SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.61 número2 índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

    Links relacionados

    • En proceso de indezaciónCitado por Google
    • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

    Compartir


    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.61 n.2 São Paulo  2009

     

     

     

    GOVERNO OBAMA

    Política científica norte-americana sofre uma guinada

     

    O clima é de mudança quando o assunto é política científica dos Estados Unidos, agora na era Barack Obama. Em seu discurso de posse, em janeiro passado, o presidente destacou: "Nós vamos colocar a ciência de volta ao seu devido lugar, e usar prodígios tecnológicos para melhorar a qualidade do sistema de saúde e diminuir seus custos. Aproveitaremos o sol e os ventos e a terra para abastecer nossos carros e operar nossas fábricas. Transformaremos nossas escolas e faculdades e universidades para que atendam às demandas de uma nova era. Podemos fazer tudo isso. E faremos tudo isso".

    Estava dado o tom da importância atribuída à ciência à tecnologia (C&T). No mês seguinte, Obama assinou o American Recovery and Reinvestment Act of 2009, liberando 21,5 bilhões de dólares para investimentos em C&T, um aumento de aproximadamente 15% em relação a financiamentos anuais anteriores, segundo o Escritório de Políticas para Ciência e Tecnologia (OSTP, na sigla em inglês).

    O aumento do orçamento não é a única especificidade da política científica de Obama. "O fato de o governo encarar a ciência como fator essencial para sair da crise econômica é um dos grandes marcos", diz Manoel Barral Netto, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Bahia) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA). "Imagino que seriam tempos muito difíceis para a ciência um governo como o de [George] Bush numa crise tão grande como esta", afirmou. Barral, que esteve à frente da Diretoria de Programas Temáticos e Setoriais do CNPq, destaca que o abandono de muitos preconceitos nos temas a serem tratados pela ciência, e um aumento significativo do nível da assessoria científica e da sua importância no organograma do governo são outras especificidades da política científica norte-americana atual.

     

     

    A questão energética aparece como uma das privilegiadas pelo sistema de ciência, tecnologia e inovação. Com a nomeação de Steve Chu para chefiar o Departamento de Energia (DOE, na sigla em inglês), Obama não deixa dúvidas quanto à sua preocupação com o meio ambiente. Chu, Prêmio Nobel em Física, é dos grandes nomes mundiais da busca por energias alternativas, e sua nomeação foi bastante elogiada e destacada na mídia.

    "Grande parte do dispêndio do pacote fiscal de combate à crise vai estar voltado para a área de energia e produção de energias renováveis", diz Carlos Américo Pacheco, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Pacheco lembra que ficou bastante impressionado com a colocação de Obama de que os empregos da indústria do futuro não podem estar fora dos Estados Unidos e com a aposta de que a solução energética vai sair das universidades e dos laboratórios norte-americanos.

    No entanto, além da energia há uma ênfase importante no campo da pesquisa em saúde. O orçamento dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) foi bastante ampliado, tanto no pacote de estímulo quando na proposta orçamentária para 2009. Há algumas mudanças no perfil do investimento na área de saúde. De acordo com Barral, há uma ênfase na pesquisa de comparação de efetividade de tratamentos e na agenda de pesquisa da Medicare e Medicaid, sistemas de saúde do governo. Aparece também como prioridade o financiamento dobrado para pesquisas em câncer, com ênfase em diagnósticos inovadores, tratamentos e cura.

    Não há menção a respeito das doenças tropicais no orçamento de pesquisa em saúde. Segundo Barral, a pesquisa em doenças tropicais nunca apareceu entre as prioridades da agenda de pesquisa em saúde nos Estados Unidos. "As doenças infecciosas aparecem ocasionalmente em situações que atingem mais diretamente os EUA como a Aids e a biodefesa. De todo modo, quando as áreas realmente prioritárias para os EUA são contempladas com aumento de orçamento é de se esperar que não haja corte nos recursos para doenças endêmicas nos trópicos", explica.

    David Goldston, colunista de ciências políticas do periódico Nature, em artigo publicado em janeiro deste ano na revista Wired, conclui que Obama tem o desafio de fazer muito mais do que apenas gastar dinheiro. Ele tem a oportunidade de abraçar o desafio intelectual de mudar a política científica norte-americana. "Obama alia o combate à crise com uma aposta muito pesada no futuro, na recuperação da liderança norte-americana em torno dessa agenda de pesquisa e inovação tecnológica", avalia Pacheco. É só o começo da era Obama.

     

    Cristina Caldas