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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.61 n.2 São Paulo  2009

     

    INSTITUO INHOTIM

    IMPORTANTE ACERVO DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM BRUMADINHO

     

    Um museu de arte contemporânea em meio a um parque ambiental ou uma extensa coleção botânica abrigando pavilhões para exposição de artistas. Assim é o Instituto Inhotim, onde a interação entre arte e natureza resulta em um complexo museológico único e original. Localizado na cidade de Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte (MG), o instituto se diferencia pelo modo pelo qual as obras estão expostas. As exposições permanentes estão espalhadas por um imenso jardim com 45 hectares e cinco lagos ornamentais, cujo projeto paisagístico inicial foi sugerido por Roberto Burle Max. Não existe um percurso pré-definido, o que permite ao visitante fazer suas opções ou, simplesmente, passear no Parque Tropical admirando uma das maiores coleções de espécies tropicais raras e ainda uma reserva nativa de Mata Atlântica.

    A maioria das obras está em pavilhões com salas expositivas mais tradicionais, no entanto, eles estão inseridos num jardim, que pode ser visto através de paredes envidraçadas. "Há obras excelentes, efetivamente instaladas no meio do jardim, o que contribui enormemente para valorizá-las", conta Agnaldo Farias, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em arte contemporânea. Esse conceito diferente de expor arte e natureza leva um público variado ao Inhotim. Entre eles curadores de arte, historiadores, biólogos, botânicos e paisagistas, mas o objetivo principal que norteou a abertura do espaço ao público foi discutir grandes questões da contemporaneidade por meio da arte. "E a arte contemporânea é, essencialmente, um instrumento político de contestação, um meio de dessacralizar a própria arte," acredita Ana Lúcia Gazzola, diretora executiva do Instituto Inhotim. "A cidadania plena e o desenvolvimento sustentável tem que incluir a fruição cultural", completa.

    PARQUE PARTICULAR A ideia do museu nasceu por conta do interesse do empresário mineiro Bernardo Paz em arte contemporânea, alimentado por sua amizade com o artista pernambucano Tunga. Paz começou a formar o acervo nos anos 1980 comprando pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e instalações que eram guardadas em seu sítio, na cidade de Brumadinho. "Com o tempo, percebi que tudo aquilo transcendia à posse individual e tinha um valor como conjunto de acervo botânico e de arte que deveriam se tornar um patrimônio público. Abri a coleção como um parque particular, primeiro através de visitas agendadas e em seguida ao grande público", conta o empresário. No ano passado o instituto recebeu mais de 100 mil visitantes. Há obras de artistas brasileiros como Hélio Oiticica, Cildo Meireles e Vik Muniz, além de estrangeiros como os norte-americanos Paul MacCarthy e Dan Graham e o chinês Zhang Huan, componho um acervo de cerca de 500 obras de mais de 100 artistas.

    A combinação de artistas nacionais e internacionais no acervo é a chave para transformar Inhotim em referência em arte contemporânea no Brasil. "O instituto é, atualmente, a única instituição que está adquirindo obras relevantes de artistas internacionais igualmente relevantes", lembra Farias. Segundo ele, o último museu a fazer isso foi o MAC-USP, nos anos 1970, sob a forma de aquisição de prêmios da Bienal de São Paulo. "Cabe salientar que as aquisições de obras nacionais feitas pelo Instituto Inhotim são igualmente notáveis, tanto pela qualidade quanto pela quantidade", complementa. Só no ano passado, 150 obras foram acrescidas ao acervo. Atualmente, a maior parte dos recursos advém do patrimônio pessoal do empresário, mas há também investimentos de empresas. Isso se tornou possível depois que o Inhotim se tornou uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e pode passar a apresentar projetos às leis de incentivo à cultura, tanto estaduais como federal. "Quanto mais público o Instituto Inhotim tem se tornado, mais tem aumentado a capacidade de atrair patrocinadores, desde empresas até pessoas que podem colaborar de diversas formas. O objetivo é garantir a sustentabilidade do Inhotim através de instrumentos de financiamento de longo prazo e realmente deixar este conjunto como um legado à sociedade", adianta Paz.

    TODOS OS SENTIDOS Muitos artistas visitam o local antes de conceber seus trabalhos. Com isso, eles criam obras especialmente para o instituto e, algumas vezes, o projeto paisagístico é feito depois, para complementar a obra. "A obra de arte se alimenta da relação com o contexto e, geralmente, utiliza vários sentidos – olfato, visão, tato – para sua apreciação. A arquitetura dialoga com as obras, assim como com o meio ambiente", explica Ana Lúcia. A grande área disponível permite renovação constante. Em 2008, por exemplo, duas novas galerias foram construídas, uma dedicada à obra da artista colombiana Doris Salcedo e outra especialmente para receber obras e uma instalação da artista plástica carioca Adriana Varejão. A artista participou da conceituação do projeto arquitetônico.

     

     

    Este ano, por meio de uma parceria com a Ferrous, multinacional da área de mineração, o Inhotim vai construir o Centro de Pesquisa e Educação Ambiental. O centro fornecerá infra-estrutura para o desenvolvimento de projetos em áreas científicas como geomorfologia, climatologia, estudos de flora, fauna, hidrologia e solos. O centro terá também um espaço interativo. A parte externa terá trilhas ecológicas educativas para mostrar os prós e contras da relação humana com a natureza e, na parte interna, serão construídos laboratórios onde os visitantes poderão analisar materiais do acervo botânico do parque, o segundo maior acervo no Brasil. O centro de pesquisa deve incorporar ainda um museu de ciência. Para isso o instituto está buscando firmar parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo a diretora do instituto, o conceito que norteia os programas educativos desenvolvidos pelo museu é que os espaços culturais devem ser locais de formação. "A inclusão cultural é uma dimensão necessária da cidadania", defende Ana Lúcia Gazolla. "Esta deve ser a marca do cidadão do século XXI", finaliza.

     

    Patrícia Mariuzzo