QUÍMICA
Busca de maior eficiência no combate ao câncer
Obter uma formulação que melhore a ação dos quimioterápicos utilizados no tratamento de pacientes com câncer é o objetivo da pesquisa desenvolvida pela farmacêutica Carmem Veríssima, do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com a Universidade de Gronigen, na Holanda. Os resultados preliminares mostram que é possível diminuir em até 20 vezes a quantidade de medicamento, o que melhoraria consideravelmente a qualidade de vida do indivíduo em tratamento.
A quimioterapia é uma associação de remédios que o paciente recebe por via intravenosa ou por via oral. Num determinado estágio do tratamento, entretanto, devido a um processo ainda pouco conhecido, as células tumorais submetidas à terapia desenvolvem mecanismos de resistência. Elas passam, então, a rejeitar o medicamento e bombeá-lo para fora. Os médicos precisam, então, aumentar a quantidade da medicação para que a célula aproveite uma percentagem mínima dos chamados antineoplásicos. A conseqüência danosa desse processo é o aumento de efeitos colaterais. O objetivo da quimioterapia é impedir a replicação das células tumorais e levá-las à morte. Porém, como seu efeito tem ação direta no crescimento celular, todas as células do organismo estão suscetíveis a sofrer com a quimioterapia. "Algumas drogas são tóxicas para o rim, outras para o fígado, o coração, cérebro ou para os nervos. Os efeitos colaterais mais evidentes são a queda de cabelo (alopécia), a náusea e o vômito", explica Emerson Gatti, oncopediatra do Centro Infantil Boldrini, referência no tratamento de câncer infantil.
INIBIDOR DA FOSFATASE O foco da pesquisa da Unicamp é um grupo de proteínas chamadas fosfatases, importantes no processo de proliferação celular. "Comparando dois grupos de células leucêmicas, um deles já no processo de resistência à quimioterapia e o outro ainda não, percebemos que nas células resistentes havia um nível maior de proteína fosfatase", diz Carmem. O passo seguinte foi isolar o tipo específico de proteína fosfatase responsável pela resistência à terapia por meio de técnicas de biologia molecular. "A partir disso pudemos criar um composto para inibir a ação da proteína na célula, melhorando, portanto, a eficiência do tratamento com quimioterápicos", completa.
]]> Os tumores são divididos em dois grandes tipos: os líquidos que englobam as leucemias e linfomas, e os sólidos, que ocorrem em órgãos do corpo humano. Além de trabalhar com células leucêmicas, o grupo de pesquisa do IB fez testes também em células tumorais de câncer de próstata e de pâncreas para checar se o processo com inibidores ocorria em tumores do tipo sólido. Os resultados dos testes, até agora apenas in vitro, foram positivos.A pesquisadora enfatiza, entretanto, que não se trata de um novo quimioterápico, mas de uma formulação que combina os quimioterápicos tradicionais com um inibidor da proteína fosfatase. O principal ganho é que com o uso do inibidor nos testes in vitro, o quimioterápico passou a ser ministrado em doses mais de 20 vezes menores e por menos tempo. "Isso poderá ajudar a diminuir os efeitos colaterais desses fármacos, melhorando a qualidade de vida do paciente e menor custo no tratamento", ressalta a pesquisadora.
Patrícia Mariuzzo
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