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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725

    Cienc. Cult. vol.63 no.2 São Paulo abr. 2011

    http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252011000200021 

    LITERATURA

    Livro com poesias inéditas de Guilherme de Almeida é lançado

     

    Talvez seja difícil para a geração atual, cada vez mais mergulhada na transitoriedade e na especialização, entender um intelectual como o paulista Guilherme de Almeida, tradutor, jornalista advogado e poeta. Com esse feixe de talentos, transitou em diversas áreas, sempre com entusiasmo, com paixão. Foi também um dos mentores do movimento modernista brasileiro com uma atuação decisiva na realização da Semana de Arte Moderna, ao lado de nomes como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Menotti del Picchia. Envolveu-se na Revolução Constitucionalista de 1932, o que lhe rendeu a prisão e o exílio em Portugal e ainda lhe deu fama de conservador. Nada mais equivocado. Não seria exagero dizer que Guilherme de Almeida foi o mais moderno dos modernistas. Sempre buscando dialogar com as vanguardas, o "Príncipe dos poetas brasileiros" também passeou por diversas outras áreas: tradução, jornalismo, artes gráficas, teatro, cinema, música e até televisão.

    O poeta morreu em 1969 deixando um conjunto de poesias inéditas. Como alguém que se prepara para partir, os poemas foram cuidadosamente datilografados e envolvidos em uma capa feita de cartolina. O esboço de livro chegou às mãos do também poeta Marcelo Tápia em 2009. Ele, como diretor da Casa Guilherme de Almeida, com sede na capital paulista, providenciou a publicação seguindo à risca o formato sugerido pelo autor. O livro Margem foi publicado no final de 2010 pela Editora Annablume com prefácio escrito por Tápia e posfácio do poeta e linguista Carlos Vogt.

    Os pequenos poemas soam como constatações. Como um observador que olha ao acaso, da margem de um rio, da margem da vida, Guilherme de Almeida tenta captar o instante, o poema-instante, como lemos na poesia que abre o livro. Chama a atenção a leveza e o frescor do texto. Mesmo com quase 80 anos, o poeta não demonstra nostalgia ou saudade pelo que se foi. Prefere cantar a vida, mesmo quando fala do que já passou: "alva, lívida, ávida ave da vida havida!".

    POEMAS PARA VER A visualidade é um aspecto importante para o poeta. Ao longo de sua vida ele sempre demonstrou interesse pela imagem. Ajudou a fundar a revista Klaxon, porta-voz do movimento modernista, criou a capa do periódico e também fez anúncios publicitários na revista. A capa do livro Margem também foi concebida por ele: antecipa o sentido da palavra e joga as letras para a vertical, na margem da página.

     

     

    A busca da síntese está presente em toda sua obra e também em Margem. "É uma procura constante e radical de economia de elementos, combinada à densidade de significação", escreve Marcelo Tápia no prefácio do livro. "Ele se distingue pela brevidade, pela concisão, consegue dizer muito com poucas palavras", diz Tápia. Sua poesia se aproxima do haicai, poema de origem japonesa que chegou ao Brasil no início do século XX e que privilegia a brevidade e a forma. Assim como os haicais buscam criar uma imagem na cabeça do leitor, os poemas de Margem são atalhos para um salto da margem e mergulho imaginação adentro.

     

    Patrícia Mariuzzo

     

    ESTUDOS SOBRE O SILÊNCIO

    A simplicidade plena de significados também está presente na poesia de Mariana Botelho, mineira de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, que teve seu primeiro livro – O silêncio tange o sino – publicado no final do ano passado pela Ateliê Editorial. Seus primeiros versos publicados na revista Ciência & Cultura (Vol.61, no.2, 2009), quando o poeta Carlos Vogt conheceu seu trabalho. É dele o prefácio do livro, "obra que reúne poemas de uma extrema e extremada delicadeza, a se refletir, desde logo, no título, que por si só, evoca povoados e montanhas intermediados pela sonoridade pungente dos silêncios que povoam seus espaços".

    O silêncio e a paisagem são os temas escolhidos por Mariana neste livro de estreia. Registra estados emocionais diante da imensa paisagem mineira, a um só tempo inóspita e acolhedora, como alguém que aprendeu a "tirar silêncio das coisas". Com seus poucos 26 anos, Mariana Botelho já se mostra pronta para extrair a poesia do silêncio, da paisagem e da vida.