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    Ciência e Cultura

    versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.67 no.2 São Paulo abr./jun. 2015

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602015000200005 

    NOTÍCIAS DO BRASIL
    MUSEU ITINERANTE

     

    A divulgação científica na malha rodoviária

     

     

    Jessica Norberto Rocha

     

     

    A exposição com as esculturas hiperrealistas do escultor australiano Ron Mueck, encerrada em fevereiro deste ano, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, registrou a marca de 402.119 visitantes. O Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, bateu seu recorde de público, quase um milhão de pessoas, com as pinturas do pintor catalão surrealista, Salvador Dalí, no ano passado.

    Os dois casos, porém, são exceções no cenário brasileiro. Segundo a Pesquisa de Percepção Pública da Ciência 2010, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), apenas 14,1% do público entrevistado afirmou ter visitado um museu de arte no ano anterior à pesquisa. Um número ainda menor de pessoas, 8,3%, visitou museus ou centros de ciência e tecnologia.

    A importância dos museus na formação cultural das pessoas é indiscutível. Da mesma forma, os museus e centros de ciência são fundamentais para compreender o papel da ciência, tecnologia e inovação na sociedade e para despertar o interesse pelo conhecimento científico. O que fazer, no entanto, se o hábito de visitar museus de ciência ainda é incipiente? Ora, se as pessoas não vão aos museus, eles podem ir até elas. Isso é o que fazem os museus itinerantes e os projetos de ciência móvel que têm crescido no Brasil nos últimos anos. Hoje, já são 32 projetos, dentre eles o Ciência Móvel, da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro e a Oficina Desafio, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, em São Paulo), ambos iniciados em 2006. No ano seguinte teve início a Caravana da Ciência, da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj) e, mais recentemente, começou a circular o Museu Itinerante Ponto UFMG, da Universidade Federal de Minas Gerais, em 2012, e o Museu Itinerante, do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, Inmetro, também no Rio de Janeiro, em 2014.

    CIÊNCIA MÓVEL Os projetos de ciência móvel e museus itinerantes surgiram como alternativa para enfrentar o desafio de descentralizar a divulgação científica nos núcleos urbanos.

    No Brasil, o centro de ciência pioneiro em termos de itinerância foi o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), com a iniciativa "O Museu vai à Praia", em 1987, no Rio de Janeiro. O primeiro projeto que adquiriu uma carreta - para, além de transportar a exposição científica, ser adaptada para se transformar em um espaço de exposição -, foi o Projeto de Museu Itinerante (Promusit), criado no Rio Grande do Sul, em 2001, pelo professor Jeter Bertoletti, do Museu de Ciência e Tecnologia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). O Promusit estimulou a criação de outros projetos no país. Em 2004, o edital "Ciência Móvel", lançado pela Academia Brasileira de Ciências e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, marcou a institucionalização da ideia no país. Naquela ocasião, oito projetos dos estados do Pará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo foram contemplados e adquiriram veículos.

    A partir daí, novos projetos têm sido implementados, utilizando carretas, ônibus, vans e micro-ônibus, especialmente adaptados e equipados. Rompendo os limites dos museus convencionais, eles chegam às periferias das grandes cidades, zonas rurais e cidades de portes pequeno e médio, estacionam nas praças e escolas, montam suas exposições e estimulam crianças, jovens e adultos a conhecer e se interessar pelo universo científico.

     

     

    A Caravana da Ciência, por exemplo, atendeu, em sete anos de itinerância nos bairros, comunidades da cidade do Rio de Janeiro e outros 40 municípios do estado, 260 mil alunos agendados, fora o público espontâneo. O Ciência Móvel, que já percorreu 77 cidades da região Sudeste do país, recebe, por ano, aproximadamente 80 mil pessoas. Esses projetos fazem, em média, 20 saídas anuais e permanecem por volta de cinco dias em cada localidade.

    ALTO CUSTO Apesar de estarem na estrada com tanto fôlego há alguns anos, as unidades móveis ainda enfrentam desafios. Um deles é o alto custo financeiro que esses projetos representam para suas instituições que, originalmente dedicadas à pesquisa e ao ensino, muitas vezes não estão preparadas para atender à demanda específica da divulgação científica. A cada saída, é necessário reparar, trocar, pintar partes dos experimentos interativos da exposição que estragam e quebram por causa da manipulação dos visitantes e da rotina de montagem e desmontagem. A manutenção e o seguro dos veículos também têm custo alto por conta da frequência com que estão na estrada.

    APROXIMAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E PÚBLICO Outro desafio é a atualização das exposições e da abordagem comunicativa. O ideal é criar exposições mais dialógicas que propiciem canais de debate entre a ciência, a tecnologia e a sociedade, que discutam várias áreas da ciência, e não apenas as áreas da física, química e biologia e que tragam pesquisas que estão sendo desenvolvidas atualmente nas instituições brasileiras. Um bom exemplo é o Museu Itinerante Ponto UFMG, que apresenta um estudo sobre antropologia antártica, desenvolvido na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas dessa universidade.

    Os museus e centros de ciências itinerantes também estão sendo desafiados a intensificar cada vez mais a relação museu e escola, principalmente com os professores. Visando minimizar a distância com o público, os projetos têm desenvolvido atividades que vão além da exposição e itinerância. O Museu Itinerante Ponto UFMG realiza, há dois anos, a Feira Brasileira de Colégios de Aplicação e Escolas Técnicas (Febrat), além de produzir materiais didáticos, vídeos e jogos que são disponibilizados nas suas viagens e podem ser baixados gratuitamente na sua página na in ternet (www.museu.cp.ufmg.br).

    A Caravana da Ciência, por sua vez, tem buscado integrar o público em produções criativas por meio dos concursos de literatura e de fotografia, que, este ano, têm como tema a luz, para comemorar o Ano Internacional da Luz, declarado pela Unesco. Ambos os projetos, também, desenvolvem pesquisas na área de divulgação científica e oferecem programas de formação de divulgadores de ciência, buscando capacitar e formar, nas cidades visitadas, uma expertise local e multiplicadora.

    PÉ NA ESTRADA AS unidades móveis de ciência e tecnologia têm um papel fundamental no aprimoramento da cultura científica e na percepção pública sobre o papel da CT&I no desenvolvimento científico e tecnológico do país. Entretanto, elas ainda são insuficientes face à demanda brasileira. As recentes experiências precisam ser aperfeiçoadas e multiplicadas de modo a criar, nos próximos anos, uma malha rodoviária de divulgação científica em todo país.