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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725

    Cienc. Cult. vol.70 no.4 São Paulo out./dez. 2018

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602018000400008 

    ARTIGOS
    CAATINGA

     

    Apresentação

     

     

    Marcelo Tabarelli; Inara R. Leal

    Professores associados do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

     

     

    A Caatinga nordestina continua a nos surpreender. A maior floresta seca neotropical conta novos segredos cada vez que a ciência se debruça sobre seus tesouros biológicos e culturais. Cresce o número de espécies endêmicas conhecidas, o registro de interações planta-animal sofisticadas, as conexões históricas com outros ecossistemas tropicais, a importância dos recursos da vegetação para a qualidade de vida do sertanejo. Mas cresce, também, o nosso entendimento sobre os processos que ameaçam esse patrimônio global e que podem minar, definitivamente, a possibilidade do semiárido nordestino alcançar uma sociedade sustentável na sua dimensão ecológica, econômica e social. A Caatinga precisa sair do imaginário coletivo como local de terra arrasada e de pessoas em extrema dificuldade. Neste Núcleo Temático dedicado à Caatinga, apresentamos ao leitor um panorama informativo, mas também provocador, sobre esse ambiente único através de seis artigos. O primeiro deles, introdutório, oferece uma pequena síntese sobre o legado do Caatinga, a trajetória de degradação dessa biota e os desafios rumo à sustentabilidade, em um contexto onde as mudanças climáticas devem impor impactos severos; homem e natureza estão abraçados na Caatinga. O artigo sobre a flora revela quão antiga e única é a Caatinga. Combinam-se velhas linhagens, compartilhadas com outras florestas secas no continente americano, com centenas de espécies endêmicas dessa biota, incluindo vários gêneros que evoluíram mais recentemente. A Caatinga não tem equivalente ecológico. O artigo sobre vertebrados ressalta, entre outros tantos aspectos, a Caatinga como uma das regiões mais biodiversas do mundo, embora ainda haja muito a ser descoberto. Como ressaltam os autores, das 20 espécies de anfíbios endêmicas da Caatinga, 16 foram descritas depois de 2006. O próximo artigo revela a miríade de interações complexas envolvendo, por exemplo, formigas e lagartos que dispersam sementes e as redes intrincadas entre beija-flores e cactos nativos. O bode, como principal herbívoro da Caatinga, aliado às formigas saúvas também merecem destaque em suas interações com as plantas nativas, pois estão intimamente relacionados às atividades humanas. Homem, conhecimento tradicional, uso de recursos naturais e adaptação se integram, como ressalta o artigo sobre o sistema socioecológico da Caatinga. Há uma necessidade urgente em restaurar milhares de hectares de terra já degradados do bioma; todavia, ainda nos faltam informações e tecnologias para fazê-lo de forma eficiente e economicamente viável. Restauração precisa dialogar com segurança hídrica, alimentar e climática. Finalmente, temos um retrato dos esforços de conservação com base em áreas protegidas na Caatinga - o menor esforço entre os ecossistemas brasileiros. Atualmente, são reconhecidas 282 áreas prioritárias para a conservação da Caatinga, com muitas oportunidades para o estabelecimento de novas unidades de conservação. Uma rede de unidades de conservação efetivamente implementada é requerimento básico para a sustentabilidade, e um ativo importante frente às mudanças climáticas. A sociedade sertaneja, mais do que nunca, precisa dos serviços ecossistêmicos oferecidos pela vegetação nativa. Esperamos que esta seção inspire os leitores e estimule uma postura mais ativa em defesa da Caatinga e da biodiversidade brasileira.