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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725

    Cienc. Cult. vol.63 no.1 São Paulo jan. 2011

    http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252011000100022 

    DIVULGAÇÃO

    Grupo aposta no relançamento da coleção "Os Cientistas"

     

     

    Muitos pesquisadores na casa dos 40 anos devem o despertar de seu interesse científico a uma coleção lançada no início da década de 1970. Eram pequenas caixas de isopor contendo microscópios, balanças e kits de química que, com o auxílio de manuais, guiavam a curiosidade infantil pelos terrenos da história da ciência e de seus maiores representantes. O físico e matemático Georg Simon Ohm (1789-1854), os químicos e físicos Robert Boyle (1627-1691) e John Dalton (1766-1844), além de muitos outros – 50 expoentes da ciência, no total –, invadiam, mensalmente, as bancas de jornal em todo o país, para alegria das crianças e desespero econômico dos pais (a inflação galopante, na época, fez com que os preços dos kits variassem enormemente entre o primeiro e o último fascículo).

    Agora uma equipe coordenada por Moysés Nussenzvieg, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que conta com a colaboração de nomes de peso como Mayana Zatz, Myriam Krasilchik, Eliana Dessen, Beatriz Barbuy, Henrique Toma, Eliana Dessen e Vanderlei Bagnato, além de Isaías Raw – que, junto com Nussenzvieg, foi um dos idealiza-dores da primeira versão da coleção –, trabalha para relançar "Os cientistas" nos próximos anos. O trabalho é complexo e longo, pois, além de testar os kits e viabilizar a produção em larga escala, os pesquisadores precisam conseguir apoio financeiro para a empreitada.

     

     

    "Muitos pesquisadores já vieram me dizer o quanto a coleção foi importante para o início da carreira deles", diz Raw, pesquisador do Instituto Butantã, em São Paulo. "A ideia dos kits era fazer com que as crianças e adolescentes pusessem a 'mão na massa', que descobrissem o prazer de pesquisar. Para ser cientista, precisa disso, de experiência, de ver o que acontece, deduzir e querer saber mais", completa.

    OS PRIMEIROS KITS A coleção "Os cientistas" original foi uma iniciativa de um grupo de pesquisadores ligados à Fundação Brasileira para o Desenvolvimento de Ensino de Ciências (Funbec), órgão ligado à Universidade de São Paulo e que, em parceria com a Editora Abril – cujo aporte financeiro e canais de distribuição foram importantes para a popularização dos kits –, tornou o projeto possível. Os kits originais eram compostos por um livro (com informações históricas e orientações para fazer os experimentos) e pelos equipamentos necessários para executar os experimentos propostos: microscópios, lunetas, pipetas e outros diversos instrumentos eram versões simplificadas, porém funcionais, dos similares profissionais, usados nos laboratórios dos institutos de pesquisa do país.

    "A nova coleção pretende manter essa formatação – inclusive, aproveitando diversos instrumentos desenvolvidos naquela época, cujos moldes ainda temos – mas ampliar as experiências, aproveitando as novas tecnologias, como a internet", explica Nussenzveig. O único porém é quanto ao número de fascículos, que deve ficar em torno de 15 a 20 na primeira fase. "Estamos homologando os kits junto ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro)", diz Nussenzveig. "Um dos primeiros kits da nova fase, sobre óptica, está sendo testado em São Carlos", explica.

    Quem está cuidando desses testes é Vanderlei Bagnato, pesquisador da USP de São Carlos. "Estamos testando os kits com diversos públicos: crianças e adolescentes, alunos de graduação e professores de ciências". E os resultados são para lá de animadores. Os adolescentes foram divididos em dois grupos: aqueles que tinham noções teóricas dos experimentos e aqueles que sabiam pouco ou nada sobre o assunto. "Entre aqueles que não tinham formação teórica anterior, observamos resultados tão positivos quanto os outros grupos, ou seja, eles acabaram fazendo deduções com base na observação e experimentação", afirma Bagnato. "Com isso, é possível que eles venham a entender muito melhor a teoria por trás daquilo", se anima o pesquisador. "Essa é uma das ideias da coleção: que eles proporcionem a autonomia do conhecimento", completa Nussenzvieg.

     

     

    Além dos alunos do ensino médio, os alunos de graduação (licenciatura em física) e os professores envolvidos em treinamentos por educação a distância (EAD) também estão testando os kits. "Os professores também poderão se beneficiar da coleção, pois terão uma ferramenta de diálogo com os alunos", afirma Bagnato.

    Outro desafio imposto pela equipe responsável por "Os cientistas" é o custo da coleção. "Isso é importante. Queremos que seja acessível a todos, que chegue a todas as crianças. Por isso, estamos em contato com o Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério da Educação, com o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e com parceiros da iniciativa privada que se interessem pelo projeto. A ideia é formar os futuros profissionais que trabalhem com a inovação na ciência. Outra coisa é que o projeto possa ser difundido em outros países, que atinja outros públicos", planeja Nussenzvieg.

     

    Enio Rodrigo Barbosa