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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725

    Cienc. Cult. vol.64 no.1 São Paulo enero. 2012

    http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252012000100022 

    CULTURA
    RESENHA

     

    Coleção busca seduzir leitor para a ciência

     

     

    Daniel Blasioli Dentillo

     

     

    Se fazer ciência já não é coisa fácil; divulgá-la para o público não especializado pode ser uma tarefa bem mais complicada. Corre-se o risco de cair numa linguagem árida, exclusiva para especialistas, o que seria desastroso para quem busca popularizar assuntos difíceis e, ainda, socializar avanços científicos com uma comunidade além da acadêmica. Com esse foco, a editora da Unicamp criou a coleção Meio de Cultura, com livros instigantes e criativos (a começar por suas capas e títulos); o primeiro, de oito já publicados desde 2008, foi O sol morto de rir, do físico mexicano Sérgio de Régules

    A escolha das obras a serem publicadas levou em conta a especialização dos autores, assim como sua fluência em textos de divulgação para um público mais amplo, sendo a maioria deles experientes em escrever colunas de jornais de grande circulação. Para o presidente da comissão executiva da coleção, o físico Marcelo Knobel, pró-reitor de graduação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as editoras estão despertando para o fato de que divulgar ciência é algo imprescindível e, além do ganho tanto para a sociedade como para a comunidade acadêmica, há também um estímulo para o aparecimento de novos escritores na área. "Divulgação científica pode ser feita de várias maneiras, mas no livro a ciência pode ser discutida de forma mais aprofundada", avalia Knobel, considerando que a coletânea pode ser usada, inclusive, como material paradidático no ensino médio.

    Na obra inicial, o astro-rei não é o único a sorrir: em suas páginas, Régules buscou oferecer informação e diversão sob a tutela de contos bem humorados, escritos com o tom sedutor de quem está engajado em atrair apreciadores. O escritor considera ter feito uma "salada literária", expressão que traduziria a diversidade de ingredientes saborosos a partir dos quais foram sendo construídas suas estórias.

    A ciência é tratada como um tesouro que todos podem manusear à vontade, com entusiasmo, sem o peso com o qual o senso comum sempre ponderou os fatos científicos. Essa mesma intenção norteou o jornalista Marcelo Leite ao escrever Ciência, use com cuidado, segundo livro da série, também publicado em 2008. O autor buscou na simplicidade (sem ser superficial) e na precisão (evitando cair no argumento cientificista) um incentivo à democratização das ciências e maior aproximação do público leigo. Os textos, já publicados na mídia, foram atualizados com pós-escritos que contextualizam os temas abordados e estendem o ponto de vista e opinião para o momento da edição já que, em ciência, as mudanças são constantes.

     

    DINOSSAUROS TECNOLÓGICOS

    É justamente o mesmo enfoque usado pelo italiano Nicola Nosengo no terceiro livro da série A extinção dos tecnossauros, também de 2008. À palavra desconhecida o autor atribui o termo "dinossauros tecnológicos" para reportar-se às tecnologias que não emplacaram ou que não tiveram longa vida de sucesso. Nosengo procura mostrar um lado pouco explorado pelos divulgadores científicos: ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, não é só de triunfos e avanços que vive a ciência, já que tropeços e erros científicos são os motores da evolução tecnológica. Por isso há buscas constantes por conhecimentos e aprimoramentos, sem os quais não se obtém O gozo intelectual (2009), título seguinte, do espanhol Jorge Wagensberg, que propõe a compreensão das ciências como cimento fundamental para o prazer, o qual também se destaca na cadência construtiva de suas linhas.

    Em Superstição, crenças na era da ciência (2011), o norte-americano Robert L. Park questiona por que pessoas, mesmo instruídas, insistem na crendice de algo não comprovado cientificamente, como diversas práticas médicas alternativas. A trama bem articulada e provocativa relembra a boa literatura científica dos títulos precedentes. O próximo livro a sair do prelo é O sonho de Einstein, em busca da teoria do todo, do italiano Pietro Greco. Para Knobel, a construção da série Meio de Cultura está em andamento, e a expectativa é que surjam outros autores, cientistas e jornalistas, dispostos a colocar a ciência ao alcance dos cidadãos.

     

    COLEÇÕES CIENTÍFICAS

    As coleções voltadas à divulgação científica vêm ganhando cada vez mais espaço nas prateleiras das livrarias. Na Argentina, por exemplo, a série Ciencia que Ladra atrai leitores desde 2001. Por meio de nomes inventivos e chamativos, como O cozinheiro cientista, quando a ciência se mete na cozinha e O ovo e a galinha - manual de instruções para construir um animal, os livros têm a intenção de aguçar a curiosidade das pessoas para o tema de ciências. O sucesso se mostra na "grande aceitação pública das obras, vendidas até mesmo em bancas de jornais, e já traduzidas para vários idiomas", conforme contou Diego Golombek, professor de biologia da Universidade Nacional de Quilmes, idealizador e coordenador da coleção. Cada livro esmiúça um tema científico distinto, como câncer e genoma humano, fazendo das metáforas, analogias e elementos da ficção instrumentos para facilitar o caminho da melhor compreensão do assunto. No Brasil, o Núcelo José Reis (NJR) da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo lançou uma coletânea, em 1998, com enfoque distinto das coleções mais recentes.

    A temática voltava-se para discussões acerca da história, avanços e reflexões sobre a divulgação científica brasileira.