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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.61 n.3 São Paulo  2009

     

     

     

    PERIÓDICOS CIENTÍFICOS

    A difícil tarefa de entrar para o cenário internacional

     

    A recente notícia de que o Brasil saltou da 15ª para a 13ª posição de produção científica mundial foi motivo de alegria para o ministro de Ciência e Tecnologia e acadêmicos. Trinta e dois novos periódicos nacionais entraram para o Thomson Reuters-ISI, base internacional de dados responsável pela indexação de publicações científicas do mundo todo, o que ocasionou um crescimento no número de artigos em espantosos 56% em relação a 2007, chegando a um total de 30.145. A conquista de mais espaço no rol dos periódicos considerados de qualidade tem aumentado nas últimas décadas, como fruto do amadurecimento e consolidação do sistema de ciência e tecnologia no país. Ainda assim, apenas 0,94% dos 11 mil periódicos indexados na base internacional são brasileiros ou então 0,42% da ainda mais seleta base Journal Citation Report. O foco agora deve ser em medir e impulsionar a qualidade do que se publica.

    A maior base de dados de periódicos eletrônicos nacionais, o SciELO (Scientific Electronic Library Online), foi implantada em 1997 com o objetivo de elevar a qualidade e visibilidade das publicações em âmbito internacional. Atualmente ele reúne 205 publicações nacionais indexadas de um total de 623 de 13 países. Para passar pelo crivo dos consultores da base exige-se o cumprimento de fatores cruciais mínimos como regularidade de publicação, um conselho editorial e sistema de avaliação por pares, versão digitalizada gratuita e possuir título, resumo e palavras-chave em inglês. Segundo o consultor científico do SciELO, Rogério Meneghini, afirmou em editorial na Química Nova, a base tem proporcionado um aumento na visibilidade nacional e internacional da ciência brasileira, como ocorreu com esse periódico de química geral, que teve seu fator de impacto mais que dobrado no sistema de base de dados internacional ISI, uma vez que ingressou na base brasileira, em 2000. Atualmente, a revista científica tem se destacado como a mais citada no SciELO e, mesmo sendo escrita sobretudo em português e espanhol — mas também em inglês — tem importante lugar mundial, tendo o maior fator de impacto entre os periódicos em português no ISI, totalizando 0,91.

    O fator de impacto tem sido a ferramenta mais frequente para se medir a qualidade de periódicos científicos, resultado do número médio de citações que os artigos de um periódico recebe. Assim, a publicação de maior destaque nacional, o Journal of the Brazilian Chemical Society (JBCS), tem fator de impacto igual a 1,52. Comparativamente, a média dos 127 periódicos de química geral indexados internacionalmente gira em torno de 1,32.

    Com tantos louros, os periódicos brasileiros de destaque ainda vislumbram obstáculos a serem transpostos. Luiz Carlos Dias, editor da JBCS e docente do Instituto de Química da Unicamp, acredita ser fundamental oferecer atrativos para os autores. Entre eles, publicar artigos de qualidade, oferecer curto prazo para aprovação e publicação dos artigos, número DOI (Data Object Identification), que permite que os artigos disponíveis online (prelo) já possam ser lidos e citados; além de acesso gratuito digital, fatores que contribuem para a visibilidade do periódico e seus artigos. "É preciso também incentivar uma cultura entre os autores para que citem trabalhos do periódico e também os seus próprios artigos quando forem publicar em outro", diz Dias, mencionando estratégias utilizadas por publicações internacionais.

     

     

    Já as editoras da Química Nova, Susana de Torresi e Vera Padini, do Instituto de Química da USP, apontam a necessidade de aumentar o corpo administrativo e diminuir o gargalo entre o tempo de submissão e de aceite de um artigo, que ainda gira em torno de 4 a 5 meses. O fator de impacto atraente resulta em um aumento na demanda de artigos, inclusive de países periféricos como Egito e Iraque, e, consequentemente, no volume de trabalho. Já são 114 nações que contribuem com artigos para as publicações do SciELO. Apenas no ano passado o periódico recebeu cerca de 700 artigos, avaliados sempre por dois referees, para compor 8 edições — neste ano serão 9. A inclusão de quatro editores associados, foi uma das formas encontradas para driblar o crescente número de páginas. Em 2006, eram 1.600 páginas e no ano passado chegou a 2.300, um aumento de quase 44%.

    Dentre os principais motivos que levam os autores a escolherem o periódico em que desejam publicar está o prestígio do mesmo, o público leitor e as chances de seu trabalho gerar citações, a presença de sua área de pesquisa e a chance de seu trabalho ser aceito. A análise foi publicada no Jama, em 1994, enfatizando que os fatores de escolha fortalecem um círculo vicioso que prejudica a manutenção dos periódicos iniciantes: baixo fator de impacto gera baixa visibilidade, baixa adesão de autores e trabalhos de qualidade, por sua vez, resultam em baixo fator de impacto. A performance insatisfatória também diminui as chances do periódico conseguir financiamento. O edital, lançado no final do ano passado pelo CNPq e Capes (58/2008), de incentivo à editoração e publicação de periódicos científicos brasileiros, por exemplo, exigia que os periódicos candidatos estivessem indexados no SciELO ou classificados como A-Nacional no Qualis da Capes, além de ter abrangência nacional e internacional quanto a autores, corpo editorial e conselho científico para que concorrerem à parte da verba de R$5 milhões. "Deveria ter faixas [do edital voltadas] para revistas que cumprem os critérios de qualidade, mas ainda não tiveram tempo para entrar nos patamares exigidos", lamentou Gilberto Hochman, editor da Brazilian Political Science Review, que recentemente entrou no Scielo Social Sciences, mas tem apenas dois anos de existência.

