NANOTECNOLOGIA
Desafio brasileiro é não perder o "bonde" mundial
Uma "língua eletrônica" capaz de diferenciar vinhos de acordo com a safra, o tipo de uva e o produtor, ou de atestar a qualidade dos cafés brasileiros, está entre os produtos desenvolvidos no país com base na nanotecnologia: as unidades sensoriais da "língua" são compostas por filmes nanoestruturados. Embora envolva as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação de materiais em um mundo na escala típica dos átomos e moléculas, de um bilionésimo de metro, a área de nanociência e nanotecnologia (N&N) conta com investimentos mundiais que somaram US$ 5,5 bilhões, em 2002. Estima-se que, em 10 ou 15 anos, o mercado global de produtos e processos baseados nessa tecnologia alcance US$ 1 trilhão por ano.
No Brasil, o programa para a área foi implantado em 2001 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com um edital para apresentação de projetos, que resultou na formação de quatro redes cooperativas de pesquisa: materiais nanoestruturados, nanodispositivos semicondutores, nanotecnologia molecular e de interfaces e nanobiotecnologia. Além dessa estrutura de redes, atuam na área três dos 17 Institutos do Milênio, criados pelo MCT.
]]> Um balanço do funcionamento das quatro redes mostrou que foram publicados cerca de 1,1 mil artigos em periódicos internacionais, depositadas 17 patentes e realizadas mais de 200 apresentações e palestras em conferências internacionais durante todo o ano de 2002. Na opinião de Fernando Galembeck, que coordenou a elaboração do programa do Plano Plurianual (PPA) para a área para o período de 2004-2007, "os padrões de funcionamento das redes são diferentes: algumas são fortemente integradas, outras têm uma espécie de sub-redes internas, mas a principal missão delas, que é integrar esforços de grupos diferentes, está sendo bem cumprida".
A OPÇÃO POR REDES José Antônio Brum, diretor da Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS), que opera o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), e que foi um dos vice-coordenadores da rede de materiais nanoestruturados (Nanoest), considera que é difícil avaliar o trabalho das redes, uma vez que "elas não tiveram um propósito ou um objetivo bem definido, inicialmente". No caso da Nanoest, Brum conta que seus membros se propuseram a realizar uma prospecção dos trabalhos existentes e promover interações entre eles, objetivos que foram alcançados. Embora algumas redes tenham seguido enfoques um pouco diferentes, também obtiveram grande produção científica e de qualidade. "Os resultados decorreram mais de trabalhos já existentes na área, do que da estrutura de redes, uma vez que a pesquisa requer tempo", considera. "Pela sua variedade e estágio de desenvolvimento, a nanotecnologia é uma área em que o Brasil deve atuar, de forma coordenada e planejada, buscando nichos onde possa atuar com sucesso", defende o diretor da ABTLuS.
Galembeck, porém, acrescenta que o programa do PPA proposto mantém e amplia em mais duas essa estrutura de redes e prevê um investimento total de cerca de R$ 400 milhões. O coordenador destaca a proposta da criação no país de um centro de tecnologia do silício, com início de investimento previsto para este ano e que deve ter as primeiras unidades operando em 2006. "Uma das áreas em que o Brasil não conseguiu se sair bem foi a microeletrônica. Como o material melhor dominado no mundo na escala nanométrica, por causa da microeletrônica, é o silício monocristalino, vamos ter que pagar a dívida com o passado", explica.
Maria Carolina Aguiar
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