto de uma determinada visão sobre vida acadêmica que, até então, não existia no Brasil. Este seria um dos principais legados dos professores estrangeiros trazidos para a formação da USP. De acordo com ela, o grupo de pensadores, importados para fortalecer o projeto de universidade que se queria para São Paulo, que adquiriu mais visibilidade ao longo do tempo foi aquele conhecido como "Missão Francesa", que além de ser em maior número, tinha figuras como o antropólogo Claude Lévi-Strauss. "A idéia do caráter civilizatório da cultura francesa era central para a elite paulistana da época. Mas não foram só os franceses que tiveram importância. Também vieram portugueses, alemães, italianos", continua. "A missão estrangeira é essencial para a formação da USP. A maioria desses professores veio para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, núcleo formador da recém-criada universidade", conta.

    Ali se plantaram as sementes que colocam a USP hoje entre as cem melhores universidades do mundo. "Os estrangeiros adotaram procedimentos de ensino e pesquisa não encontrados aqui, entre eles a própria pedagogia da pesquisa e o conceito de que o ensino deve estar sempre ligado ao saber científico", diz Maria Arminda.

    A contribuição de fora, fundamental na origem da USP, também é parte de suas ambições futuras. De acordo com Glaucius Oliva, coordenador de uma comissão de planejamento para os próximos 25 anos da universidade, um dos desafios para elevar a instituição ao patamar das 50 melhores em seu centenário é a atração de alunos e recursos estrangeiros para torná-la mais competitiva. Em uma parceria entre o Instituto de Física de São Carlos e a Escola Politécnica de Paris, na França, sete estudantes brasileiros já se beneficiaram do intercâmbio. Falta, como há 75 anos, atrair os franceses: até agora, nenhum estudante de lá veio para o Brasil nessa parceria.

     

    Rodrigo Cunha