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    Ciência e Cultura

    versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.68 no.2 São Paulo abr./jun. 2016

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602016000200005 

    NOTÍCIAS DO BRASIL
    URBANISMO

     

    Ciclovias ajudam a humanizar espaço urbano

     

     

    Juan Costa

     

     

    Na Alemanha nazista, no auge da Segunda Guerra Mundial, surgiu a necessidade de abrir mais espaço para os veículos automotivos. Com muitos ciclistas, as bicicletas viraram um empecilho, forçando a criação de um espaço exclusivo para elas - talvez as primeiras ciclovias do mundo. Mas, se na década de 1940 os veículos eram prioridade, hoje, o uso de bicicletas -e as ciclovias - surge como uma das principais alternativas para melhorar a qualidade de vida nas grandes metrópoles. Para se ter uma ideia, dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) revelam que, em 2014, a frota do estado de São Paulo (com mais de 15 milhões de veículos) foi responsável pela emissão de 417 mil toneladas de monóxido de carbono (CO), entre outros poluentes. A quantidade de emissões tem diminuído ao longo dos últimos anos, mas ainda representa um forte impacto na qualidade do ar, especialmente na região metropolitana de São Paulo, que comporta aproximadamente metade da frota do estado.

    Quando políticas públicas incentivam o uso de bicicletas como meio de transporte para curtas e médias distâncias, um novo panorama se abre. Para o ciclista Roberson Miguel, as ciclovias são uma forma de colocar mais pessoas nas ruas, permitindo reocupar um espaço que é de todos, mas que é tomado quase que exclusivamente pelos carros. Para ele, que utiliza a bicicleta como meio de transporte há cinco anos, as ciclovias colaboram com um resgate da cidadania, integrando uma parcela da população em uma política pública que até então privilegiava uma classe social. Entretanto, "o ideal seria levar as ciclovias até a periferia, onde o uso de bicicleta sempre foi mais intenso", afirma.

     


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    Essa também é opinião de Camila D'Ottaviano, arquiteta e urbanista da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ela, é importante pensar numa malha cicloviária que cubra toda a área urbanizada da cidade, de norte a sul e de leste a oeste, não apenas nas regiões mais centrais.

     

    RESISTÊNCIAS

    Políticas públicas para a cidade de São Paulo buscam ampliar a malha cicloviária e incrementar a ocupação dos espaços públicos pela população, mas não sem resistências. A inauguração da ciclovia em junho de 2015 e o fechamento da avenida Paulista para carros aos domingos dividiram os paulistanos. "Penso que, como qualquer coisa nova, as ciclovias devem passar por ajustes depois de algum tempo de funcionamento", acredita D'Ottaviano.

    Com a ciclovia da Paulista são 307 quilómetros de corredores para bicicletas na capital, boa parte deles construída na gestão do atual prefeito Fernando Haddad. Além de São Paulo, outras cidades do país que também investiram em malhas cicloviárias são Brasília, com 450 quilómetros de ciclovias, a maior país, e o Rio de Janeiro, com 400 quilómetros.

    Na opinião do especialista em mobilidade urbana, editor do portal Mobilize Brasil, Marcos Sousa, quando qualquer prefeito, em qualquer cidade do mundo, começa a tirar espaço do carro e estimular outras formas de mobilidade - coletivos, ciclovias, calçadas mais largas e, portanto, ruas mais estreitas - as reações são sempre polêmicas, mesmo que os dados estatísticos mostrem as vantagens de tais mudanças. "Isso aconteceu na Holanda dos anos 1970, na Dinamarca dos anos 1990, em Nova York agora em 2010-2014, e está ocorrendo em toda a parte", exemplifica.

     

    MAIS HUMANAS

    Para Sousa, a cidade mais humana é aquela na qual as pessoas podem trabalhar, estudar e se divertir sem a necessidade de usar sistemas de transportes que demandem energia externa, como carros, ónibus, trens e metrós. "O ideal seria ter todas as suas necessidades atendidas num raio de, no máximo, três a cinco quilómetros, de forma que as viagens cotidianas pudessem ser feitas a pé ou de bicicleta", explica Sousa. Na opinião dele, as cidades seriam mais limpas, emitiriam menos poluentes, menos ruído e teriam mais espaço para que as pessoas possam desfrutar, com ruas e praças para descansar, brincar e até mesmo trabalhar ao ar livre. "Cidades assim são também mais competitivas, atraem as melhores empresas e os profissionais mais brilhantes", faz questão de ressaltar o especialista.

     

    DIVIDINDO O ESPAÇO

    Pelo Código de Trânsito brasileiro, carros e bicicletas têm os mesmos direitos quando se trata de ocupar as ruas das cidades. A exceção é feita apenas quando a pista for de alta velocidade ou se houver um espaço destinado às bicicletas, como ciclovias, ciclofaixas ou ciclorrotas. A ciclovia é um espaço físico separado da rua. A ciclofaixa é uma pintura na rua, geralmente em vermelho, com algum tipo de sinalização separando seu limite da pista. Já a ciclorrota não possui nenhuma demarcação especial, consiste em um conjunto de informações sobre rotas mais favoráveis para a locomoção de ciclistas na pista comum.