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    Ciência e Cultura

    On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.68 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2016

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602016000100018 

    ESPORTES

     

    Somos todos indígenas

     

     

    Vera Regina Toledo Camargo

     

     

    De acordo com dados da Fundação Nacional do índio (Funai), o estado do Tocantins tem uma população aproximada de 10 mil indígenas. Krahô, Krahô Canela, Karajá, Karajá Xam-bioá, Apinajé, Xerente e Javaé são algumas das etnias distribuídas em mais de 82 aldeias. Entre 19 de novembro e 1º de dezembro de 2015, no entanto, essa população se multiplicou. A capital de Tocantins, Palmas, recebeu a 1ª edição dos Jogos Mundiais Indígenas, que teve como lema "Agora somos todos indígenas". Segundo o Ministério do Esporte, 104 mil estiveram nos jogos, injetando R$ 2,5 milhões na economia do estado. A programação foi intensa com a participação de 24 etnias brasileiras, 23 delegações de outros países. 1129 atletas indígenas nacionais e 566 internacionais. 250 pessoas participaram dos jogos como voluntários e 300 jornalistas nacionais e de outros países fizeram a cobertura do evento. Os Jogos Mundiais Indígenas foram patrocinados pelas Nações Unidas e pelo Ministério do Esporte e coordenados pelo Comitê Intertribal, Memória e Ciência Indígena e pela prefeitura da cidade de Palmas.

    A programação foi dividida em jogos de integração, com atividades tradicionais praticadas pelos povos indígenas brasileiros como arco e flecha e arremesso de lança; jogos de demonstração, aqueles específicos de determinada etnia como a corrida com toras, jogo de bola com a cabeça, peteca entre outros; e, finalmente os jogos ocidentais, com esportes incorporados pela cultura indígena como o futebol, corrida e o cabo de força. Os jogos indígenas não foram concebidos como uma competição tradicional, mas como celebração, uma festa ritual em que as identidades culturais de todas as etnias presentes devem estar representadas. Mais do que um evento esportivo, o objetivo dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas é valorizar a cultura indígena, proporcionar a troca de valores e de experiências entre os povos de várias nações. Nesse sentido, segundo Marcos Terena, organizador e idealizador dos jogos, esses objetivos foram atingidos.

     


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    ALÉM DOS JOGOS

    Os jogos tiveram início com a cerimônia de acendimento do fogo sagrado na Praça dos Girassóis, no centro de Palmas, exatamente após o pôr do sol. Além dos jogos propriamente ditos, o evento proporcionou um grande encontro cultural com apresentações de música e danças, exposições e comércio de artesanato indígena. Na feira da agricultura familiar indígena aconteceu a apresentação e troca de sementes e alimentos oriundos de terras indígenas. Com acesso livre à internet, a Oca Digital ofereceu minicursos na área de tecnologia de informação. Diversos livros com temática indígenas foram lançados nesse espaço.

    Paralelamente aos jogos aconteceu o Fórum Social dos Jogos Mundiais Indígenas que teve como tema "sustentabilidade e mudanças climáticas". Foi consenso entre os líderes das comunidades indígenas brasileiras a necessidade de representação no Congresso Nacional. Os resultados dos debates sobre desmatamento, escassez de água e demarcação de territórios foram resumidos na Declaração dos Povos Indígenas para a Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 21), realizada em Paris, em dezembro de 2015.

    A realização dos jogos indígenas em Palmas beneficiou a cidade com infraestrutura esportiva construída especialmente para a realização do evento. É importante mencionar a troca de experiências entre a população local e as diversas comunidades indígenas que participaram do evento. O maior legado, no entanto, foi a grande visibilidade que essas comunidades, no Brasil e do mundo, conseguiram ao longo dos jogos. Os próximos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas serão realizados no Canadá, em 2017, sob a coordenação dos Cree, maior comunidade indígena daquele país em termos numéricos. Também ficou decidido que o evento internacional será realizado a cada dois anos e o Conselho Mundial dos Jogos Indígenas terá sede no Brasil.

     

     

    PEC 215
    No dia 28 de novembro, cerca de 100 índios interromperam as competições na Arena Verde para protestar contra a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 na comissão especial da Câmara dos Deputados. Os cartazes contra a PEC estavam na arena dos Jogos e nas arquibancadas. Alguns índios pintaram seus corpos com frases de repúdio à proposta. A PEC 215 altera as regras para a demarcação de terras indígenas, de remanescentes de comunidades quilombolas e de reservas. Pelo projeto, o Congresso Nacional passa a dar a palavra final sobre o tema. O texto proíbe ainda a ampliação de terras indígenas já demarcadas e prevê a indenização de proprietários inseridos nas áreas demarcadas, ainda que em faixa de fronteira. A manifestação durou cerca de 20 minutos e foi pacífica.