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    Ciência e Cultura

    On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.67 no.2 São Paulo Apr./June 2015

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602015000200006 

    NOTÍCIAS DO MUNDO
    CIDADES FANTASMAS

     

    Fatores distintos, como eventos naturais ou crises economicas e sociais, podem esvaziar uma cidade

     

     

    Patrícia Piacentini

     

     

     

     

     

    O filme Tomates verdes fritos, produção norte-americana de 1991, se passa em uma cidade fantasma Whistle Stop, no estado do Alabama, Estados Unidos. Embora Whistle Stop seja uma criação do cinema, as cidades fantasmas existem na vida real e há exemplos em todos os cantos do planeta. É o caso de Detroit, nos Estados Unidos, Pryipat (Ucrânia), Ouradour Sur Glâne (França), Gunkanjima (Japão), Kolmanskop (Namíbia), Epecuén (Argentina), Humberstone (Chile), e Fordlândia (Brasil). Segundo José Eustáquio Diniz Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE), são muitos os fatores que podem transformar um local em cidade fantasma. "A história da humanidade está repleta não só de cidades mas também de civilizações que desapareceram devido às crises econômicas, sociais e ambientais".

    Para Fabrício Gallo, professor do Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento da Universidade Estadual Paulista (Unesp), tanto os eventos naturais, como grandes secas ou terremotos, quanto as ações antrópicas podem ser os motores desse processo. Ele destaca, no entanto, que é difícil comparar situações distintas entre países. "As realidades e motivos que levaram cada localidade a ser considerada 'fantasma' são bem diferentes. Inclusive, na forma como o Estado pode intervir ou não para mudar essa realidade. Por exemplo, a França é um país unitário, por isso o governo central, se quiser, pode injetar recursos financeiros em Ouradour Sur Glâne para melhorar os acessos a essa cidade, que é mantida em ruínas para preservar a história daqueles que morreram na Segunda Guerra Mundial". No Brasil, por ser uma federação, isso não acontece. "A administração local de um município como Aveiro, no Pará, pode ou não investir na área de Fordlândia. Entretanto, em geral, esses recursos são insuficientes e há a dependência de recursos do estado e da União, ou seja, há a necessidade de uma articulação para obtenção do dinheiro para transformar um lugar", compara Gallo.

    GUERRA DE LUGARES O tipo de atividade econômica também deve ser considerado. "Creio que o grande capital tem poder de ação na escala das cidades, que pode impor e determinar que tipo de atividade econômica será exercida naquele ponto do planeta. Algumas correntes da geografia chamam isso de especialização funcional dos lugares, capaz de criar sinergias entre as empresas instaladas no lugar e, com isso, potencialmente fazer a atividade produtiva florescer", analisa. Porém, caso não ocorra a prosperidade econômica esperada, toda uma cidade pode deixar de ser atraente ao capital e ser abandonada.

    "O poder de ação das grandes empresas internacionais na escala dos lugares é muito elevado. O que se tem que levar em conta é que a escolha da implantação de um empreendimento atende uma lógica. Se um dia essa lógica mudar, o lugar originalmente escolhido pode ser abandonado para ser substituído por outro mais atrativo - é o que chamamos, também, de guerra dos lugares", explica.

    É difícil traçar o futuro da população que foi obrigada a deixar uma cidade fantasma. "A população pode ter uma redução da qualidade de vida se não conseguir se inserir produtivamente em outro lugar ou pode ter uma melhor qualidade de vida se for para uma cidade que ofereça melhores perspectivas", conta Alves. No mesmo sentido, Gallo concorda que não há como prever tal condição. "Se uma população saiu de um lugar (que deixou de ser atrativo) ela pode ter encontrado condições melhores em outros pontos. Neste caso, o retorno será pouco provável".

    RECUPERAÇÃO AMBIENTAL As cidades fantasma podem ter um lado benéfico. "Do ponto de vista ecocêntrico pode ser um grande avanço para as demais espécies vivas do local. Há vários exemplos de civilizações e cidades que desapareceram e o meio ambiente se recuperou rapidamente dos danos causados pelas atividades antrópicas". Exemplo disso é Igatu, na Chapada Diamantina (BA), uma cidade fantasma que já foi povoada por garimpeiros e familiares em busca de diamantes, mas hoje é um destino turístico. "O fim das atividades mineradoras foi ótimo para o meio ambiente. Em geral, as atividades de garimpo e mineração degradam muito a natureza. Entretanto, o turismo, se não for bem controlado e planejado, também pode ter impacto degradador. Ecossistemas ricos, como o da Chapada Diamantina, deveriam ficar o mais longe possível dos efeitos deletérios da atividade humana", opina Alves.