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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725

    Cienc. Cult. vol.65 no.3 São Paulo jul. 2013

    http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252013000300009 

     

    APRESENTAÇÃO

    Nanotecnologias: elas já estão entre nós…

    Oswaldo Luiz Alves

     

     

    O termo nanotecnologia tem sido usado para definir sistemas e processos que dão origem a bens ou serviços provenientes da matéria no nível nanométrico, isto é: na faixa de tamanho do bilionésimo do metro (10-9 m), ou seja, o nanômetro (nm).

    As nanotecnologias (no plural) são tecnologias para as quais estão sendo esperadas contribuições significativas em termos de benefícios, cujas potencialidades podem vir a impactar positivamente a qualidade de vida da sociedade. Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), do ponto de vista da inovação, as nanotecnologias podem ser descritas como uma "plataforma tecnológica".

    Não restam dúvidas de que essas novas oportunidades acabarão tendo reflexos sobre o setor produtivo como um todo, gerando demandas de novos investimentos, de mão de obra especializada e, ao mesmo tempo, descortinando importantes questões relacionadas à regulação.

    Atualmente, há uma enorme quantidade de artigos científicos que expressam as possibilidades das nanotecnologias para a solução de vários problemas ligados à saúde, à energia, ao meio ambiente, às tecnologias da informação, ao tratamento de água, aos fármacos e medicamentos, aos cosméticos, entre outros. Além disso, é repertoriado um grande número de produtos (nanoprodutos), os quais têm as "nanotecnologias embarcadas" ou foram concebidos e produzidos usando seus conceitos.

    Neste número temático de Ciência e Cultura, sobre as nanotecnologias, procuramos evidenciar alguns aspectos relacionados à Iniciativa Brasileira de Nanotecnologia, do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), no sentido de não só oferecer ao leitor um panorama bastante geral dessas atividades no Brasil, mas também algumas políticas que norteiam essas iniciativas. Para tanto, Flávio Plentz e Adalberto Fazzio, ambos ligados ao MCTI, fazem considerações sobre o Programa Brasileiro de Nanotecnologia.

     

     

    Neste conjunto, o artigo de Silvia Guterres e co-autoras, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), relaciona a nanotecnologia ao setor de higiene pessoal, perfumaria e, mais notadamente, cosméticos. A escolha vem do fato desse setor produtivo estar se tornando, em nível mundial, um dos grandes incorporadores das nanotecnologias. Tal atividade econômica, no Brasil, já ultrapassa a impressionante cifra de 20 bilhões de dólares de faturamento anual.

    Como para toda a tecnologia nova, questões de riscos e benefícios acabam gerando candentes discussões – no caso das nanotecnologias não seria diferente –, sobretudo porque o impacto das mesmas é esperado em importantes e estratégicos setores industriais. Governos, empresários, cientistas, legisladores e público em geral vêm discutindo essas questões, mormente aquelas ligadas ao risco potencial das nanotecnologias para o homem e o meio ambiente, que são englobadas pela sigla EHS, do inglês Environmental, Health and Safety. Considerando essa perspectiva, o artigo de Diego Stéfani Teodoro Martinez e Oswaldo Luiz Alves, ligados ao Laboratório de Química do Estado Sólido (LQES) e ao Laboratório de Síntese de Nanoestruturas & Interação com Biossistemas (NanoBioss) do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é importante por abordar o problema das interações envolvendo nanomateriais (nanopartículas) "engenheirados" – obtidos sinteticamente –, com biossistemas, propiciando a emergência de uma nova área do conhecimento, altamente multidisciplinar, que vem sendo conhecida como nanotoxicologia. Aqui, a intenção é mostrar a conexão desta emergente disciplina, com questões da própria regulação das nanotecnologias.

    O desenvolvimento da ciência e tecnologia depende fundamentalmente de métodos, ferramentas e técnicas. As nanotecnologias têm entre suas techniques de choix as microscopias, aqui tomadas em senso largo. O artigo de Fernando Galembeck, atual diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia, no Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais, trata desse assunto, enfoca as microscopias de sonda e, mais especificamente, a microscopia de força atômica (AFM) e toda uma gama de configurações que a transformaram numa verdadeira "plataforma de microscopias". São apresentados vários exemplos onde essas ferramentas podem ser utilizadas com sucesso e que vão desde a avaliação de aspectos topográficos até a medida de potenciais elétricos de nanomateriais.

    Finalmente, Mahendra Rai, professor da Universidade SGB Amravati, na Índia, tratará daquilo que vem sendo colocado como uma alternativa bastante interessante para a produção de alguns tipos de nanomateriais (nanopartículas), ou seja: a nanotecnologia verde (green nanotechnology). No caso em questão, para a produção dos nanomateriais de interesse e com funcionalidades definidas são usados extratos de plantas, biomassa, fungos, bactérias, entre outros. Os nanomateriais formados podem ser empregados como agentes antibacterianos, antimaláricos, no tratamento de água para o consumo humano etc, podendo vir a impactar políticas públicas de saúde em países menos desenvolvidos.

    Muitos artigos reportados na literatura internacional colocam as nanotecnologias como verdadeira panaceia, ou seja: com capacidade para resolver todos os problemas. De nosso ponto de vista, vemos as nanotecnologias como uma grande plataforma de conhecimento científico-tecnológico, intrinsecamente inovadora e multidisciplinar, que aportará o desenvolvimento de novos produtos e soluções tecnológicas relevantes, mas que, no entanto, em muitos casos, terá que se mostrar mais eficiente, mais segura e apresentar uma relação custo/benefício favorável, quando comparadas com as tecnologias convencionais, estabelecidas e testadas anos a fio. Acreditamos, ainda, que ocorrerão situações nas quais teremos sistemas híbridos, constituídos por tecnologia convencional e nanotecnológica, atuando sinergisticamente.

    Em vista dos pontos aqui levantados, não nos parece um exagero desmesurado fazermos coro àqueles que colocam as nanotecnologias como uma nova revolução científica e tecnológica.

     

    Oswaldo Luiz Alves é professor titular e coordenador científico do Laboratório de Química do Estado Sólido (LQES), do Instituto de Química da Unicamp. Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Email: oalves@iqm.unicamp.br.

     

    NOTA BIBLIOGRÁFICA

    1. Para conhecer aspectos básicos da nanotecnologia veja Alves, O.L., "Cartilha sobre nanotecnologia", Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). 2010. Disponível em PDF: . http://lqes.iqm.unicamp.br/images/publicacoes_teses_livros_resumo_cartilha_abdi.pdf (Acesso em maio de 2013).