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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.61 no.2 São Paulo  2009

     

    CINEMA

    CELEBRANDO O GÊNIO DE CHAPLIN

     

     

    Em 16 de abril de 2009 comemoram-se os 120 anos do nascimento de um dos maiores gênios da história do cinema: Charles Spencer Chaplin, imortalizado na figura de Carlitos, seu principal personagem. Em Brasília, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) preparou exibições ao ar livre de filmes de Chaplin, acompanhados de trilha sonora executada por orquestra sinfônica. A Suíça, país que o abrigou nos seus últimos 25 anos de vida, o homenageia com o Museu Charles Chaplin, instalado na propriedade conhecida como Manoir de Ban, às margens do lago Léman, em Corsier-sur-Vevey, onde o cineasta viveu.

    Concebido para ser interativo, L'Espace Musée Charles Chaplin (http://www.chaplinmuseum.com) terá salas de exposição permanentes, um cinema de 200 lugares, boutique e brasserie, e a expectativa de receber 250 mil visitantes por ano a partir de sua inauguração, prevista para 2010. Perto dali, em Vevey, uma pequena estátua do homem com chapéu-coco apoiado numa bengala, cercada de um jardim florido, a dois metros do lago na praça Charlie Chaplin, foi inaugurada em 16 de abril de 1989, no centenário de nascimento do grande cineasta.

    LEGADO O crítico de cinema e professor da ECA-USP, Ismail Xavier, considera que Chaplin se mantém vivo para o público que assiste seus filmes em DVD e na TV a cabo, embora tenha havido um recuo da crítica e um declínio do número de publicações sobre ele. "O mundo acadêmico – muito marcado pelas análises estruturais e preferindo os cineastas que 'contribuíram para o avanço da linguagem'– não se sente seduzido em escrever sobre a obra extraordinária de Chaplin. Na França, talvez em função do velho artigo de André Bazin e do interesse pela modernidade do que chamam de burlesque, encontramos maior atenção do que no Brasil. O lugar de Chaplin é central na história do cinema, pioneiro na invenção de uma gestualidade para a câmera e de uma relação especial entre corpo e objetos; nisto, continua fundamental sua crítica de aspectos da modernização que não se reduzem à escravização diante do fluxo das máquinas, mas se estendem a um estranhamento do mundo urbano que se mostra atual". Xavier acrescenta que a herança do cinema de Chaplin poderia ser encontrada, hoje, num "senso fino de ironia que, na aparente leveza, toca fundo nas questões humanas", presentes em autores como Woody Allen e, acrescenta Xavier, num excelente filme alemão que se inspira na estória de João e Maria perdidos no bosque (uma das compiladas pelos Irmãos Grimm), do cineasta Christoph Hochhäusler, cujo título é Caminho do bosque (2003).

    Para o professor Edmundo Washington Lobassi, da Universidade Anhembi Morumbi (SP), o personagem Carlitos é um ícone contemporâneo: está nas mais de 1,4 milhão de páginas na internet (fonte: www.google.com.br), vídeos de seus filmes no Youtube, além de milhares de blogs de internautas. "Em minhas pesquisas para o mestrado, encontrei evidências que comprovam ser o filme O grande ditador (1940) definitivamente um marco representativo entre o cinema mudo e falado do diretor e produtor Chaplin, demonstrando que, com o advento do som, morre o personagem Carlitos e sua arte burlesca, e nasce o ator Charles Spencer Chaplin, notadamente no discurso final. Cada filme seu, sempre cercado de dificuldades, polêmicos acordos e desacordos, mas sempre divertidos, delicados, melodramáticos e criativos, contribui para um verdadeiro patrimônio da história do cinema. A lição de humanidade de cada um deles persiste na contemporaneidade", comenta Lobassi.

    A expectativa dos professores Xavier e Lobassi é que a celebração dos 120 anos de nascimento do cineasta reavive o legado de Chaplin com retrospectivas de sua obra e grande divulgação nas salas de cinema e na TV, matérias nos jornais, programas especiais com um balanço atualizado de seu legado.

    VIDA E OBRA Nascido em Londres em 16 de abril de 1889, Chaplin viveu boa parte de sua infância nas ruas ou em orfanatos, devido à morte prematura de seu pai e às frequentes internações de sua mãe, doente psiquiátrica. Atuou em pantomimas, apresentando-se em cafés-concertos, até ser encontrado por um produtor cinematográfico durante turnê nos EUA. Em dezembro de 1913, Chaplin estreava como ator de cinema e em poucos anos ganhava notoriedade, dirigindo seus próprios filmes.

    Entre 1915 e 1923, o personagem de Carlitos surgiu em diversas comédias curtas, algumas delas verdadeiras pérolas do cinema mudo, como O garoto (The kid, 1921). O carisma do vagabundo de chapéu-coco e bengala, doce e atrapalhado, conquistou o público de maneira profunda e universal. Por meio de Carlitos, Chaplin consagrou um estilo absolutamente original de atuação ancorado na magia do gesto e da expressão corporal proporcionada pela maestria da mímica.

    Em 1919, Chaplin se junta a Mary Pickford, Douglas Fairbanks, David W. Griffith e William Hart para fundar a United Artists e, a partir de então, dedica-se a essa companhia produtora. Os longas Em busca do ouro (The gold rush, 1925), O circo (The circus, 1928), Luzes da cidade (City lights, 1931), Tempos modernos (Modern times, 1936), O grande ditador (The great dictator, 1940), Senhor Verdoux (Monsieur Verdoux, 1947), Luzes da ribalta (Limelight, 1952) e Um rei em Nova York (A king in New York, 1957) estão entre os mais famosos filmes dirigidos e estrelados por Chaplin na United Artists.

     

     

    Diretor de quase 80 filmes, Chaplin era um artista multitarefa: escrevia os roteiros, atuava, montava e compunha a trilha sonora. São dele algumas das cenas mais memoráveis da história do cinema, como a dança dos pãezinhos de Em busca do ouro, o frenesi mecânico do operário em Tempos modernos ou o balé com o globo terrestre em O grande ditador. Apesar de ter despontado para a fama no período mudo e de ter insistido na prevalência do gesto sobre o som, foi dos poucos cineastas que continuou a criar obras-primas no período sonoro, como Fritz Lang. Chaplin não se esquivou de controvérsias com o conservadorismo americano, fruto da irreverência provocativa de alguns de seus filmes, como Ombro armas! (Shoulder arms, 1918). No auge do macarthismo, em 1952, o cineasta muda-se para a Suíça. Em 1975, a rainha Elizabeth II concede-lhe o título de Sir.

    Chaplin casou-se quatro vezes. Três de suas esposas foram estrelas de seus filmes: Mildred Harris, Lita Grey e Paulette Goddard. Em 1943 casou-se com Oona O'Neill, filha do dramaturgo Eugene O'Neill, com quem teve seis filhos e viveu até a morte, aos 88 anos, na noite de 24 para 25 de dezembro de 1977, em Corsier-sur-Vevey. Foi nessa localidade suíça que o intérprete de Carlitos elaborou Um rei em Nova York, filme que representa uma violenta condenação do obscurantismo do macarthismo. Seu último filme, A condessa de Hong Kong, longa marcado principalmente pelo tema do exílio, também é idealizado na Suíça. Chaplin está enterrado ao lado de sua última esposa, Oona O'Neill, no cemitério local.

     

    Alfredo Suppia