    O número total de periódicos brasileiros não é certo. Meneghini afirma ser cerca de 1.500 periódicos científicos, embora o Latindex, sistema de informação da Universidade do México que reúne periódicos da América Latina, Caribe, Portugal e Espanha, registre 745 publicações eletrônicas do Brasil. O fato é que o reconhecimento se dá apenas àqueles indexados em bancos de excelência nacional, como os 205 no SciELO, e 103 na base de dados internacional ISI. Destes, 22 não estão indexados na base brasileira, fato que Meneghini afirma ser fruto de uma diferença nos padrões de aceite de publicações. Para ele, o ISI está mais focado, hoje, na representatividade regional e de determinadas especialidades. O importante, segundo Meneghini, é que a base nacional abarca cerca de 50% dos artigos produzidos no país.

    INDÍCIOS DE QUALIDADE Além do SciELO, aponta-se o programa Qualis, como indicador de qualidade. Trata-se de uma classificação de periódicos usados por programas de pós-graduação para publicar sua produção intelectual avaliada por comissões especializadas que atribuem notas A1 e A2, B de 1 a 5 e C (igual a zero), segundo variações no fator de impacto e indexação em bancos de dados. As categorias variam dentro de um mesmo periódico dependendo da especialidade. Por considerar, sobretudo, o fator de impacto de periódicos científicos nacionais, comparando sua performance a equivalentes internacionais, o Qualis tem sido alvo de críticas por estimular a publicação de artigos no exterior.

    Enquanto ainda não é anunciada a nova tabela Qualis, a comunidade se esforça para propor condições mais justas de classificação. Mauricio Rocha-e-Silva em editorial para o Clinics (Vol.64, n.1, 2009), reconhece que os artigos de países em desenvolvimento sejam inferiores ao de nações desenvolvidas, mas afirma que a disparidade é maior nas citações do que na qualidade dos periódicos. "Algum suporte aos periódicos brasileiros é imperativo. Não estou sugerindo que se escancare a porteira: apenas que se dê aos periódicos brasileiros metas atingíveis de ambição de progresso", defende. Meneghini faz coro na defesa da produção nacional: "a Capes deve considerar uma política de estímulo para se publicar em revistas nacionais". Com os critérios atuais, nenhuma publicação nacional recebe a classificação A1 e poucas se enquadram como A2, resultado de uma competição injusta com os periódicos de nível internacional que deixa de fora critérios que reconheçam a relevância dos veículos na ciência nacional.

    Embora haja suspeitas de que a qualidade das publicações brasileiras não esteja avançando na mesma velocidade que a produção de artigos, faltam evidências que comprovem essa hipótese. Um dos motivos, acredita o cienciometrista Rogério Meneghini, é o limitado e caro acesso a dados do ISI. Alguns indícios, no entanto, mostram que a qualidade está melhorando. Um deles, afirma, é o aumento das contribuições de publicações brasileiras no Journal of Citation Report, uma base de dados ligada ao ISI, mas distinta do Web of Science, e que reúne seletos periódicos de importância internacional. O país tem se destacado entre os países que mais crescem em percentagem no JCR, ao lado da China e Índia, mas sua participação total chega a meros 1%.

    DEDICAÇÃO INTEGRAL Com o amadurecimento das publicações científicas nacionais virá a necessidade de se pensar sua estrutura de funcionamento. Enquanto os periódicos internacionais de destaque possuem editores e equipe contratados sob regime integral de trabalho, no Brasil o trabalho é feito de modo voluntário, a exemplo do que ocorre nas duas publicações anteriormente citadas, JBCS e QN, ambas publicadas pela Sociedade Brasileira de Química. Além de cuidar das atividades de avaliação de artigos e delineamento de estratégias editoriais para as publicações, frequentemente, os editores também cuidam das questões burocráticas, como a busca por financiamentos e a redação de relatórios para as agências de fomento. Trabalho esse que pode tomar uma média de 8 horas semanais, em meio às atividades acadêmicas individuais.

    Outra característica estrutural importante é que no Brasil os periódicos são publicados por instituições e sociedades científicas, e financiados, em sua maioria, por dinheiro público. "Quando se coloca uma revista em torno de uma instituição ou sociedade, fica mais fácil levar em conta [os artigos de] as pessoas que atuam dentro deste grupo", observa Meneghini. Seria necessário que o país investisse na formação de cientistas para lidarem com as tarefas editoriais de modo a estabelecer uma equipe de especialistas.

     

    Germana Barata