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    Ciência e Cultura

    On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.67 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2015

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602015000100008 

    MUNDO
    ENERGIA

     

    Desafios para geração de energia na América Latina

     

     

    O uso das fontes de energia renováveis será cada vez mais importante para o desenvolvimento sustentável na América Latina. O Brasil, por exemplo, mesmo dispondo de fontes de geração de energia hidrelétrica, terá que lidar com mudanças ambientais que afetam a disponibilidade da água.

    Segundo pesquisadores do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) já é possível observar alterações no fluxo e disponibilidade de água na América do Sul, o que deverá afetar regiões já vulneráveis. No Brasil, a recente seca da nascente do Rio São Francisco, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e a diminuição do nível do Sistema Cantareira, em São Paulo, parecem apontar nessa direção. Para o professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Carlos Alberto Mariottoni, "períodos de seca deverão se tornar mais frequentes no mundo nos próximos anos". "Nas últimas décadas a Cordilheira dos Andes encolheu quase metade de sua camada de gelo e isso tem a ver com a disponibilidade de água potável", diz ele.

    Karin Kemper, conselheira sênior do Banco Mundial para América Latina e Caribe, afirma que uma combinação de dois fatores deve nortear as políticas públicas em relação à água e à energia. "Em certas bacias hidrográficas haverá uma diminuição das chuvas e da vazão. Mas, mesmo nas bacias em que isso não ocorrer, o padrão sazonal mudou - temos episódios de secas mais longos e picos de cheia mais intensos", disse ela, que apresentou o relatório do Banco Mundial "Turn Down The Heat - Confronting the New Climate Global" em dezembro de 2014, em Washington (EUA).

    Adaptação Karin ainda menciona que a maioria das obras de infraestrutura, para gerar energia ou não, é planejada de acordo com padrões observados de comportamento climático. Nos últimos anos, entretanto, o comportamento do clima tem se tornado cada vez mais imprevisível.

    Por exemplo, uma usina de geração elétrica a gás precisa de água para resfriamento de suas turbinas. Essa água geralmente é retirada de um rio, voltando para ele depois de completar o ciclo na usina termelétrica. "No entanto, se a temperatura da água do rio aumentar acima de certo nível, a usina vai ter que parar, pois, do contrário, irá despejar água quente demais no rio, o que teria um impacto desastroso para o ecossistema", explica Karin no relatório do Banco Mundial.

    Além disso, segundo a analista, países latino-americanos deveriam "complementar a geração de energia hidrelétrica investindo na geração de energia térmica baseada em fontes mais alternativas como lixo ou biomassa, energia eólica e solar, criando matrizes energéticas diversificadas, cada uma com vantagens e desvantagens".

    O pesquisador da Unicamp, Alberto Mariottoni, também defende o desenvolvimento de fontes diversas para geração de energia. Segundo ele, "os países devem bus-car diminuir a emissão de gases de efeito estufa, em todas as atividades econômicas, incluindo a geração de energia".

    Ele lembra, no entanto, que o desenvolvimento dessas fontes não é barato e que elas exigem investimentos em infraestrutura elevados. "O Brasil já está recuperando o atraso em relação à energia eólica e solar. Em 2014 vimos leilões importantes nessa área no país", comenta.

    O desenvolvimento sustentável depende de mudanças relacionadas à geração de energia. Essas mudanças, como notam os especialistas, passam não apenas pela oferta, mas também pela demanda energética. O Brasil está em uma posição privilegiada para coordenar esse processo, tem uma matriz energética razoavelmente limpa e é um dos líderes nas negociações globais sobre meio ambiente. Mais mudanças e investimentos, porém, são necessários.

     

    Ricardo Manini