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Ciência e Cultura
versión impresa ISSN 0009-6725
Cienc. Cult. vol.65 no.3 São Paulo jul. 2013
http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252013000300024
MARCO AURÉLIO CREMASCO
CENA DE BOLERO ET PIROUETTE
Por que te amo? (brás bas), porque te amo (demi plié). Não há outra razão a não ser a de te amar (en face). Por amar-te e assim eu te amo. Te amo porque ninguém haveria de amar-te como eu (atittude derriére). Por que te amo? (allongé). Simplesmente por não haver motivo para não te amar (en avant). O tempo encarregou-se de traçar rugas em nossas faces (battement glissé), flacidez em nossas coxas (battement frappé) e frigidez nos calores ocasionais do ocaso (reverence). Também se incumbiu de nos trazer tudo o que a vida nos reservou (pas): angústia, medo (elancé), receio, mesquinhez (gran jeté); e te amo na falta da lucidez (balancé), no ciúme dos crimes e na paixão ensandecida dos santos (tours en l'air). Ah! Então te amo (battement). Amo com a razão dos elefantes (glissade dessous) de jamais esquecer e com a memória dos ratos de pôr tudo a perder (pas de chat). Te amo na falta de ter de procurar-te nos cantos deste e daquele lugar (flic-flac), onde sempre estiveste mesmo não estando (entrechat), guardando segredos de tudo ser um pouquinho de ti em paraíso (sissone). Então te amo. Por que te amo? (ronds de jambe), porque te amo (cambré). Não há outra razão a não ser a de te amar (assemblé) e te amo. Te amo porque ninguém haveria de amar-te como eu. Como em uma ladainha (deboulés): repetido, calmo, repetido, réptil antigo deslizando na árvore do pecado (glissade en avant) e em poder dizer-te (temps de flèche): se o preço pago para tê-la é padecer no inferno (changements), então me condene, ó Senhor Deus dos Martírios! (saut d'ange en arabesque) por amá-la mais do que Te amo (en terre).
(pour Solange)
Marco Aurélio Cremasco nasceu em Guaraci (PR), é professor titular na Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tem publicado os livros técnicos Fundamentos de transferência de massa, Vale a pena estudar engenharia química e Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos. Publicou os livros Vampisales (poemas), Viola Caipira (poemas), A criação (poemas), fromIndiana (poemas), Santo Reis da Luz Divina (romance) e Histórias prováveis (contos). Em 2010 foi contemplado com a Bolsa Funarte de Criação Literária para a escrita do romance Evangelho do Guayrá. Cena de bolero et pirouette é inédito.