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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.62 no.2 São Paulo  2010

     

     

    RESENHA

    A história e a trama dos tecidos

     

     

    O campo da tecnologia têxtil vem se ampliando e abrangendo áreas diversas que, no século XIX, jamais seriam chamadas a trabalharem juntas para a produção de tecidos. Mas, para que isto se tornasse possível no mundo moderno, foi necessário que diversos acontecimentos inesperados formassem a teia dessa história. Sem diretamente abordar a questão sob a ótica da "tecnologia têxtil", devemos reconhecer que esta se insere num universo ainda maior: o dos produtos têxteis.

    A publicação do livro Tecidos: história, tramas, tipos e usos, de Dinah Bueno Pezzolo, lançado há dois anos, ajuda a apresentar a um público variado, e não somente especializado e técnico, importantes questões ligadas à produção dos tecidos e de produtos têxteis diversos. Através de seus capítulos podemos acompanhar o desenvolvimento dessa história dos tecidos e do uso de fibras naturais e químicas, inseridos no processo de formação de um sistema chamado moda.

    O livro está dividido em 15 capítulos, acompanhando desde origem e evolução dos tecidos, com suas variedades de algodão, lã, linho, seda e fibras artificiais. Dedica-se, ainda, ao desenvolvimento da tecelagem e beneficiamento têxtil, como tinturaria e estamparia, além de contar com glossário e bibliografia sobre o tema.

    Nas suas origens, a autora nos mostra como o processo variou de um continente ao outro, de uma cultura à outra e envolveu áreas como ciências, mecânica e arte. Da possibilidade de cultivo das fibras à formação das indústrias têxteis, os tecidos marcam presença e se colocam como meio intermediador da aproximação, comércio e troca entre diversos povos.

    Através do estudo realizado sobre as fibras de algodão, linho, lã e seda seguimos a história de seu cultivo, produção e industrialização desde a Antiguidade, incluindo a análise de particularidades culturais de produção geograficamente diversa, climas, mercado, produtos específicos (como as chitas), estamparia e comércio, com informações detalhadas, ainda, sobre o processo brasileiro.

    Os tecidos são analisados em dois momentos históricos e de produção diversos: antigos e tradicionais, modernos e inovadores. Neste sentido, parte do livro, como vimos, trata do processo de produção tradicional dos tecidos, mas uma outra parte nos apresenta o universo moderno: dos tecidos diferenciados seja pelo desenvolvimento de fibras artificiais e sintéticas, seja pelo modo de entrelaçamento dos fios, seja pelas técnicas têxteis específicas ou por beneficiamentos diferenciados. Assim, a autora nos apresenta "outros tecidos: feltro, malha, renda, veludo e denin", descrevendo suas histórias, diferenciações e modos de produção.

    Em um dos capítulos, Dinah se dedica ao tema dos tecidos africanos, que criaram um padrão particular de estamparia e tintura, onde cultura e influências regionais podem ser reconhecidas em qualquer parte do mundo. Descreve as influências estrangeiras recebidas pelos povos africanos, os materiais utilizados, a tecelagem, a tintura, os processos manuais de estamparia e os tecidos industrializados.

    Na apresentação de processos modernos de produção têxtil, a autora desenvolve o tema dos "novos tecidos", ou seja, tecidos inteligentes que são produzidos para satisfazer exigência que vão além das convencionalmente tratadas até então, apresentando características que devem acompanhar a evolução das necessidades de uma nova sociedade. Na decoração e na arte, os tecidos são vinculados à história artística do mobiliário, onde se destacam, entre outros, produtos têxteis como tapetes e gobelins, manufaturas diversificadas e produzidas por culturas orientais e ocidentais.

    A autora apresenta, ainda, a trajetória das indústrias têxteis brasileiras e a criação de importantes polos de produção e distribuição no país. Ao final, Dinah Pezzolo organizou um glossário com os principais termos técnicos da área, informação de grande valia para a correta determinação de procedimentos e técnicas que muitas vezes são chamadas por nomes diversos. A bibliografia é de grande utilidade, visto que, além de apresentar nomes de exemplares de conhecimento técnico, coloca à disposição do leitor sites e uma listagem dos museus franceses onde podem ser desenvolvidas diversas pesquisas sobre os tecidos.

     

    Soraya Coppola

     

    Soraya Coppola é doutoranda em história da arte na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora da Escola de Belas Artes/UFMG e do curso de design gráfico e design de interiores da Unatec/BH.