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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.62 n.2 São Paulo  2010

     

    POP ART

    Andy Warhol:Um ícone do século XX

     

     

    "No futuro todos serão mundialmente famosos por 15 minutos". Assim como suas obras que abusavam da repetição e das cores dramáticas, a frase dita por Andy Warhol em 1968 continua sendo citada até o limite da exaustão nos dias de hoje, como se fosse uma versão oral da série de famosos retratos dos ícones americanos (Marilyn Monroe e Jackeline Kennedy/Onassis entre eles). Dizer que Warhol ultrapassou seus quinze minutos seria piegas, sem graça, mas faria sentido, de alguma maneira. Uma contradição? Andy Warhol é a encarnação da contradição.

    Apelidado de "Drella" – "uma mistura de Drácula e Cinderella" como disse Ondine, ator que trabalhou em alguns dos filmes feitos por Warhol – ele foi multimídia antes que o termo existisse efetivamente. Trabalhou com pintura, fotografia, vídeo e cinema. As fronteiras não existiam para o artista: arte, design, publicidade e uma autopromoção egocêntrica de sua imagem era tudo um grande conjunto. Separar essas produções afeta a complexidade que Warhol representa.

    Para aqueles que quiserem se aventurar em descobrir as várias facetas desse artista, que é sinônimo de pop Art (ou simplesmente se deliciar com a explosão de cores e texturas), a exposição "Andy Warhol, Mr. America" estará na Estação Pinacoteca – anexo da Pinacoteca do Estado de São Paulo – até o próximo dia 23 de maio. A exposição promete ser uma das maiores já feitas sobre o artista em solo brasileiro: são 170 obras – pinturas, gravuras, fotografias, instalações – e 44 filmes abrangendo as produções dos anos 1960 (a maioria das obras) até a década de 1980.

     

     

    PARA ALÉM DAS FRONTEIRAS Andy Warhol é um dos principais nomes da pop Art. Surgida nos anos 1950, na Inglaterra, o movimento teve seu ápice na década de 1960, quando chegou aos EUA. A pop Art se caracteriza pela apropriação de imagens do universo de consumo (embalagens de produtos) e da cultura de massa (televisão, cinema, revistas de celebridades, quadrinhos, propaganda) como tema de suas obras e, ao mesmo tempo, faz uma crítica a essa indústria que, na visão dos artistas, exercia uma poderosa influência na vida cotidiana das pessoas.

     

     

    Desenhista talentoso, reconhecido nos anuários de publicidade, Warhol tornou-se um dos mais célebres artistas comerciais na sua época e no final da década de 1950 realiza uma exposição emblemática na Ferus Gallery em Los Angeles (EUA), na qual está presente a notória obra com latas de sopas Campbell. Ele também passa a utilizar a serigrafia e outros métodos de reprodução mecânica, para fazer suas obras, diminuindo a distância entre a fotografia e a pintura. Assim como a pop Art faz desaparecer a distinção entre arte "erudita" e "comercial", "Warhol parte da publicidade – onde trabalhou inicialmente – para as artes. Ele carrega consigo toda essa questão técnica, que ele aprendeu a dominar nos estúdios de publicidade e design", explica Elaine Caramelo, professora e pesquisadora do curso de pós-graduação em arte, crítica e curadoria, da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "Essa apropriação dos modos de produção dão uma identidade plástica muito única à obra dele. A hibridização visual é claramente presente em Andy Warhol", completa Carlos Roberto Fernandes, pesquisador e professor ligado ao curso de artes visuais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

    Para Fernandes, a publicidade também se apropria de Warhol. "A própria mídia banaliza o trabalho de Warhol. Por isso o trabalho dele é tão presente, até nos dias de hoje. Ele se utiliza do popular, do que está disponível e depois é 'disponibilizado' para a grande massa. Quando uma publicidade passa a repetir imagens coloridas, super contrastadas, imediatamente se reconhece Warhol".

    IRREVERÊNCIA E PARADOXO "Andy Warhol é um paradoxo. O próprio nome da exposição, 'Mr. America' é um paradoxo. Por um lado, ele trazia para suas obras as estrelas de Hollywood, políticos e esportistas que eram representantes do glamour e do poder americano, ou mesmo os ícones do consumo, da industrialização, da superioridade tecnológica e triunfante dos EUA nas décadas de 1960 e 1970", aponta Elaine. "Mas, ao mesmo tempo, ele demonstra claramente que não acredita no sonho americano. É uma carnavalização da cultura de massa: consumo virando consumo. É o popular sendo elevado ao estado da arte, e rendendo milhões para ele", continua.

    Em seu livro A filosofia de Andy Warhol – De A a B e de volta a A (lançado no Brasil pela Editora Cobogo), o próprio artista brinca: "o que é maravilhoso sobre este país é que a América iniciou a tradição onde os consumidores mais ricos compram essencialmente as mesmas coisas que os mais pobres. Você pode estar assistindo TV e vê a Coca Cola, e você sabe que o presidente toma Coca Cola, Liz Taylor toma Coca Cola. Uma Coca é uma Coca e nenhum dinheiro pode conseguir uma Coca melhor do que a que aquele mendigo na esquina está tomando". Mas Elaine explica que "a América de Warhol é uma América imaginária dos grandes astros, dos presidentes idealizados, de um avanço tecnológico sem precedentes." É a Amérida das propagandas e do consumo. Warhol também se insere nessa América como próprio objeto de desejo dos colecionadores de arte.

    Ele era parte da vanguarda artística, mas influenciava peças de publicidade; era também o queridinho das rodinhas de socialites, e não era incomum vê-lo nas colunas policiais, envolvido em algum escândalo. Era distante, com ares de intocável, mas presenteou sua recepcionista, Cathy Naso, com um auto-retrato que agora vale alguns milhões de dólares.

    E como receber Andy Warhol na América Latina, em épocas de Hugo Cháves e de anti-americanismo em alta. Será que a ambiguidade, o questionamento de conceitos e convenções de sua obra pode trazer um novo olhar para a terra do Tio Sam (que está inclusive entre as fotos expostas na mostra)? Ou será que já sabemos demais dessa América imaginária?

     

    Enio Rodrigo Barbosa