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    Ciência e Cultura

    versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.68 no.3 São Paulo jul./set. 2016

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602016000300007 

    MUNDO
    BIOLOGIA

     

    Abelhas utilizam campos elétricos para identificar flores

     

     

    Victoria Flório

     

     


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    A relação entre abelha e flor é tão intensa que alguns ecólogos atrelam o surgimento e a proliferação das abelhas na Terra ao aparecimento das plantas com flores e frutos (angiospermas). Para se alimentar, as abelhas utilizam os sentidos de visão e olfato, por meio dos quais reconhecem os diferentes tipos de flores por sua cor e cheiro.

    No entanto, existe outra forma de comunicação entre flores e abelhas bastante sofisticada. Invisíveis para os seres humanos, os campos elétricos florais são estímulos percebidos por um sentido especial das abelhas que elas também usam para reconhecer e identificar as flores. Em 2013, um estudo conduzido por Daniel Robert, biólogo da Universidade de Bristol, Inglaterra, e publicado pela Science (vol. 340, pp. 66-69), anunciava uma importante descoberta: as flores estão cercadas por um potencial eletrostático fraco, que surge da interação com a atmosfera. As abelhas são capazes de detectar esses campos elétricos e, por meio do seu formato geométrico, identificar o tipo de flor.

     

    RECOMPENSA DOCE

    Conforme explica o físico Ângelo Danilo Faceto, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), "campo elétrico é o campo de força gerado ao redor de cargas elétricas sujeitas à ação das forças de atração e repulsão, isto é, forças eletrostáticas". A polinização também é afetada por essas forças. Durante o voo, as abelhas esbarram em pequenas partículas - como poeira - que ficam suspensas no ar. Isso faz com que elas percam elétrons por atrito em um processo conhecido como eletrização por atrito. Resultado: a abelha fica positivamente carregada. Já as flores, apesar de aterradas, acumulam carga negativa nas pétalas graças ao campo elétrico atmosférico em torno delas - cerca de 100 volts para cada metro acima do solo. Como cargas opostas se atraem, essa diferença de potencial faz com que as partículas de pólen (carregadas negativamente) "saltem" em direção às abelhas (carregadas positivamente) quando elas se aproximam das flores.

    Para Robert, que pesquisa os mecanismos através dos quais os organismos identificam e reconhecem um ambiente, tanto em nível molecular como comportamental, a relação das abelhas com os campos elétricos das flores representou uma pista importante. Ele e sua equipe - formada pelo físico Dominic Clarke e pela botânica Heather Whitney - passaram a estudar o processo de aderência eletroestática do pólen entre as abelhas da família Apidae, gênero Bombus, conhecida popularmente como mamangaba (em inglês bumble bee), bastante comum no Brasil e que atua na polinização do maracujá.

    No experimento em laboratório com flores artificiais, as abelhas aprenderam a distinguir entre as flores que ofereciam como recompensa o açúcar e eram carregadas com voltagem externa de +20 V, e interna de -10V, daquelas com uma solução amarga de quinina, com voltagem homogênea de +20 V. Quando o potencial de ambas as flores foi alterado para +20 V, as abelhas não conseguiam mais distinguir entre elas, demonstrando que o campo elétrico é levado em consideração na escolha das flores pela abelha. Como essas pistas de natureza eletrostática atuam em conjunto com outras características como o cheiro e a cor das flores? Os pesquisadores descobriram que, apesar de os campos elétricos servirem como elementos identificadores individualmente, eles atuam melhor em conjunto com as demais características das flores. No experimento realizado na Universidade de Bristol, na Inglaterra, eles observaram que as abelhas conseguem distinguir melhor entre dois tons de verde usando informação do campo elétrico da flor. Esse sentido especial desses insetos, tão importantes na polinização, funcionaria também para aumentar a velocidade e precisão com que elas reconhecem e escolhem entre as recompensas oferecidas pelas flores.