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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725

    Cienc. Cult. vol.63 no.2 São Paulo Apr. 2011

    http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252011000200023 

     

    Lélia Parreira Duarte

     

    SENTIDO BATISMO

    Prenhe de ser,
    palavra trama.

    Grávida de luz,
    a cor tece.

    E na inconsistência
    da teia,

    o frágil sentido

    acontece.

    Eu queria fazer maravilhas,
    a insatisfação é o resultado.

    Não importa.
    Vamos em frente.

    O naufrágio é
    o melhor batismo,

    o erro permite
    a construção.

       
    PAINS EURÍDICE

    Terra vermelha
    Fecunda.

    Raízes fortes
    Fazenda.

    Avós centenários
    Família.

    Gado
    colheitas
    pomares
    férias
    travessuras.

    E depois?
    O eu:
    caniço
    batido

    pelo vento

    Véus
    camuflam o nada

    Fantasmas
    rondam a vida

    Cores
    entretecem o sonho

    Vozes
    elaboram o canto

    E o fazer constrói a espera
    (da morte?).

    E Eurídice,
    que desvanece,

    Permanece
    na voz que a celebra.

     

    Lélia Parreira Duarte é professora titular (aposentada) da UFMG. Os poemas acima foram publicados em Exercícios de viver em palavra e cor (Ed. Veredas & Cenários), acompanhando fotos de quadros da autora. Está lançando agora Potência e negatividade em Fernando Pessoa, ensaio ilustrado com quadros referentes a poemas do poeta.