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    Ciência e Cultura

    versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.67 no.1 São Paulo enero/mar. 2015

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602015000100022 

    CULTURA

     

    Teatro: insubmissas - Mulheres nas ciências

     

     

     

    Investigar a relação da arte com a ciência é o objetivo do núcleo Arte Ciência no Palco (ACP). Criado em 1998, na cidade de São Paulo, o grupo se especializou em desenvolver espetáculos teatrais sobre temas científicos. Insubmissas: mulheres nas ciências é a mais nova peça que o grupo apresentou ao público. Com texto do dramaturgo Oswaldo Mendes e direção de Carlos Palma, o espetáculo partiu de um questionamento de um grupo de atrizes do ACP sobre a falta de exemplos femininos na história das ciências. Apesar de não terem se conhecido, as cientistas Hipácia de Alexandria (370 e 415 d.C.), Marie Curie (1867-1934), Bertha Lutz (1894-1976) e Rosalind Franklin (1920-1958) são colocadas juntas no palco, onde contam suas experiências, conquistas e tragédias.

    Três das personagens retratadas na peça - Marie Curie, Bertha Lutz e Rosalind Franklin - construíram suas carreiras científicas em finais do século XIX e primeira metade do século XX, período em que mudanças nas condições econômicas, políticas e sociais facilitaram o ingresso de mulheres em instituições científicas. O avanço dos movimentos feministas, a profissionalização das ciências, a especialização de disciplinas e a modernização da sociedade em curso naquele período, criaram novas oportunidades para as mulheres que começaram a frequentar universidades e se inserir no mundo das ciências de forma muito mais intensa do que no séculos anteriores. As mulheres retratadas na peça são pioneiras, mas talvez a maior das Insubmissas seja Hipácia. Matemática, astrônoma e filósofa, ela lecionou na Universidade de Alexandria em um período em que a presença de mulheres na academia era ainda mais incomum. A cientista morreu apedrejada.

    Desigualdade Alguns dramas pessoais são relembrados na peça. Um deles é o escândalo que envolveu o nome de Marie Curie após a mor-te de seu marido. Acusada de relacionar-se com Paul Lanvegin, um homem casado e mais novo do que ela, Madame Curie foi humilhada pela imprensa francesa e quase não compareceu à cerimônia onde receberia seu segundo Prêmio Nobel, em 1911. Oswaldo Mendes discute o machismo que permeou a vida dessas mulheres por meio de um diálogo entre Madame Curie e sua filha, Irene Curie, também cientista, onde as personagens questionam o quão poderia ter sido diferente a repercussão do caso se seu protagonista fosse um homem.

    O fato de Bertha Lutz, Hipácia e Rosalind Franklin nunca terem se casado ou tido filhos também é lembrado e remete a um problema que as cientistas enfrentam até os dias de hoje: a divisão do trabalho doméstico. Apesar dos espaços conquistados, as desigualdades no âmbito doméstico ainda fazem com que a decisão por constituir uma família pese mais para as mulheres. Enquanto algumas escolhem não se casar ou não ter filhos, e também sofrem preconceito por isso, outras se desdobram para cumprir dupla jornada de trabalho. O resultado desse cenário desigual é que boa parte das mulheres acabam por diminuir

    o ritmo de suas carreiras científicas enquanto seus companheiros prosperam. As histórias que o espetáculo conta mostram que a divisão injusta do trabalho e o predomínio masculino nas instituições científicas são fatores responsáveis pela exclusão das mulheres do mundo da ciência.

     

     

    Construindo Atalhos O movimento feminista do início do século XX encontrou na criação dos filhos um pretexto ideal para impulsionar a educação feminina. Sob o argumento de que mães e esposas instruídas educariam melhor seus filhos, grupos de mulheres uniram-se em associações a favor da educação feminina. No Brasil a naturalista Bertha Lutz, pesquisadora do Museu Nacional, foi uma das figuras mais significativas da luta pelos direitos iguais entre homens e mulheres e na defesa da educação feminina.

    A educação proporcionada às meninas nas primeiras décadas do século XX abriu caminho para a subsequente ocupação feminina nas universidades, mas ainda havia problemas na qualidade do ensino e na separação de espaços dentro das instituições. Historicamente as mulheres estão mais presentes em disciplinas científicas de menor status e remuneração. Um exemplo disso é a concentração em campos das ciências naturais como botânica, história natural e zoologia, menos valorizadas do que as ciências exatas ou médicas. Até os dias de hoje os cursos de engenharias, física, computação etc. têm maior presença masculina, enquanto áreas como educação, enfermagem, botânica ou farmácia são majoritariamente ocupadas por mulheres nas universidades.

     

    Mariana Sombrio