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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.74 no.4 São Paulo dic. 2022

    http://dx.doi.org/10.5935/2317-6660.20220068 

    10.5935/2317-6660.20220068 OPINIÃO

     

    As ciências, a cultura e as artes rompem o atraso: setores estimulam a reflexão e o avanço da sociedade

     

     

    Ana de Hollanda

    Cantora, compositora, produtora, diretora teatral, roteirista, atriz e dramaturga brasileira. Foi diretora do Centro de Música da Funarte, vice-presidente do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (RJ) e Ministra da Cultura entre janeiro de 2011 e setembro de 2012

     

     

    Introdução

    As ciências, as artes e a cultura são setores que exigem um permanente exercício de reflexão dialética, que culmina frequentemente com um processo de renovação de ideias e criações variadas para além das habituais perspectivas. Se por um aspecto, as ciências têm como foco a busca de verdades até então desconhecidas, assim como novas descobertas e revoluções científicas, as artes e a cultura contam com uma liberdade sem limites para elaborar sua própria realidade, nem sempre bela, nem sempre positiva e, frequentemente, incômoda. Nesse sentido, o conceito de estética na cultura foge aos padrões tradicionais e abre caminhos para outra forma de introduzir o inovador, o inusitado ou o excêntrico, estimulado por uma ânsia de que o incômodo estimule uma estranha reflexão. Isso vem acontecendo há séculos, mas se acentuou bastante à medida que as artes foram se liberando da ditadura das academias. Essa insurreição se destacou prioritariamente nas ciências, nas artes plásticas, na música, na literatura, e nas artes cênicas. As rupturas estilísticas frequentemente partem da obra de um ou de um pequeno grupo de artistas para, em seguida, se refletir em outras, da mesma ou de linguagens diferentes.

    Sem dúvidas, o acontecimento mais definitivo da Idade Moderna foi a Revolução Científica no século XVII. A ciência que começou a se manifestar e dar seus primeiros passos através da tecnologia e da formulação teórica foi, gradativamente, ocupando espaço entre os pensadores a partir da decadência da Idade Média.

    Os avanços científicos culminaram com uma ruptura surpreendente que se deu na Europa, desenvolvido por seres de intelecto e sensibilidade, sem dúvida, privilegiados, sendo alguns incrivelmente inclinados para as artes - que possuíam vieses inovadores. Como exemplo, não posso deixar de citar, entre outros, Leonardo Da Vinci, Galileu Galilei, Charles Darwin, Albert Einstein, Isaac Newton e Louis Pasteur.

    Nesse período de transição entre a idade média e a moderna, mais precisamente entre os séculos XIV e XVII, deu-se o Renascimento, o maior movimento renovador de que se tem conhecimento nas artes, até então era rigidamente subordinada às cláusulas da Igreja Católica. O remodelamento científico e cultural também exerceu forte influência nas relações políticas e econômicas na Europa inteira, quando os primeiros sinais capitalistas passaram a substituir o feudalismo.

    "As ciências, as artes e a cultura são setores que exigem um permanente exercício de reflexão dialética, que culmina frequentemente com um processo de renovação de ideias e criações variadas para além das habituais perspectivas."

    Foi quando as artes plásticas e cênicas, a literatura e a música passaram a expressar sentimentos humanistas e o modo de ser, sentir e viver dos vários povos. Entendendo a cultura como o genuíno reflexo do pensar, do sentir, do expressar, compreende-se a mudança de foco na direção da população (Figura 1).

     

     

    "A criatividade está no cerne de todo e qualquer avanço."

    Simultaneamente, o planeta vivia a descoberta de outros continentes, povos, culturas além de vegetais e minerais que revelaram um inimaginável horizonte que abriu panoramas para uma nova vida, inspirações e novas experiências científicas.

    Não há dúvida de que essas descobertas revelaram a necessidade de se explorar a criatividade artística e científica, uma vez que a criatividade está no cerne de todo e qualquer avanço.

    Se dirigentes autocráticos encaram a singularidade como um desafio a ser vedado, por portar a capacidade de superar soluções rudimentares, a arte, a cultura e as ciências não se sujeitam a tal limitação, uma vez que, com todos os problemas científicos já detectados no mundo inteiro, não há mais condições do regresso à Idade Média.