A sociedade brasileira passa por momentos importantes na definição dos cenários futuros da pesquisa e do desenvolvimento no país. A Lei de Inovação é um dos elementos que ajudarão a compor as paisagens desses futuros ao estabelecer um marco legal que permite uma maior flexibilização das relações entre o setor acadêmico e o setor empresarial, vale dizer, entre os atores sociais produtores de conhecimento e os que podem converter esse conhecimento em riqueza, agregando-lhe valor econômico e comercial por sua transformação, pela via da inovação tecnológica, em produto competitivo nos mercados nacionais e internacionais.
Outro marco legal indispensável a um desenho mais favorável da pesquisa e do desenvolvimento no país é, sem dúvida, a Lei de Biossegurança, em tramitação no Congresso e que tem recebido várias críticas e sugestões construtivas da comunidade científica nacional, entre elas a de que deve dissociar em textos de lei distintos, para melhor tratamento, a questão dos organismos geneticamente modificados (OGMs) da questão das células-tronco. O uso de células-tronco para pesquisa e para fins de tratamento de pacientes tem sido bastante discutido no país e no mundo.
Nesse sentido, vários pesquisadores têm chamado a atenção para a confusão conceitual entre clonagem reprodutiva, clonagem terapêutica e terapia celular com células-tronco. Países como Canadá, Japão, Austrália, Israel e a maior parte dos países da União Européia aprovaram a permissão de pesquisas com células-tronco embrionárias obtidas por transferência de núcleo. Recentemente, conforme anunciado na revista Science por um grupo coreano de cientistas, foi possível a obtenção de células-tronco pluripotentes a partir dessa técnica de clonagem terapêutica.
O tema é, pois, crucial para o desenvolvimento científico do país nesse domínio do conhecimento. A ele estão dedicados os artigos que compõem o Núcleo Temático, sob a coordenação da professora Mayana Zatz, deste número de Ciência e Cultura.
Informações, reportagens, notícias sobre o mundo científico e o Brasil cultural, prosa e poesia completam o cenário presente desta revista atual.
CARLOS VOGT
Editor Chefe, julho de 2004