SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.67 número1 índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

    Links relacionados

    • Em processo de indexaçãoCitado por Google
    • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

    Compartilhar


    Ciência e Cultura

    versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.67 no.1 São Paulo jan./mar. 2015

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602015000100004 

    BRASIL
    POLÍTICA DE C,T&I

     

    Investimentos no Nordeste começam a surtir efeitos, mas região ainda enfrenta desafios

     

     

     

    "Nos últimos dez anos, a política de C,T&I no Nordeste impactou fortemente nossa base científica e tecnológica. Ampliamos o número de universidades e instituições de ensino superior, institutos de pesquisa e de ensino tecnológico e de laboratórios especializados". A frase é do diretor geral da Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb), Roberto Paulo Machado Lopes, mas poderia ser de qualquer outro gestor das agências nordestinas de fomento à C,T&I. Os investimentos já se refletem em alguns indicadores da região. De 2009 a 2013, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) aumentou em 68,8% o número de publicações na base Scopus, passando de 3.216 para 5.429 artigos. A Universidade Federal do Ceará (UFC), por sua vez, passou de três pedidos de patente, no biênio 2008-2009, para 26 no biênio seguinte, de acordo com o Ranking Universitário Folha, de 2014. No ranking das universidades que mais cresceram em número de pedidos de patentes figuram outras duas: a Universidade Federal de Sergipe (UFS), que passou de cinco para 24 pedidos no mesmo período, e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que pulou de três para 14 pedidos.

    De maneira geral, os gestores de C,T&I no Nordeste são otimistas em relação aos próximos anos. Francisco Carvalho, presidente da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) até dezembro de 2014, ressalta que, se os investimentos continuarem no ritmo atual e a política de interiorização do ensino superior permanecer, o futuro é promissor. "Estudos já foram feitos para formular políticas em C&T no Nordeste, abrangendo as demandas estaduais com uma visão de aplicação de curto, médio e longo prazo, através do Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento do Nordeste. Também estamos vendo os resultados do Fundo de Inovação Tecnológica do Estado do Ceará (FIT), programa estratégico de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica, que tem beneficiado instituições de pesquisa e ensino, apoiado a inovação empresarial, promovido melhoria da infraestrutura tecnológica e de projetos estruturantes e polos tecnológicos", relata Carvalho. "Temos recebido inúmeras missões estrangeiras com interesse efetivo de consolidar parcerias nas diferentes áreas. O crescimento de grupos de excelência também é visível. Basta analisar a demanda qualificada que a fundação tem tido nos seus recentes editais", afirma Abraham Benzaquen, da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe). Para o diretor geral da Fapesb, nos próximos anos, a Bahia e o Nordeste já terão alcançado um patamar bem mais elevado em C&T e construído as condições necessárias para tornar-se referência nacional. "Com o amplo trabalho que vem sendo desenvolvido pelas FAPs e demais instituições de apoio à pesquisa científica e tecnológica e de inclusão social, creio que uma parcela muito maior da população terá domínio tecnológico", diz. "O crescimento recente da formação científica e a criação de novas universidades, como a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), consolidam nossa crença de que os avanços continuarão e serão potencializados com uma característica importante: permitir uma melhor distribuição espacial da base científica e das oportunidades de desenvolvimento tecnológico", afiança o gestor baiano.

    O desafio da qualidade A opinião do secretário de C&T de Fortaleza, Tarcísio Pequeno, é menos otimista em relação aos colegas, pelo menos em âmbito nacional: "Estamos passando por uma troca de poder tanto no plano federal como no plano estadual. No plano federal não há perspectivas muito positivas por conta da situação macroeconômica e das pressões do mercado financeiro e da imprensa, que provavelmente resultarão em cortes de verba pública e, como todos sabemos, a área de ciência e tecnologia sempre está na linha de frente da lâmina de corte. As perspectivas não são boas. No entanto, no plano estadual, pode-se antever uma melhora, dada a natureza do governo entrante, muito aberto ao diálogo e consciente da importância da ciência e tecnologia na construção de uma nova estratégia para o desenvolvimento do estado. É lícito esperar, por exemplo, que, pela primeira vez, o recurso previsto constitucionalmente em 2% da receita tributária líquida para a Funcap seja honrado", aponta. Apesar de avanços no cenário de publicações e pedidos de patentes das universidades da região, nenhuma delas figura entre as 10 melhores do país no Ranking Universitário Folha. O aumento significativo dos investimentos não significa melhora na qualidade das pesquisas, como destaca o professor Gilson Volpato, da Universidade Estadual Paulista (Unesp): "A diminuição das disparidades na qualidade científica em nosso país não depende somente de dinheiro, mas de educação. O processo de formação de cientistas no Brasil é antiquado e equivocado, ao menos aquele que se concentra na pós-graduação. Com isso, núcleos de pesquisa tradicionais e que se concentram em certos estados acabam se destacando", enfatiza.

    Os problemas não se restringem à qualidade da pesquisa. Para Tarcísio Pequeno, as políticas de financiamento ainda são escassas. "Esse financiamento tem que ser disputado em editais, normalmente dirigidos à inovação, em que frequentemente os órgãos públicos não podem competir. Essa é a principal dificuldade que temos. O sistema de C,T&I não está preparado para apoiar órgãos como o nosso", finaliza.

     

    Giselle Soares