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    Ciência e Cultura

    versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.70 no.3 São Paulo jul./sept. 2018

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602018000300008 

    ARTIGOS
    SBPC 70 ANOS
    APRESENTAÇÃO

     

    SBPC 70 anos

     

     

    Carlos VogtI; Ildeu de Castro MoreiraII; Vanderlan BolzaniIII

    IEditor-chefe da revista Ciência & Cultura
    IIPresidente da SBPC
    IIIVice-presidente da SBPC

     

     

    Setenta anos se passaram desde que um grupo de cientistas brasileiros, em julho de 1948, decidiu fundar uma sociedade para o fortalecimento da ciência nacional, nos moldes do que já havia em outros países. Em um contexto de pós-guerra, o mundo todo percebia a importância da ciência para o desenvolvimento econômico e social das nações. A trajetória da nossa Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) se confunde com a própria história do país das últimas sete décadas. A institucionalização do sistema de ciência e tecnologia e da pós-graduação nacional começou a ser solidificada nos anos seguintes da fundação da entidade, quando foram criados, no início da década de 1950, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com importante participação da SBPC. No domínio da educação a SBPC teve papel relevante na década seguinte, no estabelecimento da Lei de Diretrizes e Bases e na criação da Universidade de Brasília (UnB). Durante o regime militar, a SBPC teve um papel fundamental na luta pela democracia e direitos humanos no país, foi aguerrida e batalhou contra a perseguição de pesquisadores, professores e alunos. A realização da 77ª Reunião Anual, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), foi um marco da resistência contra as interferências que buscavam ferir a autonomia das universidades e dos institutos de pesquisa e pela redemocratização do país. Durante a Constituinte, a SBPC teve uma função importante na inserção de capítulos e artigos na Constituição sobre ciência, tecnologia, educação e direitos humanos. Empenhou-se, nos anos seguintes, no processo de criação das fundações de amparo à pesquisa (FAPs), que se espalharam por quase todos os estados brasileiros.

    Os 70 anos da SBPC estão sendo celebrados em todas as regiões do Brasil. É significativa a quantidade de eventos e reuniões comemorativas, que mais do que celebrar e resgatar a memória da SBPC dessas sete décadas, buscam também trazer propostas da comunidade científica para a construção de um país melhor. Exemplos são os seminários da série "Políticas públicas para o Brasil que queremos", que ao longo de 2018 têm reunido a comunidade acadêmica para debater e pensar em estratégias para a melhoria do país em áreas como educação - em todos os níveis -, desenvolvimento sustentável, Amazônia, saúde pública, direitos humanos, democratização da comunicação e, claro, ciência, tecnologia e inovação no Brasil.

    Neste Núcleo Temático celebramos os 70 anos da SBPC a partir de sete artigos que abordam assuntos diferentes, mas todos eles relacionados às diversas áreas de atuação da entidade ao longo da sua história. Não se trata, no entanto, de um compêndio de memórias, mas sim de análises e reflexões sobre os resultados e reflexos de ações da SBPC na ciência brasileira de hoje, ou discussões sobre o que já se fez e o que vem sendo feito mais recentemente para que o Brasil do futuro esteja de fato inserido em uma sociedade na qual o conhecimento científico e tecnológico deve ser um instrumento essencial para o desenvolvimento econômico, para a redução das desigualdades e para a melhoria da qualidade de vida para todos.

    Nos artigos que abrem o conjunto, dois grandes pesquisadores brasileiros relatam a sua experiência na SBPC. No primeiro deles, Isaac Roitman, professor emérito da UnB, relembra diferentes momentos de sua ativa participação, no início da década de 1990, quando foi representante da entidade no Movimento pela Ética na Política, que teve importante papel no impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello; e nos anos 2000, quando coordenou o Pacto pela Educação, projeto que trazia contribuições da SBPC para uma educação de qualidade no país. Roitman discorre, ainda, sobre a importância da SBPC Jovem para a divulgação e para a educação científica.

    Aldo Malavasi é outro pesquisador de reconhecimento mundial que teve a sua trajetória profundamente marcada pela atuação na SBPC. Ele participou da entidade de forma quase ininterrupta de 1993 a 2014, quando assumiu o cargo de diretor-geral adjunto de ciências e aplicações nucleares da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) da Organização das Nações Unidas (ONU), na Suíça. O geneticista conta como a sua experiência na SBPC influenciou a sua trajetória de pesquisa em genética de insetos e na sua carreira de gestor em C&T.

    A presença das mulheres na história da ciência brasileira é abordada no artigo de Hildete Pereira de Melo, docente do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), com colaboração de Ligia Rodrigues, pesquisadora do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). As duas são autoras do livro Pioneiras da ciência no Brasil, publicado em 2006 pela SBPC. O estudo, comentado e atualizado no artigo, mostrou a importância de várias mulheres, de diversas áreas científicas no país, que nem sempre tiveram a visibilidade que merecem.

    A pós-graduação, que tem um papel fundamental na formação de recursos humanos e na produção científica nacional, é tema de artigo de Carlos Alexandre Netto, docente do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e conselheiro da SBPC. Netto traz elementos do documento propositivo elaborado por uma comissão da SBPC, enviado em abril deste ano à Comissão Especial de Acompanhamento do Programa Nacional de Pós-Graduação (PNPG) da Capes, com uma proposta para a discussão de um novo modelo de avaliação da pós-graduação no país.

    Exemplo recente do comprometimento da SBPC com a formulação de políticas públicas no Brasil, a Política Nacional sobre Drogas é tema de artigo de Sidarta Ribeiro, professor titular e diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O texto traz um breve panorama sobre o uso de drogas no Brasil e no mundo e aponta a urgência da necessidade de inclusão do debate científico dessa questão na política nacional.

    Por último, mas não menos importante, a interação entre universidade e empresas é abordada no artigo de Elson Longo, professor emérito e titular do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e diretor do Centro para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF/Fapesp). O pesquisador, referência mundial na área de materiais cerâmicos, é um dos pioneiros no país em projetos cooperativos entre a academia e a indústria. Ele conta como, há 30 anos, uma parceria com a Companhia Brasileira de Metais e Metalurgia (CBMM) permitiu a construção do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec), onde centenas de estudantes já realizaram seus estudos, participando ativamente das pesquisas e desenvolvimento, com a indústria nacional, que resultaram na produção de novos conhecimentos.

    Que este Núcleo Temático inspire leituras proveitosas e debates enriquecedores, sempre escorados no conhecimento científico, como tem sido a marca registrada da SBPC nestas suas sete décadas de existência.