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    Ciência e Cultura

    versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.66 no.4 São Paulo out./dez. 2014

    http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252014000400005 

     

    FEBRE DE CHIKUNGUNYA

    Conheça melhor a doença que está chegando ao Brasil e pode causar uma epidemia pelo país

     

    Com nome complicado e ainda pouco conhecido pelos brasileiros, a febre de Chikungunya está chegando ao país. A doença é, em alguns aspectos, similar à dengue. Além de sintomas parecidos, a semelhança mais importante é o modo de transmissão: a picada do mosquito Aedes aegypti. Por esse motivo, sua propagação pelo Brasil é quase certa. É possível, até mesmo, que gere uma epidemia no futuro próximo.

    "O Brasil apresenta todas as condições para que ocorra uma epidemia", diz Vitor Laerte, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz de Brasília e consultor do Ministério da Saúde para a febre de Chikungunya. "Toda a população é suscetível, o vetor é competente para transmissão do vírus e é disseminado em quase todo território nacional".

    No dia 16 de setembro, o Ministério da Saúde registrou dois casos da febre de Chikungunya no município de Oiapoque, no Amapá, em pessoas que não viajaram para países onde ocorre transmissão da doença. Esses foram os dois primeiros casos de transmissão dentro do país, chamados de autóctones. Nas duas semanas seguintes, foram confirmados mais 41 casos autóctones no Brasil, dentre os quais 33 no município de Feira de Santana, na Bahia, e mais oito em Oiapoque.

     

     

    A febre de Chikungunya foi descrita pela primeira vez em um surto na Tanzânia em 1952. Seu nome deriva de uma palavra de um dialeto de tribos africanas chamado Kimakonde. A tradução próxima é "se contorcer", provavelmente devido à forte dor causada pela doença nas articulações. Em dezembro de 2013, a febre foi diagnosticada na ilha caribenha de São Martinho. Até setembro de 2014, segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), já haviam sido confirmados mais de 10.600 casos nas Américas, incluindo países próximos ao Brasil, como Venezuela e Colômbia.

    MECANISMOS E SINTOMAS A febre de Chikungunya é causada por um vírus do gênero Alphavirus, que ataca os macrófagos, células de defesa do corpo, e pode se alojar nas articulações, causando dor intensa nessas regiões. Esse e outros sintomas característicos da doença, que incluem febre alta, dor de cabeça, náuseas e manchas pelo corpo, geralmente aparecem de 4 a 8 dias após a picada do mosquito. Na maior parte dos casos, a febre Chikungunya apresenta apenas uma fase aguda, que pode durar dias ou semanas. Porém, em uma pequena proporção de casos, as dores nas articulações podem se tornar crônicas e persistirem por meses ou anos.

    "Ainda não se sabe exatamente porque algumas pessoas desenvolvem a forma crônica e outras não", diz André Freitas, médico da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde de Campinas. "Nos pacientes que apresentam a forma crônica, os vírus permaneceram nos macrófagos meses após a infecção inicial. A proporção de pacientes que desenvolve essa forma mais grave é estimada em 10%".

    A doença pode levar ao óbito, porém os casos de mortes relacionados à febre Chikungunya são raros. A infecção de mulheres grávidas, porém, pode trazer sérios riscos para seus filhos. "No momento do parto, mães que têm febre de Chikungunya podem transmiti-la para o recém-nascido", afirma Laerte. "Por conta disso, a criança pode desenvolver doenças graves, como encefalites, por exemplo".

    TRATAMENTOS E PREVENÇÃO Assim como no caso da dengue, não há tratamento específico para a febre de Chikungunya. As recomendações do Ministério da Saúde são direcionadas para aliviar os sintomas, sendo indicado o uso de analgésicos para melhorar o quadro de febre e de dores articulares. O uso de anti-inflamatórios é desaconselhado, pois a diferenciação com dengue pode ser difícil no momento epidemiológico atual do Brasil. Esses medicamentos podem ser utilizados apenas depois de a dengue ser descartada e o diagnóstico da febre confirmado.

    "Existem laboratórios americanos que estão começando a pesquisar uma vacina para a doença", diz Laerte. "Porém, ainda estão em fase experimental e talvez demore anos até que chegue ao mercado".

    Na Universidade de Tulane, nos Estados Unidos, cientistas testaram em primatas uma vacina com o vírus atenuado da febre de Chikungunya. Os animais não desenvolveram a doença e também não apresentaram efeitos colaterais, o que significa que a vacina foi eficiente e segura. Exames em humanos ainda não foram feitos, portanto embora promissora, não há garantia de que os resultados sejam os mesmos, e não há previsão de data para se tornar disponível à população.

    Para prevenção e contenção de uma possível epidemia, o Ministério da Saúde elaborou, no final de 2013, um plano nacional de contingência da doença. Suas principais metas são o treinamento de profissionais da saúde, a divulgação de medidas às secretarias de saúde e a preparação de laboratórios de referência para o diagnóstico da doença. Também houve a elaboração do manual de manejo clínico da febre de Chigunkunya e do guia de vigilância epidemiológica da doença, que será lançado ainda este ano.

    O principal método de prevenção, entretanto, continua sendo o mesmo da dengue – evitar picadas do mosquito Aedes aegypti.

    "Para quem estiver viajando ou for viajar para regiões onde há casos autóctones, é fundamental usar repelente e evitar picadas", diz Freitas. "Para quem viajou para essas regiões e começar a apresentar sintomas, é importante avisar seu médico para que este possa fazer o diagnóstico e notificar a vigilância em saúde. Desta forma, novas transmissões poderão ser evitadas e o tratamento poderá ser realizado adequadamente", orienta.

     

    Ricardo Aguiar