SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.66 issue3 author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

    Related links

    • On index processCited by Google
    • Have no similar articlesSimilars in SciELO

    Share


    Ciência e Cultura

    On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.66 no.3 São Paulo Sept. 2014

    http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252014000300022 

    CULTURA
    POESIA

     

    Domício Proença Filho

     

     

    À GUISA DE POÉTICA

    Não aprendi lições de pedra, de deserto, ou a essência do verbo, esses mistérios.

    Que outros, não eu, lapidem cores, música, perfume, à luz do Sonho, finas transcendências, marmorem o verso a construir da vida a mímese monumental em estrofes cristalinas ou de qualquer outro mineral talhado a jeito de ourives ou de laser, atos afins, misteres.

    Ao leito, por outro lado, estreito da redondilha prefiro o cerne da ilha e a realidade concreta e carnal.

    Não catarei feijões de poesia há quem, poeta maior, que os cata bem melhor e recuso-me a buscar faces perdidas no espelho das águas do rio inexorável.

    Com palavra até que brigo pesar do esforço da guerra. Ergo, não teço, não talho, não sonho, não procuro: No meio desse fogo cruzado recruzado arisco diante do muro e do logro assumo apenas o risco do jogo.

     

    MORRER DE AMOR?

    Se se morre de amor! - não, não se morre.

    Gonçalves Dias

    O último coytado congelou-se nos versos do passado.

    Morrer de amor é hipérbole romântica discurso sedutor amor monologado que é quando esquizofrênico, frustrado, longe de ser fatal, alimenta narcisismos vitimizados.

    Amor, amor, não mais ilude e se acaso por amor peço socorro (o que costumo fazer muito amiúde) é que morro porque de amor não morro mais que pude.

     

    VOYEURISMO

    Crepúsculo, o corpo, matutino o olhar aquoso, refluxo de vagas, arcoirisado de luzes verde-ouro lábios-cintilações expectâncias a larga praia alerta, algas esparzidas, asas, guelras, o mistério negro e rubro, ave do paraíso, peixe, concha e pérola, as colunas do templo guardiãs de sonhos molhados e o movimento veludoso tênue leve, o sorriso com sabor de mel e de viagem.

     

     

    Extraídos de: Proença Filho, Domício. 1a.ed. O risco do jogo: poemas. São Paulo: Prumo, 2013.

     

     

    Domício Proença Filho é poeta, ficcionista, professor, crítico, roteirista e promotor cultural. Membro da Academia Brasileira de Letras, é autor de uma vasta obra. Os poemas aqui publicados fazem parte do livro O risco do jogo (São Paulo, editora Prumo, 2013).