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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725

    Cienc. Cult. vol.64 no.2 São Paulo abr./jun. 2012

    http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252012000200004 

     

    EDUCAÇÃO AMBIENTAL

    Modo de vida ecologicamente correto ganha força nas últimas duas décadas

    Respeitar o meio ambiente, reciclar, pensar em trocar o carro pela bicicleta, consumir de forma consciente. Se tudo isso já parece óbvio para grande parte das pessoas nas cidades hoje, é bom lembrar: há duas décadas, o discurso ecológico era exclusivo de uma "tribo alternativa", composta daqueles tachados de malucos, radicais e sonhadores. Esse movimento de respeito à natureza, que deu espaço aos "verdes" surgidos, inicialmente na Europa, mais precisamente, na Alemanha, só ganha corpo no Brasil após a Eco-92. Foi a partir desse evento internacional que vários setores da sociedade brasileira passaram a cultivar certa "consciência ecológica". A cobertura da mídia, na época, ajudou a fazer com que essas discussões fossem amplamente disseminadas.

    Desde então, educação ambiental entrou para a agenda oficial, ganhou adeptos e força. Hoje, todos têm opinião sobre o assunto e o "pensamento ecológico" é abordado desde os primeiros anos da escola. Observar e opinar sobre o que pode ou não impactar a natureza faz parte, em algum nível, do pensamento da maioria das pessoas.

     

     

    "O tratado constituído na Eco-92 foi um dos primeiros instrumentos a efetivar o conhecimento para transformar a realidade frente aos desafios da industrialização", explica Maria Cristina "Tita" Vieira, pesquisadora da Rede Brasileira de Educação Ambiental (Rebea) e coordenadora geral do VII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, que será realizado como parte dos preparativos de outro evento de grande porte — o Rio+20 — e que fará uma avaliação dos avanços conseguidos após a Eco-92.

    "Foram quase cinco anos de conscientização e mobilização sobre o assunto para, em 1997, educação ambiental e discussões sobre sustentabilidade se tornarem itens obrigatórios na pauta escolar. O Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Educação construíram os mecanismos formais e hoje são os gestores dessa iniciativa", diz a pesquisadora.

    Além do âmbito da educação formal, proliferam ações fomentadas pelos movimentos sociais, comunidades e setores diversos que trazem à tona discussões sobre o impacto negativo da presença humana no meio ambiente. Há, também, diversos espaços de discussão não-formal, onde muitos e diferentes indivíduos pensam e discutem essa questão, buscando soluções cotidianas.", aponta Tita.

    REDES DE INFORMAÇÕES E COBRANÇAS As questões colocadas na Eco-92 se expandiram com a popularização na internet e o crescimento das redes de debate dedicadas à educação ambiental em seus fóruns representativos de diversos segmentos sociais.

    "É um movimento de agregação. Discussões estaduais — como a da restrição ao uso das sacolinhas plásticas em São Paulo — servem de baliza e exemplos para experiências em outros locais. É um processo que leva ao amadurecimento das discussões e influencia legisladores e empresas, por exemplo", diz Paulo Marco de Campo Gonçalves, ecólogo do Jardim Botânico de Santos (SP) e membro da Rede Paulista de Educação Ambiental (Repea).

    A troca de informações e discussões não se limita apenas a esses fóruns, aponta Gonçalves. "Com as Redes de Educação Ambiental, associadas ao poder de ampliação de discussões nas mídias sociais, as pessoas se mobilizam e transformam o discurso em atitudes pró-ativas, sensibilizando seus círculos sociais, cobrando mudanças em leis, deixando claro para o governo e para as empresas de que aquele assunto é sensível para elas", diz o ecólogo.

    "Todas as empresas, atualmente, procuram comunicar-se com seus consumidores via redes sociais. Isso traz a 'boa mídia', ou seja, as pessoas fazem elogios às práticas ou produtos dessas empresas levando a uma projeção e possível impacto nas vendas. Mas há o inverso também: as pessoas se sentem à vontade para cobrar determinadas ações das empresas que ficam coibidas em fazer algo que não seja bom para o meio ambiente", detalha Vitor Yuki, biólogo e um dos fundadores de uma empresa de consultoria para soluções em desenvolvimento ambiental.

    VITÓRIAS CONCRETAS "Uma das maiores vitórias na área ambiental é reflexo dessa maior interação entre as várias redes de educação ambiental: a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que vai beneficiar as cidades, o meio ambiente e setores da sociedade que vivem da coleta de materiais recicláveis", afirma Tita Vieira. Outras discussões, diz a pesquisadora, também ganham corpo como as discussões sobre os impactos à biodiversidade — como aquelas envolvendo o Código Florestal —, produção de energia limpa (que ficou evidente nas discussões sobre a importância da usina de Belo Monte), gestão das águas, turismo sustentável e agricultura familiar.

    Mobilidade urbana também é uma questão que vem ganhando força nas redes. Como os grandes centros urbanos mostram enorme dificuldade em resolver a contento a questão do trânsito de pessoas e veículos, um movimento em prol do maior uso das bicicletas domina a discussão ambiental do momento. A restrição do uso das sacolas plásticas nos supermercados é a vitória mais palpável: "a lei, no longo prazo, é muito boa para o meio ambiente, ao evitar que o descarte incorreto contamine rios e mares e comprometa a fauna; no curto prazo, a discussão ainda se restringe à economia doméstica, mas isso deve mudar", afirma Gonçalves que lembra as críticas feitas ao rodízio de veículos na cidade de São Paulo no início do projeto. "Hoje se sabe que essa limitação de veículos é boa para a qualidade do ar na cidade, por exemplo". O embate recente nessa área, também, foi a restrição municipal da circulação de caminhões nos horários de picos na capital paulista.

    O CICLO DO BEM Para Yuki, é importante que as pessoas saibam como é o ciclo completo dessas ações. No caso da coleta seletiva, uma parte da população separa adequadamente seu lixo, mas não sabe que o problema pode não estar sendo resolvido pelas prefeituras, que não disponibilizam caminhões de coletas seletivas em números suficientes, nem dão a destinação adequada.

     

    Enio Rodrigo Barbosa