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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.61 no.3 São Paulo  2009

     

     

     

     

    CONHECIMENTO TRADICIONAL

    Autonomia e desenvolvimento sustentável previnem perdas

     

    Em estudo publicado no periódico Culture & Psycology (Vol.15, n.2, 2009), os psicólogos Sergio Cristancho, da Universidade de Antioquia (Colômbia) e da Universidade de Illinois (EUA), e Joanne Vining, também de Illinois, investigaram as mudanças na transmissão do conhecimento tradicional (TEK) entre gerações e gêneros em 30 Uitoto, índios da Amazônia colombiana, e 26 Itza Maya, na Amazônia guatemalteca. A grande preocupação é a perda gradual desse conhecimento, dado que ele é fundamental para a sobrevivência dos povos indígenas.

    Por meio de entrevistas, os participantes afirmaram notar as mudanças ocorridas entre as gerações nos ajustes (do natural à escola) e nas estratégias (de experiência à aprendizagem conceitual) usadas para a transmissão de TEK. Estas mudanças foram atribuídas aos vários fatores ambientais (perda da biodiversidade e urbanização), socioculturais (aculturação, mudanças nas normas sociais) e individuais (falta da motivação para ensinar e aprender), indicando sua complexidade e multidimensionalidade.

    Para os Uitoto, os autores acreditam que uma histórica migração forçada na década de 1930, em decorrência do aumento das plantações de seringueiras, teria influenciado grandemente as perdas de conhecimento tradicional. A percepção dessa perda teria motivado programas locais para ensinar a língua, as danças e músicas tradicionais aos jovens. E, entre os Itza Maya, as perdas teriam sido influenciadas, sobretudo, pela diminuição do contato da comunidade com a natureza, imersão em um estilo de vida urbano e hibridização da população. As tradições, fortemente agrícolas, hoje são inibidas, afirmam alguns membros da etnia, em função do pagamento pelo uso da terra no município de San José. O município tem aumentado seu potencial turístico, atraindo, cada vez mais, os Itza Maya a trabalharem no comércio local. A população também passou a implementar projetos para o ensino da língua, de técnicas de cultivo de plantas medicinais, e transmissão de conhecimento tradicional pelos mais velhos.

    "Recomendamos que os investimentos institucionais sejam dirigidos à promoção de autonomia e desenvolvimento sustentável nas terras dos povos indígenas, por meio de apoio externo a programas comunitários baseados em educação ambiental. Idealmente, esses programas deverão motivar os mais velhos a transferirem o conhecimento [tradicional] aos jovens usando métodos tradicionais de ensino, ao invés de forçar as comunidades a adotarem, como única prática, programas ocidentais de educação ambiental. Ou seja, a participação ocidental deve ser de suporte da dinâmica indígena e não de natureza prescritiva", enfatizam os autores.

     

    Germana Barata