SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.62 issue2 author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

    Related links

    • On index processCited by Google
    • Have no similar articlesSimilars in SciELO

    Share


    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.62 no.2 São Paulo  2010

     

     

    Marcelo Hilsdorf Marotta

     

    O CANTO HÍBRIDO DA PEDRA

     

    Decifra, Oh Musa, a cifra cantada por Hathor,
    Mãe sétima de filho único,
    Afrodite do Nilo que de Dandarah trouxe,
    Imóvel, nua e oblíqua,
    Brônzea luz sobre Hélia flor,
    Desvelando-a.
    Depois da epokhé, agora julga;
    Escolhe, do senso solto, o certo:
    Modela-o, mantém-no firme.
    Rasga o tempo e o duplo-infinito parte limitado:
    Síntese ímpar do olhar!
    Atua.
    Extrai!
    Nega o bloco e afirma o ser da arte.
    O que fica, presa interna de si,
    Retém na aljava de mármore a seta,
    Com cinzel glaucocarmim.
    Finca-o no bloco,
    Entrelaça o mútuo,
    Ultrapassa o outro,
    Germina o mesmo e único desejo de ti.
    E segue no flanco o impulso incessante de som!
    Estilhaça!
    Executa!

    Permuta a lítica em carne!
    Alva e límpida,
    Pede a ela que se revele,
    Sendo rígido o pulso contínuo de luz.
    Súbito,
    Projéteis descontínuos,
    Despojos do bloco deposto,

    Dormem no chão.
    Cessa o golpe:
    Já sangra a desmedida.
    Morto o sentido do caco,
    Fragmentos inertes – peças de um jogo de desmontar – tombam frios.
    Resta viva,
    Suada,
    A Obra.
    Escapa de suas frestas o calor,
    Como a alma pela boca do corpo!
    E sob cromática tez,
    Elevada em silêncio ao leito,
    Conserva quente o pacto
    De mármore e lívida carne
    E anuncia o princípio de teu movimento,
    Por dentro,
    Ao outro,
    Autor
    De ti.

     

    Marcelo Hilsdorf Marotta é natural de Piracicaba, SP, mas vive em Barão Geraldo, Campinas, onde se formou em ciências sociais pela Unicamp. É mestre em arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e atualmente desenvolve pesquisa de doutoramento em história da arte, novamente na Unicamp. O poema acima faz parte de um pequeno livro bi-híbrido ainda inédito, chamado De vinha comédia: o álbum negro, musgo e carmim, que contém poemas escritos tanto em português como em inglês nos últimos 20 anos, quanto desenhos feitos pelo autor.