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    Ciência e Cultura

    versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.69 no.1 São Paulo jan./mar. 2017

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602017000100007 

    NOTÍCIAS DO BRASIL
    CRISE ECONÔMICA

     

    Museus e centros de ciências ameaçados no país

     

     

    Jessica Norberto

     

     

     

    Nos últimos quinze anos, o país vivenciou o crescimento das áreas de divulgação científica e ensino não formal de ciências, fruto de políticas públicas voltadas à inclusão social. Editais de popularização da ciência lançados pelo antigo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com órgãos como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), com empresas do setor privado e com fundações de amparo à pesquisa de alguns estados (FAPs) foram cruciais para a inauguração de museus e centros de ciências em todas as regiões do país e a estruturação e diversificação de atividades dos já existentes. Em 2015, o Guia de Museus e Centros de Ciências, lançado pela Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências (ABCMC), listou 268 desses espaços no país. Hoje, no entanto, não se sabe ao certo quantos desses locais ainda estão abertos ao público. A crise econômica que o país enfrenta, além de inverter essa curva de crescimento, ameaça o futuro dos museus e centros de ciências.

    O presidente da ABCMC, José Ribamar Ferreira, afirma que "ainda não fizemos uma pesquisa atualizando a lista de museus de ciência em funcionamento no Brasil, mas temos conhecimento de várias instituições, algumas icônicas, como a Estação Ciência, da Universidade de São Paulo (USP), e o Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia, mantido pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), que vêm sofrendo longas interrupções no seu funcionamento e atualmente estão fechados, sem previsão de quando serão reabertos".

     

    ENCOLHIMENTO

    O Museu Ciência e Vida, inaugurado em 2010 pela Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio de Janeiro, vem tendo cortes nos recursos destinados a pagamento de pessoal e manutenção de infraestrutura por conta da crise financeira do estado. Com isso, os horários de funcionamento e o número de exposições e atividades foram reduzidos significativamente. Como afirma a sua diretora, Mônica Dahmouche, "Uma vez que os compromissos com os prestadores de serviço não são honrados, estes acabam por serem descontinuados comprometendo o funcionamento dos programas". "O impacto da redução dessas atividades é a diminuição do acesso a atividades de cultura e educação, a médio e longo prazo, pela população", lamenta.

    Situação semelhante acontece com a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, criada em 1972. Desde 2015, pesquisadores, funcionários e a população de Porto Alegre vêm protestando contra sua extinção anunciada pelo governador e, até o atual momento, não há uma definição sobre o seu futuro. Diante dessa realidade, é necessário agir para impedir novos recuos e buscar a retomada do desenvolvimento das políticas públicas para a popularização da ciência. José Ribamar explica que as sociedades científicas, como a SBPC e a ABC, assim como a ABCMC, também se manifestaram durante todo o processo, em reuniões com as autoridades do MCTIC, na comissão de C&T do Senado Federal e através de documentos, mas seus protestos foram solenemente ignorados. Douglas Falcão, pesquisador do Museu de Astronomia e Ciências Afins e último diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia (DEPDI) da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis), do antigo MCTI, acredita que "talvez o nosso maior desafio nos próximos anos não seja necessariamente a ampliação e melhor distribuição desses equipamentos culturais pelo território nacional e, sim, lutar para que as instituições existentes se mantenham".

     

    FUTURO INCERTO

    A extinção do DEPDI e da Secis com o Decreto 8877, de 18/10/2016, cujos papéis eram fundamentais para a manutenção de políticas públicas na área, agrava a situação e descortina um futuro incerto. Na nova estrutura, as ações de divulgação de ciência e tecnologia ficaram sob responsabilidade da Coordenação Geral de Popularização e Divulgação da Ciência, que, por sua vez, está vinculada ao Departamento de Políticas e Programas para Inclusão Social, no âmbito da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento. "O que está por vir dependerá essencialmente da vontade política do novo ministério", aponta Falcão.