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    Ciência e Cultura

    versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.71 no.1 São Paulo jan./mar. 2019

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602019000100002 

    TENDÊNCIAS
    MEMÓRIA

     

    Sociedade brasileira para o progresso da ciência

     

     

    José Reis*

     

     

    No dia 8 de junho do ano passado cerca de 60 pessoas, atendendo a convite dos drs. Paulo Sawaya, José Reis, e Maurício Rocha e Silva, reuniram-se no auditório da Associação Paulista de Medicina na cidade de São Paulo, para cuidar da fundação de sociedade destinada a lutar pelo progresso e pela defesa da Ciência em nosso País. Movia-as o mesmo impulso que noutros países tem levado os cientistas e homens cultos à criação de órgãos semelhantes, como as centenárias associações inglesa e norte-americana, a francesa, a italiana, a argentina e outras.

    Nessa primeira reunião elegeu-se a comissão encarregada de redigir os estatutos, a qual composta dos professores Jorge Americano, F. J. Maffei, J. Ribeiro do Valle e dos doutores M. Rocha e Silva e J. Reis. O projeto elaborado foi discutido e aprovado, com emendas, no dia 8 de julho, e se acha hoje impresso e à disposição dos interessados. Na mesma ocasião foi eleita uma comissão executiva provisória para dirigir os destinos da Sociedade até as eleições gerais e posse da diretoria e do conselho. Integraram essa comissão, além das pessoas acima referidas, mais os professores H. da Rocha Lima, M. de Barros Erhart, O. Bier, P. Sawaya, L. Cintra do Prado, H. Hauptmann e os doutores A. Marchini e G. Rosenfeld.

     

     

    Assim nasceu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, cuja ata de fundação traz a data de 8 de julho de 1948. Ao mesmo tempo em que tomava as providências estatutárias para a realização das eleições, a comissão executiva provisória deu início ao programa cultural da Sociedade, com uma conferência do prof. Rocha Lima, proferida a 27 do mesmo mês no auditório da Biblioteca Municipal, cuja lotação ficou total esgotada, o que bem demonstra o auspicioso começo que teve a nova agremiação, assim como a falta, que em nosso meio se fazia agudamente sentir, de um órgão desse gênero. Outras conferências públicas seguiram-se a essa, em todas havendo oportunidade para debates das questões ventiladas pelo orador; sem exceção, constituíram notáveis acontecimentos em nossa vida científica, tendo algumas recebido o patrocínio conjunto de outras associações, como o Departamento de Cultura da Associação Paulista de Medicina e a Associação dos Ex-Alunos de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.

    Aos 8 de novembro empossaram-se a diretoria e o conselho eleitos na conformidade dos Estatutos, e assim constituídos: Presidente: J. Americano; Vice-presidente: M. Rocha e Silva; Secretário-Geral: J. Reis; Tesoureiro: P. Sawaya; Secretário: G. Rosenfeld. Conselho: O. Bier, M. Barros Erhart, F. J. Maffei, A. Carvalho e Silva, A. Dreyfus, L. Cintra do Prado, C. Chagas Filho, M. Ozório de Almeida, G. Vilela, J. Jesuino Maciel, e A. Marchini. Ao professor H. da Rocha Lima e ao doutor H. de Beaurepaire Aragão a Comissão Executiva Provisória, na reunião que precedeu as eleições, conferiu por unanimidade os títulos de presidentes honorários da Sociedade, de cujo Conselho passaram, por isso, a membros natos. No momento atual a SBPC possui 352 sócios, distribuídos pelas seguintes categorias: contribuintes, remidos, corporativos, benemérito e assinantes.

    A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência tem os seguintes objetivos gerais: a) justificação da ciência, mostrando ao público seus progressos, seus métodos de trabalho, suas aplicações e até mesmo suas limitações, buscando criar em todas as classes, e consequentemente na administração pública, atitude de compreensão, apoio e respeito para as atividades de pesquisa; b) robustecimento da organização científica nacional, pela melhor articulação dos cientistas, pelo seu mais íntimo conhecimento mútuo, numa tentativa de unir as diversas especialidades e dissipar eventuais incompreensões por meio de ações conjuntas, pelo incentivo à formação de novos pesquisadores e ainda pela remoção de entraves que oponham ao progresso da ciência; c) luta pela manutenção dos elevados padrões de conduta científica, e ao mesmo tempo combate à pseudo e à meia ciência, que tantas vezes tomam posições que deveriam pertencera à verdadeira ciência; d) assumir atitude definida e ativa de combate no sentido de assegurar, contra possíveis incompreensões, a liberdade de pesquisa, o direito do pesquisador aos meios indispensáveis de trabalho, à estabilidade para realização de seus programas de investigação, ao ambiente favorável à pesquisa desinteressada. Esses objetivos são assegurados por meio de conferências, reuniões conjuntas, colaboração com a imprensa e com todos os interessados e publicações capazes de atingir as diversas camadas sociais.

    A SBPC é sociedade de âmbito nacional, sem cor política ou religiosa. Seu primeiro núcleo tomou corpo em São Paulo. Outros núcleos, entretanto, já começaram a formar-se e transformar-se-ão, com o tempo, e de acordo com as realizações que apresentem, em divisões da Sociedade.

    Não é a SBPC uma sociedade de especialistas. Destas já existem várias, às quais a nova agremiação não fará concorrência, mas apoiará de todas as formas possíveis.

    É empresa em que os cientistas se irmanarão com os não cientistas, porém amantes da Ciência, buscando o prestígio crescente desta última e o progresso do País através do próprio progresso da ciência.

    ***

    Ciência & Cultura, que hoje se apresenta ao público científico e a todos os que se interessam pelos problemas da Ciência, é órgão da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Aparecerá quatro vezes por ano, com artigos e notas originais, além de variada informação que sirva para difundir não só os conhecimentos que a Ciência vai acumulando, mas também os dados relativos à projeção desses conhecimentos na sociedade. Espera ainda a revista, como órgão que é da SBPC, servir e aproximação dos cientistas entre si, e destes com o público, entre todos desenvolvendo forte e indispensável sentimento de solidariedade e compreensão.

     

     

    * Artigo de apresentação publicado na primeira edição da revista Ciência & Cultura, em janeiro de 1949 (Cien Cult, v. 1, n. 1-2).