SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.72 issue1 author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

    Related links

    • On index processCited by Google
    • Have no similar articlesSimilars in SciELO

    Share


    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725

    Cienc. Cult. vol.72 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2020

    http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602020000100015 

    ARTIGOS
    LITERATURA E CIÊNCIA

     

    Poemas de Ion Barbu

     

     

    Marco Lucchesi

    Coordenador deste Núcleo Temático, é poeta, romancista e ensaísta. Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui dezenas de livros publicados no Brasil e no exterior. Atualmente é o presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), onde ocupa a cadeira de nº. 15

     

     

    O matemático romeno Dan Barbilian (1895- 1961) adotou o pseudônimo Ion Barbu para distinguir o poeta do cientista. Sua vida traduz uma admirável conjunção entre a razão numérica e a linguagem criativa. Seguem aqui traduções provisórias que dediquei a um pequeno conjunto de seu Jogo segundo (1930), livro que nasceu clássico e rasgou novos horizontes na moderna poesia romena. Dedico os poemas em português ao maior intérprete de Ion Barbu, o professor e acadêmico Basarab Nicolescu.

     

    DIN CEAS, DEDUS

    Din ceas, dedus adâncul acestei calme creste,
    Intrată prin oglindă în mântuit azur,
    Tăind pe înecarea cirezilor agreste,
    În grupurile apei, un joc secund, mai pur.

    Nadir latent! Poetul ridică însumarea
    De harfe resfirate ce-n zbor invers le pierzi
    Şi cântec istoveşte: ascuns, cum numai marea
    Meduzele când plimbă sub clopotele verzi.

     

    DO TEMPO, DEDUZIDO

    Do tempo, deduzido o abismo de tão calma crista,
    Assomada no espelho, num azul maduro,
    A cortar a imersão dos rebanhos agrestes,
    Nos grupos de água, um jogo segundo, mais puro.

    Nadir latente! O poeta pôs-se a ampliar
    As harpas seminais, que em voo inverso perdes,
    E o canto cessa oculto: no seio do mar
    Divagam águas-vivas de corolas verdes.

     

    ÎNECATUL

    Fulger străin, desparte această piatră-adâncă;
    Văi agere, tăiaţi-mi o zi ca un ochean!
    Atlanticei sunt robul vibrat spre un mărgean,
    Încununat cu alge, clădit în praf de stâncă,

    Un trunchi cu prăpădite crăci vechi, ce stau să pice,
    Din care alte ramuri, armate-n şerpi lemnoşi,
    Bat apele, din care baia albastră să despice
    Limbi verzi, şuierătoare, prin dinţii veninoşi.

     

    O AFOGADO

    Um raio singular desbasta a pedra funda;
    Vales, cortai-me um dia como um oceano!
    Sou do Atlântico um servo, coral soberano,
    Ungido de algas, que o pó das rochas fecunda.

    Um tronco: os velhos ramos prestes a morrer,
    Outros, armados como de ofídios lenhosos,
    As águas batem para o espaço azul romper
    Com línguas verdes, silvos, dentes venenosos.

     

    POARTĂ

    Suflete-în pătratul zilei se conjugă.
    Pașii lor sunt muzici, imnurile - rugă.
    Patru scoici, cu fumuri de iarbă de mare,
    Vindecă de noapte steaua-în tremurare.

    Pe slujite vinuri firimitură-i astru'.
    Munții-în Spirit, lucruri într-un Pod albastru.
    Raiuri divulgate! Îngerii trimeși
    Fulgeră Sodomei fructul de măceș.

     

    PORTA

    Almas conjugam-se no quadrado do dia,
    Seus hinos, oração; os passos, harmonia.
    Quatro conchas em vapores de alga marinha,
    Livram da noite a estrela trêmula e sozinha.

    O astro: migalha no vinho versado em taças.
    Montes no Espírito, pontes azuis esparsas.
    Paraísos difusos! Anjos iluminam
    Sodoma, e fulge o fruto da rosa canina.

     

    TIMBRU

    Cimpoiul veşted luncii, sau fluierul în drum,
    Durerea divizată o sună -încet, mai tare...
    Dar piatra-în rugaciune, a humei despuiare
    Si unda logodita logodită sub cer, vor spune - cum?

    Ar trebui un cântec incapator, precum
    foşnirea mătăsoasă a mărilor cu sare;
    Ori laudă grădinii de ingeri, când rasare
    Din coasta barbateasca al Evei trunchi de fum.

     

    TIMBRE

    O pífano olvidado e a gaita sem vigor,
    Sussurram sua mágoa ou cantam sem medida...
    Mas a pedra em oração, da argila despida,
    E a onda, noiva sob o céu, que irão dizer?

    Seria preciso haver um canto ingente,
    O sedoso rumor do sal com o mar;
    A loa do jardim dos anjos, o assomar,
    na costela viril, o torso de Eva ardente.