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Ciência e Cultura
versão On-line ISSN 2317-6660
Cienc. Cult. vol.68 no.4 São Paulo out./dez. 2016
http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602016000400022
POESIA
Ricardo Lima
o que existia antes da vida
e o que virá depois estão dentro dela
nada conclui ou arruína
nenhuma razão
por descuido se contempla
as palavras sufocadas
e as estrelas
minutos de ontem e de amanhã
estão dentro dela.
é cedo
retiro pragas da grama
e molho os dedos
no que sobrou da noite
a manhã nasce clara e grave
árvore perdendo folhas
ressentimento
a margem do dia se afasta
aliso os lençóis
e dobro cobertores
na tentativa vã das últimas braçadas
é tarde.
quando o amor está distante
perde-se o horário nas escadas
medidas se misturam
sons do peito aliam-se ao rito das florestas
o caminho para casa não tem fim
quando o amor distante já não fala
perdem o sentido tapetes e sofá
a água suas pedras
perde a sombra sua árvore.
aos poucos aprendo
a imperfeição do mundo
e me afeiçoo a ela
não olho o céu
nem queimo a língua
acendo sem pudor
a sombra
num corpo que vesti
os livros de pé
com orelhas
e a capa fechada
sem chuva
só nuvem
suspeita
na carne
tremor.
Ricardo Lima nasceu em novembro de 1966 em Jardinópolis (SP). Autor de seis livros de poesia: Primeiro segundo (Arte Pau-Brasil, 1994), Chave de ferrugem (Nankin, 1999), Cinza ensolarada (Azougue, 2003), Impuro silêncio (Azougue, 2006), Pétala de lamparina (Ateliê, 2010) e Desconhecer (Ateliê, 2015), a que pertencem os poemas aqui selecionados. Publicou também Muitos - uma biografia de André Tosello (Editora da Unicamp, 2014) e é coautor, com Ricardo Molina, de O Brasil na fita (Record, 2016). É jornalista e vive em Campinas (SP).