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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.61 no.1 São Paulo  2009

     

     

     

    ECOLOGIA

    Sugerindo uma nova definição para espécies invasoras

     

    O que pode ser considerado uma espécie invasora? Aquela que invade uma área vizinha ao seu nicho? Uma espécie nativa pode receber essa denominação ou apenas as não nativas ou exóticas? Uma espécie imigrante ou que tenha sido importada é sempre invasora? Foi para dar conta dessas nuances, que três pesquisadores franceses e um norte-americano resolveram se debruçar sobre a definição de espécies invasoras.

    "Por trás do simples aspecto semântico, a profusão de termos, claramente, revela a imprecisão em torno da noção de invasão biológica em si", afirmam os autores, Loïc Valéry e Jean-Claude Lefeuvre, da Universidade de Rennes, Hervé Fritz, da Universidade de Lyon, e Daniel Simberloff, da Universidade do Tennessee, em artigo publicado na última edição do periódico Biological Invasions (Vol.10, 2008). Os autores focaram sua reflexão em dois aspectos bastante usados para definir um invasor: o geográfico e o critério de impacto.

    O primeiro costuma definir espécies que superam uma grande barreira geográfica ou distância (por exemplo, superior a 100 km). Uma das falhas seria, com isso, desconsiderar espécies nativas que passam a dominar uma comunidade durante um período em que ocorre sucessão de plantas (por exemplo, em uma área desmatada de floresta que, aos poucos, vai sendo colonizada por inúmeras espécies). Mas, mesmo quando as nativas invadem áreas próximas ou adjacentes ao seu habitat, os autores enfatizam que não é possível afirmar, com certeza, se a espécie é mesmo nativa ou não. O mais interessante, observam alguns especialistas citados no trabalho, é a existência de mecanismos em comum que tanto espécies nativas quanto não nativas desenvolvem para invadir e dominar um sistema.

     

     

    Depois de pontuar as fragilidades do aspecto geográfico, os autores desmontam o critério do impacto, que nomeia como invasora aquela espécie que interfere – de forma positiva ou negativa – em uma comunidade ou ecossistema na qual ela se dispersa. A subjetividade do termo e os inúmeros fatores que determinam os efeitos do impacto dificultam o uso desse critério para definir esse fenômeno considerado estável e constante na natureza, alegam. Essa constatação não inviabiliza a importância da pesquisa sobre impacto de invasões biológicas. "A padronização de um procedimento operacional para quantificar o impacto, permitindo a classificação de invasões em categorias específicas, e a organização em hierarquias pode constituir-se em uma nova área de pesquisa", reforçam.

    Em busca de características em comum a todas as espécies invasoras, Valéry, Fritz, Lefeuvre e Simberloff sugerem a retomada de uma definição mais básica da ecologia, baseada no conceito de competição entre espécies distintas. Como resultado dessa competição, a espécie invasora é considerada superior, por conseguir, rapidamente, se destacar, aumentar a densidade de sua população e ampliar a área de ocupação. "A invasão biológica consiste em uma espécie que adquire uma vantagem competitiva seguida do desaparecimento de obstáculos naturais à sua proliferação, o que permite que ela se disperse rapidamente e conquiste novas áreas, nas quais se torna uma população dominante", pontuam os autores, enfatizando que a definição permite abarcar as características em comum das espécies invasoras, omitindo deliberadamente, alguns dos aspectos variáveis (dispersão e impacto), o que não exclui a importância dos mesmos nos estudos sobre essas espécies.

     

    Germana Barata